sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O medo à espreita da lousa

Teresina ocupa 10ª posição entre capitais brasileiras com maior prática de bullying, aponta IBGE

13 de julho de 2022

Edição Luana Sena

Davi Henrique sempre foi uma criança que gostava de dormir pela manhã. A mãe, Eleonora Sales, acreditava que o menino fazia birra, mas descobriu somente nas férias que Davi não gostava de ir à escola por causa do bullying. Os sinais também vieram um pouco antes, quando a criança pedia para a mãe cortar o cabelo encaracolado. Os colegas de turma puxavam e dizia que se assemelhava a minhoca.  

Eleonora avisou à direção da escola e o problema foi sendo resolvido entre os pais e os colegas, mas as sequelas das violências na sala de aula ficaram. A criança, hoje em dia, faz terapia. As consultas têm tido impacto na rotina do garoto, que já não sente mais a escola como um lugar perigoso. A mãe também foi vítima de bullying na infância e acredita que o assunto não é algo apenas geracional. 

As duas gerações estão dentro do último estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em dez anos, o número de crianças que já sofreram bullying aumentou. Em 2009, o percentual era de 30,2%. Em 2019, o número subiu para 42,9%. 

Teresina chega a ocupar a 10ª posição entre as capitais brasileiras no ranking do bullying. São as mulheres que possuem uma proporção maior que os homens, cerca de 44,9%. Segundo a pesquisa, 41,1% dos homens afirmaram já ter sofrido algum tipo de bullying. 

O percentual também mostra que os estudantes da rede de ensino privada têm maior proporção de pessoas que relataram sofrer bullying, que estudantes matriculados em escolas públicas. Em 2019, o percentual dos estudantes de escolas públicas foi de 42,5% e 43,8%,nas unidades privadas – um aumento de mais de 20% da média registrada em 2009.

O bullying se refere a qualquer atitude ameaçadora dentro do ambiente escolar. A pedagoga Maria Auxiliadora Sousa, no entanto, explica que não é somente a violência entre alunos, mas também pode acontecer entre alunos e professores – ou também servidores da instituição de ensino. 

Quando em uma série histórica a capital aumenta o percentual de bullying, algo dentro da sociedade não vai bem. Isso porque as crianças acabam reproduzindo situações violentas ou agressivas de onde estão e replicam no ambiente de ensino. “Nessa situação, os colegas que não se encaixam nos padrões do bullies (valentões) viram seus alvos”, complementa. 

Por outro lado, formas eficazes de lidar com o bullying não se restringem a quem pratica ou quem é a vítima. O público, que envolve desde colegas, professores e a rede administrativa da escola, é essencial para poder resolver a violência no ambiente escolar. “Um funcionário que não acredita no relato da criança, ou um professor que ignora quando um aluno está violento, promove o cenário dessa agressão”, complementa. “O bullying é um problema atemporal e que depende de toda comunidade escolar para ser erradicado”, pontua a pedagoga. 

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

0 comentário

Deixe um comentário

Avatar placeholder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *