Nem só de Vale do Silício vive uma startup. Os olhos dos investidores em empresas de tecnologia e inovação estão voltados, finalmente, para o Nordeste. O último mapeamento da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) registrou 1.171 startups na região – além do crescimento e expansão, a redução da taxa de êxodo para o Sudeste comprovam aquilo que os especialistas já previam: a formação de um ecossistema nordestino de startup.
Embora a grande maioria das empresas nascidas em polos de inovação no Nordeste estejam concentradas nos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará, o Piauí não fica de fora. Por aqui, além dos primeiros negócios no ramo, destaca-se o surgimento de lugares como o The Hub – um espaço de inovação, que congrega organizações, empreendedores, coworking e executa ações para melhorar e fazer crescer o ambiente empreendedor na área tecnológica. “Isso ajuda o ecossistema a evoluir”, diz Danilo Picucci, diretor de comunidades da Abstartups. “Fortaleza, por exemplo, já tem 4, 5 hubs de inovação parecidos com este ou maiores, o que significa que eles estão um pouco à frente, com mais coisas acontecendo”, aponta o especialista que, em viagem pelo Nordeste, visitou o The Hub na tarde da última terça (11).
Outro claro indício de que um ecossistema está evoluindo é quando acontece aquilo que os empreendedores de tecnologia chamam de exit – , do inglês, “saída”, quando a startup é vendida para alguma empresa. “Uma startup que cresce vira uma geradora de emprego, uma pagadora de impostos”, aponta Danilo. “Ela pode ser comprada ou fazer fusões, ou se tornar uma das principais empresas do estado”, diz, citando o caso do Nubank – o banco digital se tornou o mais valioso da América Latina e é hoje uma das empresas com mais valor de mercado dentro do estado de São Paulo.
Uma startup pode levar de cinco a sete anos para completar o “ciclo” – ou seja, atingir a etapa final do seu desenvolvimento, se tornando uma grande empresa e invertendo a lógica tradicional do corporativismo. Nessa fase, não só o seu criador sai ganhando: ela arrasta consigo todas as pessoas envolvidas no processo. “O empreendedor que enriqueceu geralmente devolve alguma coisa para o ecossistema”, aponta Danilo. “Ou ele se torna um investidor, ou abre um espaço como o hub, porque ele não quer se distanciar da realidade que viveu como empreendedor”. Além disso, pela experiência adquirida, ele também passa a ser uma espécie de mentor para novos empreendedores. “Porque ele construiu desde o zero até vender a empresa, então ele vira também um mentor da própria comunidade onde reside”, pontua Picucci.
O que precisa acontecer no Piauí
A Associação Brasileira de Startups foi fundada em 2011 por empreendedores de diversas regiões do país para ser um instrumento de promoção, suporte e dar visibilidade a negócios com bases tecnológicas em regiões emergentes do país. Pedimos para Danilo Picucci, diretor de comunidades da instituição, elencar três passos para o Piauí escalar e, enfim, consolidar-se como um estado com bons negócios na área de tecnologia.
1 – Integração dos players
Na prática, isso quer dizer que quanto mais articulado estão os agentes de fomento, melhor para a comunidade. “Quem hoje no Piauí está fazendo o ecossistema melhorar?”, pergunta o diretor. “Sebrae, Federação das Indústrias, governo do estado, prefeituras, universidades, espaços físicos privados… Esses players têm que estar todos integrados”, ensina. E, por estar integrado, entenda manter um diálogo, apoiar um ao outro e fazer iniciativas juntos. “Maceió, por exemplo, tem muita coisa acontecendo, mas elas não se comunicam”, demonstra Danilo. Um bom exemplo de integração é o Porto Digital, em Recife, um dos mais famosos do Brasil. “Quando essas forças se juntam, o impacto potencializa muito, porque as ações começam a ganhar força”.
2 – União entre os empreendedores do ecossistema
É um velho clichê mas, a união, realmente, faz a força. “Eles podem ser pequenos pagadores de impostos, mas são relevantes para um estado que não tem tantas empresas assim”, diz Danilo. “Unidos, eles ganham força quando vão pedir apoio para um político com interesse em ver o estado prosperando, porque isso significa mais emprego, geração de receita e isso ganha peso”, explica. “Toda vez que os empreendedores se unem para fazer coisas juntos, a comunidade prospera também”.
3 – Trazer investimento privado
Em outras palavras, trazer dinheiro para o estado. Isso significa ter pessoas dispostas a investir em startups – e para isso há dois caminhos possíveis. O primeiro é começar a formar empreendedores, fazendo a ponte entre pessoas que já fazem investimentos – em na agropecuária, na agricultura, na bolsa de valores, etc – mas desconhecem a oportunidade de negócios em tecnologia. “O investimento não é um risco tão grande para essas pessoas, mas às vezes elas não estão envolvidas ou só não sabem como fazer”. A outra maneira para dentro do estado quem já faz isso profissionalmente, no Brasil ou no mundo. O investimento pode “acelerar” – para usar outro jargão da área – o crescimento de pequenas empresas tecnológicas que já existem. “Há muitos investidores hoje e o Piauí pode atrair essas pessoas para captar investimento”, indica Danilo.
Embaixada feminina
Desde 2014, a ABstartup realiza a Conferência Anual de Startup e Empreendedorismo – o Case, evento que congrega empreendedores e entusiastas da área em todo o Brasil. Na ocasião, o Programa de Embaixadores orquestrado pela área de comunidades que Danilo dirige, elege um líder de cada estado ou região para ser o representante – em 2021, Lívia Saraiva, a head de inovação do The Hub, foi escolhida a embaixadora do Piauí. Ela é a primeira mulher a representar o estado.
Como ato simbólico da força empreendedora regional, uma bandeira do Piauí circulou entre integrantes da Cajuína Valley e Carnaúba Valley para que todos deixassem sua marca registrada, reforçando a união das comunidades do estado. “Lívia passou a ser o nosso canal no Piauí e será o guia para tudo o que formos realizar este ano no estado”, comenta Danilo Picucci.
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