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Conflito de divisão de terra entre Piauí e Ceará pode encerrar no início de 2022

Pesquisador afirma que existem documentos comprobatórios de que as terras são do Piauí

05 de novembro de 2021

14 décadas depois de um decreto imperial, o exército brasileiro iniciou a perícia da região de litígio de terras entre Piauí e Ceará. Em sessão plenária na última  quarta-feira, dia 3, o deputado estadual e presidente da Comissão de Estudos Territoriais da Assembleia Legislativa do Piauí, Franzé Silva, afirmou que a previsão para a entrega é até o final do primeiro trimestre de 2022. 

Trata-se de uma ação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), desde 2011, e prevê uma reconfiguração territorial. Caso o Piauí tenha vantagem na justiça, 14 cidades cearenses podem ser afetadas. São elas: Carnaubal, Crateús, Croatá, Granja, Guaraciaba do Norte, Ibiapina, Ipaporanga, Ipu, Ipueiras, Poranga, São Benedito, Tianguá, Ubajara e Viçosa do Ceará.

De acordo com o pesquisador em litígios, Eric Melo, antigamente, se dizia que o litígio havia surgido de uma “troca” entre Piauí e Ceará, que era o litoral do Piauí. No entanto, o Ceará invadiu o litoral do Piauí e em 1880, Dom Pedro II assinou um decreto obrigando a devolução desse litoral. Paralelo a isso, em decorrência das secas de 1840 e 1877, o Ceará recebe atenção especial do Império, que aproveitando o decreto, decide passar para o Ceará terras do leste do Piauí, que compreendem as nascentes do rio Poti. “Não foi uma troca”, frisa. 

O pesquisador afirma que, os arquivos aos quais teve acesso durante sua pesquisa, na Torre do Tombo e no Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa-Portugal), mostram que o Piauí já tinha território definido desde 1760, com o Mapa de Galucio. O primeiro mapa do Ceará é apenas de 1800 – nele, é possível entender que o Ceará nunca teve posse do litoral piauiense. “Daí temos como provar a primeira invasão, que originou o decreto de Dom Pedro II”, explica. 

Cerapió ou Piocerá

Para Eric, o Piauí precisa contar a sua versão da história, pois o estado sempre reivindicou suas terras junto aos governos centrais e reclamou sobre as invasões.  O Ceará, por sua vez, sempre conseguiu abafar a questão. “Não é área de litígio entre o Piauí e o Ceará, é o território piauiense invadido pelo Ceará”, afirma.

Para ele, a situação é tão complexa que há uma união de esforços do lado cearense para vender a história de que são vítimas do Piauí, acusando o estado de nunca ter reivindicado as terras. “Órgãos públicos, políticos e jornalistas cearenses estão juntos nisso. Nesse ponto o Piauí é passivo”, afirmou. “O que se pode fazer é unir esforços e consultar as fontes que hoje trazem provas e uma versão mais lúcida e clara do que é o litígio entre Piauí e Ceará: a universidade”, pontuou.

Os principais documentos que comprovam o pertencimento dessas áreas ao Piauí são cartas donatárias do século XVI, mapas históricos do século XVIII, além de decretos do século XIX. Há também o acordo firmado em 1920 e as imagens de satélite que servem de suporte para a aplicação das técnicas de divisa de território, bem como do avanço cearense ao território do Piauí. 

O pesquisador acredita que, para o Piauí, o ponto positivo será a consolidação do seu território – o que para a gestão pública é a base administrativa. Também podem ser considerados pontos positivos o incremento populacional e de arrecadação, além das possibilidades de uso dos recursos naturais. Entretanto, dependendo do mapeamento do Exército Brasileiro, áreas que hoje se apresentam como Ceará passarão a jurisdição do Piauí – essa burocracia transitória poderia ser um ponto negativo.

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4 comentários

Hugo Napoleão · 7 de novembro de 2021 às 12:31

Como governador do Piauí entre 1983 e 1886 iniciei um processo com o governador do Ceará Gonzaga Mota para por fim ao litígio, através dos Procuradores dos Estados do Piauí (Alfredo Nunes) e do Ceará), Claudino Sales com a cooperação do IBGE e do Serviço Geográfico do Exército.

Decio Rocha · 11 de abril de 2022 às 10:51

Acho que independente do Estado do Piauí possa ter direito a tais terras, existe uma cultura mais do
que centenária das pessoas que vivem nestes 14 municípios que se sentem cearenses e que por uma
canetada jurídica pode mudar tudo. Absurdo tal situação afora outros aspectos econômicos e sociais.

    Jailton Costa Fernandes · 14 de junho de 2022 às 19:49

    Por favor senhores governantes do Ceará não deixar que um absurdo desses aconteça protejam o nosso território.

Carlos Melo · 5 de dezembro de 2022 às 22:27

Com relação a estratégia de marketing, o Ceará conseguiu implantar a ideia de uma troca de litoral por terras, haja vista o Piauí não “possuir” litoral, mas com essa pesquisa séria do Sr. Eric Melo, que consultou documentos históricos em Portugal, hoje, nós piauienses temos nossa versão da História e temos consciência que fomos lesados e que em várias passagens do tempo o Ceará usa de artifícios para não devolver aquilo que nos pertence.

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