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Sem luz no fim do túnel

Piauí possui a 3° tarifa residencial mais cara do Nordeste; energia subiu três vezes mais que a inflação no Brasil

26 de janeiro de 2022

Edição Luana Sena

Nos últimos dois anos, Rodrigo Maxsuell presenciou as tarifas de energia crescendo nas contas no final do mês – se, em 2017, sua tarifa fechava em R$180, agora ultrapassa os R$400. Os eletrodomésticos, no entanto, ainda permanecem os mesmos e os esforços entre as cinco pessoas que dividem a casa no bairro Itararé, zona Norte de Teresina, para poupar energia, aumentaram consideravelmente. “Não deixamos as luzes acesas sem necessidade nem aparelhos nas tomadas, mas não adianta”, reclama Rodrigo. “A cada mês a conta vem mais cara”.

O aumento não é apenas impressão: o Piauí possui a 3° tarifa residencial mais cara do Nordeste – em 2018, chegou a superar a média da região. O ranking das tarifas de energia elétrica cobradas pelas distribuidoras, divulgado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mostra que a Companhia Energética do Piauí (Cepisa), da concessionária Equatorial Energia, possui uma tarifa de 0,684 reais por quilowatt-hora. O valor também supera a média nacional, equivalente a 0,623.

 

 

O resultado final das contas, entretanto, é ainda maior. Isso porque os índices divulgados pela Aneel não contemplam tributos como ICMS, PIS/Pasep e Cofins, taxa de iluminação pública e o adicional de bandeira tarifária. 

A expectativa de diminuição das tarifas ainda não é uma realidade. No final de novembro de 2021, a Equatorial Piauí divulgou que, ainda em dezembro, novas tarifas da distribuidora entraram em vigor. O aumento seria de 9,59% nas contas de energia dos piauienses – o impacto médio do reajuste anual da distribuidora para os consumidores será de 15,96% na alta tensão e de 8,23% para os que são atendidos em baixa tensão.

Na Assembleia Legislativa do Piauí, as altas taxas de juros foram pauta de uma audiência no início de 2022. A parlamentar Lucy Soares encaminhou um requerimento à Alepi solicitando informações sobre as cobranças de taxas de juros aos usuários inadimplentes da distribuidora Equatorial Energia.

“Por que nossas taxas e renegociações são mais caras que em outros estados?”, questionou a deputada, comparando o Piauí ao Ceará, que possui taxas menores. Para a parlamentar, trata-se de um tema que impacta diretamente o acesso da população a serviços essenciais.

 

Em disparada

Nos próximos 12 meses, os clientes residenciais, especificamente, pagarão uma conta 7,47% mais cara. Com o reajuste, as tarifas da empresa para esse consumidor passa de R$ 581,82/MWh hora para R$ 628,04/MWh, saindo da 40ª posição para a 21ª posição no ranking das tarifas mais caras. 

Os constantes reajustes na conta de energia elétrica comprometem cerca de 5% do orçamento familiar dos brasileiros. Porém, para famílias mais pobres, esse impacto chega a alcançar quase 7%. 

De acordo com  o Índice de Preços ao Consumidor da FGV-Ibre, mesmo que as casas das famílias de baixa renda possuam menos eletrodomésticos e sejam menos consumidoras, qualquer aumento de um item dentro do orçamento familiar causa mais impacto comparado a famílias mais abastadas. Enquanto domicílios mais ricos podem optar pelo corte de gastos supérfluos, essa redução de orçamento nas contas de famílias menos abastadas afeta a compra de itens básicos, como alimentação ou remédios. 

Um dos principais causadores da alta das contas é motivado pela crise hídrica no país. O CMSE – Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico – já alertou que a piora das condições hídricas são constantes. No ano passado, os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste, que resguardam cerca de 70% da geração de energia do país, alcançaram menos de 25% da sua capacidade de armazenamento. O momento foi considerado a pior crise hídrica dos últimos 91 anos do Brasil. 

O aumento da conta de luz todos os meses pressiona outros preços e, assim, aperta outras contas das famílias. É ainda diante desse cenário que se observou a energia subindo três vezes mais que a inflação no Brasil ao longo dos primeiros oito meses de 2021. 

 

Em julho e agosto, enquanto a previsão da inflação oficial atingia 0,89%, a alta de energia elétrica chegava a 5%, de acordo com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Em 12 meses, a energia elétrica finalizou um crescimento de 20,86% – mais que o dobro da inflação acumulada no mesmo período, que chegava a 9,3% 

Em agosto, o aumento de 5% na energia elétrica refletia no reajuste de 52% sobre a bandeira tarifária vermelha patamar 2. Durante o período, o consumo passou de R$ 6,24 para R$ 9,49 a cada 100 kWh consumidos.

De acordo com a ANEEL, a bandeira tarifária é um sistema que aplica uma cobrança adicional nas contas de luz sempre que aumenta o custo da produção da energia no país. Em 2020, ela ficou suspensa por seis meses, mas foi retomada em dezembro do mesmo ano. 

Com a piora da crise hídrica, foi criada a bandeira de escassez hídrica para forçar a redução dos usos de energia. Essa taxa deve permanecer até o dia 30 de abril de 2022. 

 

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Categorias: Reportagem

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