Pedro Victor aguardou ansiosamente para fazer o alistamento eleitoral, ainda em novembro do ano passado, quando foi divulgado o serviço. O processo, que agora pode ser realizado de forma online pelo sistema TítuloNet, ficou congestionado na primeira semana pela quantidade de acessos – o garoto de 16 anos, estudante do ensino médio, demorou quase 15 dias para conseguir acessar a página.
A procura e urgência em obter o documento que garante o voto, contudo, não durou muito. Após três meses da divulgação do serviço, o engajamento de menores de idade aptos a votar é apenas 10% do total, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – o quantitativo revela o maior desinteresse dos jovens dos últimos 30 anos.
Faltando pouco mais de seis meses para as eleições, o alistamento eleitoral de jovens de 16 a 17 anos, que vão votar pela primeira vez, ainda está abaixo do esperado. Em janeiro, apenas 731 mil cidadãos dessa faixa etária – para qual o voto ainda não é obrigatório – tinham se cadastrado. O desinteresse dos jovens é notório se comparado ao mesmo período, em 2020, quando já havia quase um milhão de jovens aptos a votar em todo o Brasil.
O Piauí não foge à regra nacional. Durante os três meses de abertura do sistema de voto, pouco mais de 20 mil jovens buscaram emitir seus títulos por aqui. Adolescentes de 17 anos representam cerca de 15 mil desse quantitativo, enquanto jovens de 16, são apenas cinco mil – quase três vezes menor. Os dados foram solicitados pelo oestadodopiaui.com ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Piauí.
Na distinção por gênero, homens e mulheres têm quase a mesma proporção de emissão dos títulos eleitorais – com um leve aumento da procura entre o gênero feminino.
Em 2020, cerca de 1.997.252 piauienses foram obrigados a votar. Entre os eleitores com voto obrigatório, a maior parte está na faixa etária de 25 a 59 anos, com quase 65% do total do eleitorado piauiense.
No estado não há dados específicos sobre a quantidade de eleitores cuja participação nas eleições não é obrigatória. Mas, para se ter uma ideia, os dados da Justiça Eleitoral apontam que, na última eleição, dos 2,4 milhões de votos, 458.682 foram de pessoas com votos facultativos – ou seja, aquelas que optaram por participar do processo eleitoral – são eles adolescentes com 16 e 17 anos e idosos com mais de 70 anos e também analfabetos.
A cada nova eleição, a cobrança pela participação de jovens no processo eleitoral vem à tona. Além da possível apatia de cada geração, uma pesquisa feita pelo Instituto Inteligência e Consultoria (Ipec) mostrou que 60% dos jovens preferem não comentar políticas nas redes sociais por medo de “cancelamento” – o fenômeno foi batizado de “efeito Anitta”.
O estudo mostrou também que, entre os jovens com até 18 anos e sem título de eleitor, 82% pretendem tirar o documento para votar este ano. A maior parte (29%) está motivada a fazê-lo por considerar que o momento político é preocupante. Apenas 2% disseram que não pretendem tirar o título de eleitor porque acreditam que seu voto não faz diferença no processo.
A cientista política Beatriz Paiva destaca que, apesar dos jovens fazerem parte do maior contexto de socialização de informações pelo meio digital – principalmente através das redes sociais -, eles ainda se sentem distantes das tomadas de decisões. É dentro desse cenário digital, aliás, que se fortalecem campanhas de desinformação e a banalização da política. Soma-se a isso o fato de não está enraizado na educação dos jovens a importância da consciência política no processo democrático.
Beatriz compara que, entre os 16 e os 18 anos, o imaginário social empurra jovens para dirigir, trabalhar e entrar na universidade. Apesar de importantes na vida social, esses ritos ganham mais relevância do que o impulsionamento ao primeiro voto. Para reverter esse cenário, não apenas a divulgação da obtenção do documento para acessar outros serviços basta, mas é preciso também engajar os jovens no processo eleitoral como um todo – antes e depois das urnas. “Os jovens não são apenas um quantitativo, um número, uma massa de votos”, destaca. “Eles precisam saber disso e se sentirem motivados ao processo eleitoral, se sentindo parte e não meros votos”, complementa a cientista.
Possíveis saídas para esse cenário é aproveitar o habitat natural da maioria dos jovens: as redes sociais. Beatriz explica que apesar do contexto de desinformação, ainda é pelo Instagram, Facebook, Twitter – e mais recentemente o Tik Tok – que os jovens costumam se atualizar dos debates. Para além da divulgação de serviços, a publicização de conteúdos políticos e que possam aproximar os jovens da temática já provoca uma virada de chave no posicionamento das próximas gerações.
A cara do eleitor
Os dados da Justiça Eleitoral ajudam a entender um pouco o perfil dos eleitores piauienses, sendo ele, majoritariamente formado por mulheres com idade entre 25 a 59 anos. As mulheres são maioria do eleitorado, representando 51,7% do total e somando 1.269.768. Os homens somam 1.186.166 eleitores, sendo 48,3% do total. Os homens piauienses, no entanto, só são maioria entre os eleitores até os 24 anos de idade.
Uma porcentagem de 0,12% do eleitorado não informou o gênero com o qual se identificam algo em torno de 3.096 eleitores. Em todo o Brasil, esse número é de 40.457 pessoas, representando 0,03% do eleitorado brasileiro. Desde 2018 a Justiça Eleitoral passou a permitir o uso do nome social no título de eleitor e, nestas eleições, 9.985 pessoas devem fazer valer esse direito.
A maior parte do eleitorado piauiense informou ter o ensino fundamental incompleto (583.425), o que representa 23,75% dos eleitores. Quase 8% dos eleitores possuem ensino superior, chegando a 188.434. Porém, esse número é ainda menor que o de eleitores analfabetos, cujo total é 219.411 – ou 8,9% dos eleitores. Um ponto peculiar no eleitorado piauiense é que, uma pequena porcentagem, algo em torno de 0,5%, está filiada a algum partido político. São exatamente 310.445 eleitores ligados a uma sigla – a maioria inscritas no MDB (13%), PT (9.7%) e PP (8,6%).
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