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O silêncio que mata

No Brasil, 12 mil pessoas cometem suicídio por ano; para estudiosos, tema é "solitário e muito julgado"

16 de julho de 2021

Edição Luana Sena

A morte inesperada do ex-prefeito de Teresina, Firmino Filho, no dia 6 de abril deste ano, comoveu a cidade principalmente pela circunstância em que ocorreu. Quase três meses depois, o inquérito foi arquivado por ausência de tipicidade penal – consta que a causa da morte foi suicídio. Apesar de ser uma questão de saúde pública, o ato de tirar a própria vida é um dos tabus que permeiam o imaginário da sociedade, rodeado por abordagens ingênuas, preconceituosas, descuidadas e até sensacionalistas. 

Segundo o psicólogo Jhonny Santos, para tratar sobre o bem estar e qualquer transtorno mental é necessário o desenvolvimento efetivo de políticas públicas sobre prevenção e atenção de familiares. “Incluir mais campanhas de prevenção, expandir a rede de acesso dos serviços de saúde mental e realizar intervenções educativas são essenciais”, aponta.

Entretanto, em Teresina, com exceção dos serviços de atendimento desenvolvidos nos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) e no Provida, ambulatório para atender pessoas com ideação suicida, o poder público pouco trata sobre o tema. A coordenação de Saúde Mental em Teresina informa que, por conta da pandemia, nenhuma ação ou campanha foi desenvolvida sobre a temática desde a posse da nova gestão. 

Um silêncio que, para a terapeuta Paula Fontenele, que estuda a literatura sobre luto do suicídio, é um problema tanto para quem tem ideação suicida quanto para as famílias das vítimas. ”Há um estigma muito grande e isso prejudica”, diz. O pai de Paula suicidou-se há 16 anos e, ao lembrar sua própria experiência de luto, pensa no pacto coletivo de não falar sobre o assunto. “Quando falava com amigos sobre a morte do meu pai e usava a palavra suicídio as pessoas pediam para eu não utilizar esta palavra”, relembra. “É solitário e muito julgado”.

Por ano, de acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), 12 mil pessoas cometem suicídio no país. O principal fator dessas mortes são os transtornos mentais, sendo a depressão um dos maiores fatores de risco. Os dados podem ser incertos já que muitos países, sendo o Brasil um deles, possuem subnotificações.  

Falar sobre o assunto difundindo informação de maneira apropriada pode ser, segundo a própria Organização Mundial de Saúde, uma maneira de conseguir eficácia em campanhas de prevenção – os meios de comunicação podem ter papel ativo na queda de mortes evitáveis, uma vez que para cada suicídio efetivo, existem 20 tentativas frustradas. 

Discutir sobre saúde mental e suicídio também é debater suas causas sociais. As situações impostas pela pandemia como aumento de violência doméstica, distanciamento social, desemprego e outras circunstâncias, para a especialista, “desmascarou um problema já existente”. E, apesar de não existir uma consonância estruturada, Paula elenca três importantes alertas: os sinais verbais, sintomas de depressão – mudanças bruscas de humor, recolhimento, tristeza, ansiedade, uso de substâncias tóxicas, agitação (insônia) e desesperança – além da elaboração de planos para determinar as chances de autoextermínio.

Na maioria das vezes, a iniciativa de buscar tratamento precisa do auxílio e apoio de familiares e amigos. De acordo com o psicólogo Jhonny Santos, escutar e acolher a pessoa pode fazer toda a diferença. “Além de incentivar a procura por ajuda profissional e a manter o tratamento”, pontua.

ONDE PROCURAR AJUDA:

  • Teresina

Centro de Valorização da Vida (CVV):188

01 CAPS AD (Atendimento a pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas) Rua Quintino Bocaiúva, 2978 – Bairro: Macaúba – Fone (86) 3215-7762

01 CAPS III (Atendimento a pessoas com transtornos mentais graves, agudos e persistente com funcionamento – 24h)  Rua Costa Rica nº 466 – Bairro Cidade Nova – Fone (86)3221-0092/3221-6422.

CAPS II: Atendimento a adultos, crianças e adolescentes com transtorno mental grave e persistente

Floriano – (89) 3521-3490

São Raimundo Nonato – (89) 3582-1206

Piripiri – (86) 3276-4527

Parnaíba – (86) 3315-1153

Paulistana – (89) 99439-9603

Picos – (89) 3422-9867

CAPS AD II: Atendimento a adultos, crianças e adolescentes que fazem uso de álcool e outras drogas

Bom Jesus – (89) 9979-4322

Oeiras – (89) 3462-3772

Paulistana – (89) 99439-9579

Picos – (89) 3465-1453

Piripiri – (86) 3276-4670

Valença – (89) 3465-1453

 

CAPS : Atendimento a crianças e adolescentes com transtornos mentais graves e persistentes

 Paulistana – (89) 99439-9603

 

CAPS AD III: Atenção Integral a pessoas relacionadas ao consumo de crack e outras drogas, com funcionamento 24 horas, todos os dias da semana

Floriano (89) 3515-1012

Parnaíba – (86) 3222-2090

sexta-feira, 1 de novembro de 2024
Categorias: Reportagem

Camila Santos

Graduanda em jornalismo na Universidade Federal do Piauí.

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