*depoimento pessoal da repórter
*Entre a correria do dia a dia, uma mensagem enviada pelo Instagram me tirou da concentração do trabalho: eu acabava de ganhar um jantar exclusivo, com direito a três acompanhantes, em um dos meus restaurantes de comida japonesa preferidos da cidade. Ao clicar no perfil, a conta tinha as informações, postagens e nomes de clientes dos restaurantes. A pessoa do outro lado, super educada, prontamente me pediu um número de celular para completar o cadastro. Enviei e, em instantes, um link surgiu entre as mensagens. Assim que cliquei, fui imediatamente redirecionada para o meu perfil na rede e, em poucos segundos, perdi a minha conta. Eu havia sofrido um golpe.
O invasor logo começou a procurar meus amigos mais próximos, se passando por mim e pedindo dinheiro. Nas mensagens, ele dizia que eu estava em uma situação de risco e precisava de dinheiro urgentemente. Dois amigos acabaram também sendo vítimas. Pelos stories, ele fazia uma série de publicações vendendo eletrodomésticos: geladeira, fogão e televisão, a preços abaixo do mercado. Enquanto eu tentava comunicar a todos os meus contatos o que havia acontecido, o golpista negociava os eletrodomésticos inexistentes, utilizando o meu perfil.
Demorou pouco mais de três horas para conseguir recuperar minha conta através do suporte oferecido pela plataforma do Instagram. Ao longo desse tempo, realizei um boletim de ocorrência digital na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI). Enquanto alertava a amigos e familiares, todos eram unânimes em dizer: “isso tem se tornado cada vez mais comum” .
As tentativas de golpes por meio das redes sociais cresceram e se tornaram cada vez mais frequentes entre personalidades e pessoas anônimas. Qualquer um no ambiente virtual está sujeito a ser uma vítima. No Piauí, em 2019, os crimes de estelionato on-line cresceram 280%. Em 2018, foram registradas 257 ocorrências, já em 2019 foram 715 registros investigados.
No ano de 2020, quando eclodiu a pandemia da Covid-19, o número de golpes pelas redes sociais subiu para 1.156. Esses dados foram divulgados pela DRCI, e apontaram a maioria dos crimes envolvendo aplicativos de mensagens e redes sociais, causando prejuízos financeiros às vítimas.
Durante a pandemia, com as pessoas cada vez mais presentes no ambiente virtual, o fenômeno teve um aumento considerável. Conforme a empresa de segurança digital PSAFE, mais de 18 milhões de ataques virtuais aconteceram nesse período envolvendo o novo coronavírus – a maioria envolvendo vacinas, ganhos de máscaras, álcool em gel e remédios. Segundo o levantamento, o Piauí foi o 8° estado mais visado por crimes virtuais.
A abordagem, comumente, é a mesma, feita através de e-mail, mensagem de aplicativo ou rede social. O delegado Anchieta Nery, titular da DRCI, explica que a delegacia não tem ferramentas para recuperar as contas ou dados. Em poucas palavras, ele destaca que é necessário apenas ter atenção com as mensagens e benefícios divulgados através das redes sociais. “Tendo os dois pés atrás e um pouco de atenção se evita a maioria dos problemas que a gente tem online”, destacou o delegado em vídeo divulgado à imprensa.
O boletim de ocorrência serve para que você possa comprovar que, assim como quem cai no golpe, você também foi lesionado. No entanto, diferente do que se imagina que as ameaças cibernéticas aproveitam vulnerabilidades do sistema e da rede de dados dos aparelhos, as estratégias utilizadas por golpistas é inversa: eles buscam fragilidades do usuário.
Airton Carvalho, técnico em TI, explica que trata-se de engenharia social. Os criminosos virtuais induzem os usuários através de suas preferências e “rastros digitais”: curtidas e compartilhamentos em restaurantes, hobbies e lojas de roupas. Os alvos são pessoas desavisadas ou sem experiência no mundo virtual – mas pode acontecer com qualquer pessoa que acredite ou seja induzida em contato com o golpista. “A intenção é usar da sua confiança e do seu perfil para atingir outras pessoas que estejam próximas a você”, destaca Airton. “Eles invadem a sua rede de amigos, costurando na sua arquitetura social, para assim se espalhar e promover golpes”, frisa.
A intenção é conseguir dinheiro das vítimas, porém, os crimes podem ser realizados por motivos pessoas e políticos, pontua Fábbio Borges, coordenador da Escola de Tecnologia Aplicada do ICEV – Instituto de Ensino Superior. Caso o usuário não seja rápido e consiga retomar o domínio da conta em 24h, o prejuízo pode ser irreversível.
Em casos mais graves, o golpista virtual pode utilizar um software malicioso que infecta as máquinas com objetivo de roubar dados ou danificar o dispositivo. Instalados de forma oculta, quando o usuário clica em um link ou abre o arquivo, somente um antivírus é capaz de detectar e eliminar de forma automática. “O que mais se recomenda são ações de prevenção: comunicar ao máximo de pessoas para que tenham atenção durante as atividades na rede e em caso de golpe, informar a todas as pessoas do seu convívio que sua conta foi invadida”, aconselha o professor.
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