O hábito de leitura se fortaleceu durante a pandemia. Segundo o Painel Varejo e Livros, somente em fevereiro deste ano, o consumo de livros cresceu em 12,9% nas obras comerciais e 41% na categoria de ficção, em relação ao mesmo período do ano anterior. Aliado a isso, a produção de autores independentes também aumentou, o que tem facilitado o acesso a livros/e-books e garantido mais pluralidade no mercado longe das amarras das grandes editoras.
No Piauí, escritoras têm usado o caminho das palavras para trazer à tona novas perspectivas e quebrar paradigmas. É o caso de Dani Marques, que de amante dos livros se tornou escritora, e de escritora, fundadora da Caneleiro, uma editora independente. A ideia de ter a própria editora surgiu para concretizar o sonho de lançar seu livro “Textos Feitos em Momentos (In)oportunos” (2021), que, entre outras coisas, fala sobre os sabores e dissabores de ser mãe, mulher e profissional.
A literatura na vida de Dani é uma forma de resistência. “Falo do meu lugar de mulher não branca, mãe solo, periférica”, diz, acrescentando que “para ser escritora tive que burlar a ordem vigente e fazer tudo sozinha”. O resultado de toda essa subversão foi a abertura de portas para outras mulheres – hoje, sua editora publicou quatro livros, todos assinados por mulheres.
Uma das autoras publicadas pela Caneleiros é Nayara Barros, autora de “Declarações de uma alquimista sensível” (2020). Mas, antes de publicá-lo, ela recorreu às redes sociais na busca de fundos para transformar sua dissertação de mestrado em livro. Através de uma vaquinha online, a escritora arrecadou cerca de R$6.900,00.
Nayara conta que as doações vieram tanto de pessoas conhecidas como de anônimos e foi um incentivo que não veio por meio de políticas públicas. “Eu tinha procurado editais, mas percebi que não tinha como atender aos pré-requisitos na época”, explica. “Resolvi tentar através de outro meio porque sabia da relevância do tema”.
Ambas as escritoras acreditam que o incentivo à escrita e leitura deve acontecer através de dois agentes: família e estado. “Precisamos repensar o modelo educacional de forma que incentive e torne acessível os livros. Além disso, é necessário que dentro de casa as crianças encontrem essa motivação e também precisamos de políticas públicas para isso”, pontua.
Enquanto o estímulo à leitura de obras desenvolvida por mulheres não é fomentado de maneira institucional, grupos de mulheres têm se unido para visibilizar a causa. Um exemplo desses grupos é o projeto Leia Mulheres que, além da atuação nacional, no Piauí tem representações nas cidades de Teresina, Picos, Piripiri, Parnaíba, Floriano e Uruçuí.
O grupo tem o objetivo de estimular o hábito de escrita e leitura de autoras mulheres. As reuniões acontecem na última semana de cada mês, através de encontro virtual. Os participantes podem debater o livro indicado a cada mês.
Livros discutidos no Leia Mulheres:
Entre o voo e o pousa – Alzenira Pinho
Redemoinho em dia quente – Jarid Arraes
O olho mais azul – Toni Morrison
Em mãos – Rachel Ventura
Asas de pedra – Nayara Fernandes
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