Passava um pouco das duas horas da tarde do 1º dia de outubro quando Manuel Lopes – o Nel, como é conhecido entre amigos – festejava, emocionado, a inauguração de um outdoor na zona Leste de Teresina. Enquanto os carros passam pela via, entre buzinas e conversas, ele puxa o celular para anunciar a novidade que ficaria instalada em uma das principais avenidas da cidade pelos próximos dias. O vídeo tem destino certo: os vários grupos de whatsapp dos quais ele faz parte, reunindo pessoas que se consideram pertencentes à direita bolsonarista no Piauí.
No letreiro, ironicamente à esquerda, aparece a imagem do presidente Jair Bolsonaro. Do lado direito, o símbolo do comunismo. A mensagem é clara e, apesar de confusa, direta. Para os idealizadores, só existem duas opções políticas no país – e elas são essencialmente opostas. “Quero parabenizar aos movimentos que tiveram essa brilhante ideia”, diz Manuel na gravação. “Aqui são as opções que nós temos para nosso povo, aqueles que amam a família e tem Deus no coração”, prossegue entusiasmado. “Nossa luta é contra o comunismo e nós vamos vencer”.
Apesar de falar na terceira pessoa, Manuel faz parte de um dos movimentos que idealizou a publicação do painel. Há mais de dez anos é ele quem está à frente do Movimento Liberta Piauí, um dos tantos grupos de direita do Nordeste. Ele faz questão de destacar que não contou com a ajuda de nenhum partido ou político. “A gente defende espontaneamente. É uma iniciativa nossa para não ver o nosso país virar uma Venezuela”, explica.
Venezuela, aliás, é detentora do horror que Manuel confessa ter a seu sistema político. Ele afirma, mesmo sem fontes, que por lá milhares de pessoas morreram por causa do Comunismo e do Socialismo. Para ele, ambos os sistemas de governo significam a mesma coisa e representam uma ameaça iminente ao Brasil. “Para mim, é o povo morrendo de fome e o governo tomando conta de tudo”, dispara em conversa com a reportagem. “É a coisa do PT, desse governo do Wellington Dias. Ele é igual ao Maduro”, finaliza.
Tudo é feito e pago através da união de outras entidades que apoiam o presidente no estado – Direita Feminina, formado exclusivamente por mulheres, e o Movimento Avança Piauí. O investimento gira em torno de 400 a 600 reais, aumentando conforme a duração do outdoor na rua. O custo, para os representantes, vale o esforço. Isso porque a juventude bolsonarista acredita que está furando a “bolha” da grande mídia – os canais de televisão que não oferecem espaço para o presidente falar das suas ações.
A 300 quilômetros de Teresina, em Picos, centro-sul do Piauí, Bruna Cássia realiza panfletagem na BR-316. Comumente aos sábados, ela começa a ação com um grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Eles circulam entre os veículos que entram e saem da cidade – local com o maior fluxo de carros de Picos. Durante a ação, ela aborda os motoristas para falar que destina todo seu tempo livre quando não está dando aulas de matemática, a ele: Bolsonaro.
A professora, que já saiu candidata estadual pelo partido PROS no Piauí, é considerada uma das líderes do movimento bolsonarista no município. Bruna alcançou cerca de 200 votos espalhados por 19 cidades piauienses. Sem ter saído de Picos, sua campanha foi apenas pelas redes sociais, levantando as pautas do conservadorismo, anticorrupção e um “Brasil mais verde e amarelo” – seja lá o que isso queira dizer.
Tudo começou em 2017, quando Bolsonaro despontava no cenário político como candidato à presidência e principal opositor do governo petista. Nessa época, seu grupo de apoiadores já fazia um trabalho de divulgação gratuito para o então candidato – mas a experiência de instalar outdoor na cidade ainda não tinha acontecido. Havia receio por parte dos ativistas em investir em algo que pudesse sofrer represálias.
Dito e feito. Não demorou 15 dias para a primeira placa sofrer ataques. Hoje, com seis placas distribuídas na cidade, algumas já sofreram por intempéries ou ação humana. “A gente paga 450 reais por quinze dias, ou 600 por um mês”, informa a apoiadora. “O que vem motivando a gente é a vontade de colocar as pessoas para repensar seus representantes”, diz Bruna.
Ela olha com admiração para os outdoors como o criador contempla a criatura: todos os detalhes, da frase até a arte, foram pensados por ela, que diz evitar mensagens que possam soar como propaganda política – não quer treta com o STE a essa altura. Porém, Bruna investe em temas com os quais Bolsonaro vem travando batalhas este ano. Em um outdoor, a mensagem diz: “2021, ano de muitas lutas e vitórias contra o vírus chinês, a corrupção e o comunismo”.
“A gente coloca apenas frases de agradecimento”, explica. “E temos muito o que agradecer”, diz, pausando para tentar elencar o que considera grandes feitos dessa gestão. “Como a BR que passa pela nossa cidade e por zero dias de corrupção vividas no governo Bolsonaro”.
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