“Eu vou à luta com essa juventude, que não corre da raia a troco de nada”, cantava Gonzaguinha, nos anos 1980, em referência a resistência do movimento estudantil à repressão militar. Mas nem sempre foi assim – em outros períodos históricos, a fase da juventude era apenas uma transição para a idade adulta. A ordem era começar a trabalhar cedo, casar e constituir família.
Nos anos de chumbo, com a forte repressão militar e a mobilização política no país, os jovens começaram a romper esse padrão. A juventude engajou-se em lutas em prol de muitas causas, como a liberdade política, sexual e a igualdade entre os sexos – o ideal de juventude criado à época é até hoje cultuado.
De acordo com a professora Lila Xavier, pesquisadora do Nupec (Núcleo de Pesquisas sobre Crianças, Adolescentes e Jovens), o espírito de rebeldia da juventude, hoje, não se assemelha ao dos anos 60 – os próprios jovens entenderam suas diversidades e contribuem com a sociedade de maneiras distintas. “Atualmente as práticas juvenis são diversas, o modo de lutar e contribuir com a sociedade é heterogêneo”, diz.
O Piauí registrou uma queda em sua população jovem nos últimos sete anos. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2012 o número de pessoas jovens (entre 15 a 28 anos) era de 50,55%. Em 2019, o índice caiu para 44,6%, ocorrendo uma diminuição de 5,95%.
A juventude piauiense não difere da diversidade do jovem brasileiro, afirma a pesquisadora. Mesmo com a queda na população jovem, o engajamento na sociedade tem aumentado. “Hoje o jovem tem se preocupado muito com o coletivo, com a comunidade”, comenta Lila. Eles estão se questionando sobre o futuro, qualidade de vida, o planeta, empregabilidade e até mesmo o acesso à tecnologia.
Para a professora, outro ponto que demonstra a diversidade dos perfis de juventude é a vestimenta – não somente a roupa, mas o corte de cabelo, as cores, as maquiagens, considerados formas de expressão dos jovens, que anunciam suas personalidades e marcam território. “A juventude é mais que uma palavra”, diz Xavier. “O que ela ouve, veste e faz, nos diz muita coisa”.
Luta por direitos
De calça xadrez, unhas pintadas em cores vibrantes e camiseta onde se lê a frase: “Rótulos foram feitos para produtos e não para as pessoas”, aos 16 anos, Pedro Victor não passa despercebido. Estudante do 2º ano do ensino médio e militante da União da Juventude Socialista (UJS), ele conta que viu a necessidade de se impor na sociedade. “Pelo fato de eu ser um gay afeminado e militante”, comenta. “Ou isso, ou me matam”.
Pedro faz parte de uma juventude que busca a militância como instrumento de contribuição para a sociedade ao seu redor. O estudante conta que o isolamento social lhe fez refletir muito sobre a sociedade em que vive e o futuro que pretende ter – e foi a partir daí que percebeu a importância de dizer para a sociedade os seus anseios enquanto jovem.
“Eu vivia sendo outra pessoa, pelo medo da sociedade saber o que eu queria ser de verdade”, revela. “E durante o isolamento decidi que não iria mais esconder meus desejos”.
O jovem relata que, por diversas vezes, assistindo o noticiário, chegava a pensar: “Eu preciso fazer alguma coisa, não posso ficar parado”. Ele acredita que iniciou um processo de amadurecimento impulsionado pela busca de direitos e cobrança de respostas sobre as reais necessidades da juventude: oportunidades, educação, saúde e lazer.
Educação é um ato político
Laís Fernandes, 23 anos, mulher, negra viu sua rotina sacudida há quase dois anos, quando o governador de Brasília suspendeu as aulas em todas as instituições em virtude da pandemia. Ela, natural de Corrente, no Piauí, voltou para casa sem saber que rumos as coisas tomariam a partir dali – sem, no entanto, perder o otimismo. “Me vejo como alguém que acredita em si, no ser humano e no futuro”, define-se.
De volta ao extremo sul do Piauí, deparou-se com a realidade de um município relativamente pequeno, sem amparo educacional em um momento atípico – transparecia uma sensação de abandono, como recorda-se. Por meses procurou respostas para questionamentos sobre o que fazer para mudar a realidade local.
Movida pelo incômodo, Laís se tornou uma das idealizadoras do projeto “Escrita nota mil”, que tem como objetivo orientar e corrigir redações de alunos do Ensino Médio da rede pública local, além de contribuir para o acesso à educação de forma gratuita. Looking for a reliable Bologna escort agency? Our agency presents a diverse array of professional escorts customized to your desires and preferences. When a romantic dinner date is on your mind, our escorts, known for their education and attractiveness, are committed to crafting a memorable experience. Safety, discretion, and client satisfaction take precedence, ensuring that every interaction is conducted with respect and enjoyment. With our agency, explore Bologna’s adult entertainment realm with confidence. Contact us today to organize an unforgettable encounter with one of our escorts. “Educação é direito fundamental e mais, é essencial”, afirma.
Ensinando estudantes a escrever boas dissertações, Laís sentiu-se contribuindo para o futuro de muitos adolescentes em busca de oportunidades através da educação, como ela um dia foi. “Um dos temas falados no curso foi, justamente, o que constou na redação do exame”, relembra. “Depois vieram os resultados e nossos participantes brilharam”, comemora entusiasmada.
