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“Sou filho da revolução social”

Advogado de Guaribas que conheceu Lula em 2003 reencontra o ex-presidente em visita ao Piauí

17 de agosto de 2021

A terra e a enxada foram as primeiras alternativas apresentadas a Natanael Alves, nascido e criado em Guaribas, no sul do Piauí. Com altos índices de analfabetismo e pobreza, em 2003, o município foi escolhido para ser o primeiro do país a receber o benefício do Programa Fome Zero. Sem rede elétrica e poucas casas com fogão a gás, Natanael declara que sua infância não foi diferente de nenhum outro morador da cidade nascido nos anos 90. Porém, com as políticas públicas dos primeiros anos do governo Lula, ele faz parte da primeira geração de guaribanos a ter acesso à comida no prato e educação. 

Quase duas décadas depois de discursar em um fórum de desenvolvimento das cidades piauienses, quando encontrou pela primeira vez o presidente petista, Natanael reencontrou Lula, hoje (17), em sua passagem pelo Piauí. Durante solenidade no Centro Educacional em Tempo Integral do bairro Pedra Mole, na zona leste de Teresina, ele discursou em público:  “A educação é a maior arma que um governo pode ter”, disse, emocionado. “Ela emancipa o povo”.

Natanael pertence a uma família de pais agricultores e chegou a trabalhar na roça em plantações de arroz, feijão, milho e abóbora – uma jornada que começava no início da manhã e ia até o fim da tarde. Livros e acesso à informação nunca foram a realidade dele e dos três irmãos, porém, com a chegada das escolas de ensino fundamental e médio na cidade, a roça deixou de ser a única opção. “Sou filho da revolução social que esse país experimentou quando governado por um homem nordestino e pobre”, declara.  

Hoje, advogado e formado em Direito pela tradicional Faculdade Campos Sales no bairro Leme, zona oeste de São Paulo, através das bolsas do Programa Universidade para Todos (Prouni), o advogado lembra que encontrar o ex-presidente resgatou a mesma emoção que sentiu quando, ainda adolescente, frente aos representantes municipais do Piauí, falou sobre a realidade da sua região. “Estão acreditando na mudança do Piauí”, disse, na ocasião.

Em 2003, durante o primeiro mandato do petista, a cidade onde Natanael nasceu, era um dos lugares mais pobres e isolados do semiárido brasileiro. Tinha, à época, o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil (0,214) e a taxa de mortalidade infantil era de 43,96 por mil nascidos vivos. Por estes índices o município foi escolhido para ser o piloto do programa Fome Zero – uma série de políticas públicas de combate à fome e à miséria no país. 

(Foto: Regis Falcão/CCOM)

 

As ações afirmativas transformaram a vida de Natanael, que estudou no CETI de Guaribas, fez o Enem e, através do Programa Universidade para todos, conseguiu formar-se em Direito pela Faculdade Campos Sales, em São Paulo. 

Além do campo profissional, as transformações também aconteceram, para Natanael, na vida amorosa: ele casou-se com Thais Duarte, da cidade de Morro Cabeça no Tempo, distante 500km de Teresina. Ela também foi uma das assistidas pelo mesmo programa de ingresso à universidade e, juntos, os filhos do sertão piauiense graduaram-se em direito. O casal tem hoje um escritório de advocacia na cidade de Osasco, região metropolitana de São Paulo, onde moram – mas o plano é, em breve, voltar a viver no Piauí. “É uma forma de contribuir com o meu estado”. 

Guaribas

Guaribas fica a 659 km de Teresina e tem, segundo o último levantamento, 4.556 habitantes. Mais de 60% da população de Guaribas é beneficiada pelo programa de renda mínima. São mais de mil famílias cadastradas no Bolsa Família, cada uma delas recebendo, em média, R$282,13 por mês. 

Em 2010, a renda per capita era de até meio salário mínimo para 61,4% da população. Em 2016, de acordo com o IBGE, apenas 5% da população – 222 pessoas – estava empregada em uma das 18 empresas cadastradas no município.

Os dados do último censo mostram que as condições de vida em Guaribas melhoraram a partir dos programas sociais. A taxa de mortalidade reduziu mais que a metade entre as crianças e o Índice de Desenvolvimento Humano, que era 0,214, chegou a 0,508, em 2010 – a cidade passou de “baixo” para “médio desenvolvimento” na classificação das Nações Unidas. 

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Categorias: Reportagem

Luana Sena

Jornalista, mestra e doutoranda em comunicação na Universidade Federal da Bahia.

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