50 municípios piauienses tiveram situação de emergência decretada por causa da seca – desses, 34 foram reconhecidas pelo Governo Federal. O reconhecimento de situação de emergência possibilita a realização de compras para o combate à seca sem a realização de licitações por parte dos municípios.
Veja abaixo as cidades piauienses em situação de emergência:
A cidade de Avelino Lopes, localizada a 859 quilômetros de Teresina, faz parte da região mais afetada pela seca no estado, o extremo sul piauiense. Avelino tem cerca de 20 localidades – zonas rural do município – que sofrem com a falta de água para o consumo próprio, criação de gado e plantação.
A cidade possui um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, tendo sua economia historicamente ligada à agricultura familiar e agropecuária, altamente prejudicada com a irregularidade das chuvas. Para contornar a falta de chuvas, a prefeitura da cidade disponibilizou um carro-pipa para abastecer as cisternas das famílias nas localidades mais prejudicadas.
O transporte, que chega a percorrer até duas horas e meia para chegar aos locais mais distantes, atende de três a sete comunidades por dia. Apesar disso, o secretário de meio ambiente do município, Herberto Angelino Pereira, reconhece que não tem água para todos. “Os lugares que mais procuram são os que levamos o caminhão. Há lugares que não conseguimos chegar”, afirma, completando em seguida: “Estamos gritando por socorro”.
A distribuição de água acontece por agendamento e atende às comunidades de acordo com a própria necessidade. A prefeitura afirma que uma cisterna cheia, com capacidade para 15 mil litros, é capaz de suprir as necessidades de uma família inteira por cerca de dois meses. Mas para o agricultor Geraldino Nunes de Sousa e sua família, composta por quatro pessoas, a água de 12 mil litros que compram para garantir a sua sobrevivência e a dos animais, dura apenas quinze dias.
O gasto quinzenal de R$130 reais soma-se a outros prejuízos adquiridos pela insuficiência das chuvas. Este ano, o agricultor perdeu o investimento que fez para a plantação de milho, calculado em dois mil reais. “A falta de água dificulta o serviço, a gente tenta fazer uma coisa e não consegue, tentamos plantar ou irrigar e não dá”, lamenta. A plantação de Dino, como é conhecido, é feita para consumo próprio, assim como a criação que também está sob risco com a falta de água.
No caso de Avelino Lopes, a prefeitura realizou um pedido para o Governo do Estado de um caminhão-pipa que ainda não foi entregue. De acordo com André Ailton, membro do setor de engenharia da Defesa Civil, o caminhão-pipa está sendo viabilizado para que possa ser atendido. A Defesa Civil afirma ainda que está à espera de recursos federais para auxiliar os municípios.
Período de estiagem pode ser mais intenso no Piauí
Segundo o último relatório do Monitoramento de Secas da Agência Nacional de Água (ANA) referente a junho de 2021, na região Nordeste houve um agravamento da seca por conta do nível de chuvas, abaixo da média. No Piauí, a seca se intensificou na região central do estado, passando de moderada a grave. Ainda em relação ao mês de junho, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), apontou que o Piauí é um dos estados mais afetados com a seca extrema, junto com Minas Gerais, São Paulo e Maranhão.
Entre as produções mais afetadas pela seca no estado, estão as lavouras que possuem um ciclo vegetativo longo e que, portanto, precisam de um período mais prolongado de chuvas. “A gente observa muito os prejuízos provocados na cultura do milho, por exemplo”, comenta Werton Costa. Além disso, a seca afeta a pecuária e também o abastecimento de água.
No Brasil, o período de estiagem é considerado a partir de alguns fatores como a irregularidade das chuvas e o encerramento precoce da estação chuvosa. “É isso que vai aferir o nível de estiagem que nós estamos vivenciando”, explica o climatologista Werton Costa.
ONU afirma que seca pode ser tornar a nova pandemia
As secas geram impactos profundos e subestimados nas sociedades e contribuem para a insegurança alimentar, a pobreza e a desigualdade. É o que aponta relatório especial organizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o assunto.
Divulgado recentemente, o documento alerta que a seca pode se tornar a próxima pandemia. Isso pode ocorrer caso países, como o Brasil, não tomem medidas urgentes para enfrentar a emergência climática.
O relatório da ONU aponta que pelo menos 1,5 bilhão de pessoas foram diretamente afetadas pela seca neste século, o que gerou um custo econômico estimado em US$124 bilhões – o valor pode ser ainda maior, considerando o impacto nos países em desenvolvimento que não entraram na estimativa.
O período da seca e suas consequências se repete ano após ano. Entretanto, seus efeitos vêm se agravando, sobretudo, para aqueles grupos de pessoas e municípios que são diretamente afetados pela estiagem. “Os efeitos mais severos da seca recaem sobre as camadas mais pobres da população, que contam com poucos mecanismos para minimizar os efeitos, seja na aquisição de alimentos, no cuidado dos animais ou no próprio consumo de água”, lamenta Paulo Henrique Bueno, professor de geografia e pesquisador de políticas sociais.
As alternativas para amenizar os efeitos provocados pela seca devem passar, inevitavelmente, por ações da sociedade e dos governos, voltadas para a convivência e estratégias de enfrentamento mais rígidas. É o que afirma Paulo Henrique: “Seja com obras de infraestrutura que tragam formas de abastecimento das populações, seja com implementação de políticas públicas que visem dinamizar as economias locais com geração de emprego e renda, seja com investimentos nas áreas educacionais e de saúde”, conclui.
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