Hoje, bacharel em direito, Laís diz ter muito orgulho das suas raízes e de tudo que foi conquistado – incluindo o resultado positivo do projeto que encabeçou. “O que me orgulha é o fato de ser uma mulher negra conseguindo demonstrar seu espaço, seu lugar”, vibra.
Juventude e arte
A arte é uma forte ferramenta de educação e comunicação para a juventude e foi através dela que o estudante Faustino Junior decidiu contribuir com a juventude do município de Castelo do Piauí, ao norte do estado. “Eu sempre me envolvia em projetos culturais na escola”, conta. “Com o passar do tempo vi na arte um meio de ajudar minha comunidade”.
Em 2002, Faustino decidiu entrar para a banda municipal de Castelo do Piauí. Além da banda, ele participava de quadrilhas, jogos e teatro – fundou o grupo “Dança de Rua Castelo”, um dos mais atuantes do estado do Piauí em dança urbana. “Já representamos o nosso estado em competições nacionais de hip-hop”, comenta.
Em 2012, ele contribuiu com a fundação da AJUC – Associação da Juventude de Castelo. Ele explica que, através das oportunidades oferecidas a ele em diversos projetos culturais, se viu na obrigação de também oferecer oportunidades a outros jovens como ele. “Eu sentia a necessidade de retribuir de alguma forma”.
Além de projetos voltados à dança, a associação também trabalha com teatro, música e esporte e, atualmente, conta com a colaboração de 22 pessoas trabalhando em diversas áreas ofertadas pelo projeto. Neste ano, a AJUC vem desenvolvendo trabalhos com cerca de 220 crianças e adolescentes.
Tecnologia por mulheres
Mariana Adelino, 18 anos, nasceu em São Paulo e veio morar no Piauí em 2013. Aqui, quando fazia o curso técnico em informática do Instituto Federal do Piauí – IFPI, teve sua inserção na ciência, onde obteve a oportunidade de conseguir publicar em livros e artigos em revistas internacionais.
Em 2020, Mariana decidiu trabalhar com tecnologia de forma prática: conseguiu seu primeiro estágio em desenvolvimento de software, área em que trabalha atualmente. Com quatro meses de estágio, a jovem recebeu proposta para trabalhar em uma empresa de recrutamento e seleção – atualmente ela é assistente de desenvolvimento de software da empresa.
Paralelo a toda a trajetória de ascensão na profissão, Mariana decidiu fundar a Start Coding – projeto totalmente online que busca inserir mulheres no setor da tecnologia e apoiar as que já estão, empoderando-as e oferecendo oportunidades de conhecimento.
A inserção na ciência e os incentivos dos professores do IFPI foram primordiais, segundo ela, para a criação da Start. “O projeto nasceu em meio a pandemia”, explica. “Eu já tinha planos de fazer algo para inserir mulheres dentro da tecnologia e a Start é fruto desse desejo”.
Mariana explica que o seu maior objetivo hoje é inspirar outras mulheres a se inserirem na tecnologia. “A nossa área possui muita disparidade de gênero”, afirma. A jovem também relata que a chegada da juventude traz consigo muitos questionamentos sobre que caminho seguir. Seu intuito é trazer cada vez meninas e adolescentes para seguir seus passos. “Quero ser exemplo para meninas que desejam entrar no mundo da tecnologia”.
Juventude nas redes e nas ruas
Cássio Borges, ex-militante da União da Juventude Socialista e atualmente professor de História da rede municipal de ensino, viveu a maior parte da juventude na efervescência das redes sociais. A explosão de grupos usando as novas plataformas digitais para se organizar marcou a sua geração. “Eu me lembro que uma das campanhas que nós fizemos era exatamente com a palavra de ordem: ‘A juventude nas redes e nas ruas’”, conta.
De acordo com Cássio, as redes sociais continuam a desempenhar um papel fundamental nos atuais, seja no engajamento político ou no processo de compartilhamento de informações – é nas redes que a juventude está se informando, dando opinião, interagindo, se relacionando e realizando questões próprias do seu tempo.
Em contato com a juventude através de seus alunos, o professor percebe que, hoje, os jovens têm o espaço das redes sociais como questão elementar nos dias atuais. Outro fator determinante para esse uso essencial das redes é a pandemia. “Para a geração atual foi mais fácil conviver com o uso das tecnologias em todos os espaços, inclusive o escolar”, observa.
Do ponto de vista da organização da juventude, Cássio acredita que está surgindo uma nova geração de jovens militantes, pois as formas tradicionais de organização, ou seja, através de um grêmio estudantil e centros acadêmicos, vão se reformular. “Nós temos dois anos sem aulas presenciais, estudantes que não tiveram nenhum contato com formação política”, diz.
O professor explica que o jovem atual usa a internet como seu principal meio de formação e também discussão – um espaço para interagir e intervir na vida pública.
Ao longo da reportagem você viu colagens com frases inspiradoras, citadas pelos jovens aqui entrevistados.
1 comentário
Luciana Farias · 8 de setembro de 2021 às 22:55
Eu acredito que as nossas “diversas” juventudes devem ainda mais adentrar o debate político e ter representação nos espaços decisórios. Parabéns pela matéria!!