domingo, 24 de novembro de 2024

Aquele que não deve ser nomeado

No Piauí, Bolsonaro encontra dificuldades para fazer campanha; Políticos aliados debandam do PP e candidatos evitam associação

19 de agosto de 2022

Nas eleições de 2020, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira realizou um feito glorioso: elegeu pelo Partido Progressistas (PP), 86 prefeitos das 224 cidades piauienses. Foi a maior quantidade de prefeitos, de uma sigla só, cravando vitórias nos municípios do estado. Com esse resultado, Ciro conseguiu circular tranquilamente nos municípios de seus aliados, inaugurando obras e anunciando repasses. 

Uma das principais armas do bolsonarismo é o antipetismo. É o que tem feito Nogueira, junto aos aliados, mas a estratégia parece não ter tanto efeito no Piauí. Na mesma época em que Ciro comemorava as vitórias do seu partido nas prefeituras, Fernando Haddad, presidenciável petista da época, alcançava 77,05% dos votos contra menos de 25% de Bolsonaro. 

Nas eleições deste ano, com Luiz Inácio Lula da Silva de volta ao páreo, a situação parece apertar para Bolsonaro. Pelo menos, na terra do seu principal aliado no Planalto, Ciro Nogueira, o presidente não dá braçadas largas, como revelam as últimas pesquisas do Datamax: Lula tem 68,4% das intenções de voto entre os piauienses – quatro vezes o total de Bolsonaro, que chega a 15,2%. 

Os números têm afetado as estratégias do partido do principal aliado de Bolsonaro no Piauí. No diretório do PP-PI, o jornal Estado de S. Paulo revelou que a sigla entrou com uma ação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) pedindo a proibição de imagens dos seus candidatos piauienses ao lado de Bolsonaro. A justificativa alegava que qualquer material que circulasse fazendo ligação dos candidatos ao presidente, era “fake news”. A ideia é parecida com o que fez Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara Federal, na sua terra natal. Os dois aliados mais fortes de Bolsonaro, frente ao avanço de Lula no Nordeste, têm causado silêncios constrangedores.  

Na campanha estadual, Nogueira também tem evitado menções ao presidente. A chapa composta pela sua ex-esposa, Iracema Portella (PP) e pelo ex-prefeito de Teresina, Silvio Mendes (União Brasil), não revela bolsonaristas da gema. Nas publicidades do trio, no Piauí, Nogueira se aproxima mais de um “padrinho direto” dos recursos federais do que um “homem do presidente”.

No estado, os dias não têm sido fáceis para o principal interlocutor de Bolsonaro. Desde o ano passado, os prefeitos do PP iniciaram debandadas do partido. Eles têm migrado o apoio para o principal rival de Sílvio Mendes na corrida ao Palácio de Karnak, o petista Rafael Fonteles. 

Conforme levantamento do oestadodopiaui.com, nove prefeitos do Progressistas abandonaram o partido e agora seguem Fonteles. São eles: Raimundo Sobrinho (Currais), Jabes Júnior (Riacho Frio), e Karyne Aragão (Cocal de Telha) agora filiados a PSD (Partido Social Democrático); Pedro Filho (Madeiro) e Raimundo Sobrinho (Currais), que migraram para o MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Dr. Celso Antônio (São João do Peixe), Murilo Bandeira (Sigefredo Pacheco) e Alemão (Parnaguá) e Paulinho Enfermeiro (São Gonçalo do Gurguéia) são os mais novos filiados ao Partido dos Trabalhadores. Zé Ulisses (Simões) ainda é filiado ao Progressistas, mas já garantiu levantar a mão de Fonteles. A debandada tem ocorrido desde o final do ano passado,quando ainda se desenhavam as possíveis chapas para a corrida estadual. 

As trocas têm sido feitas visando os números. Na última pesquisa do Instituto Amostragem, Rafael obteve 52,21% das intenções de voto, enquanto Sílvio Mendes apresenta 33,85%.  Fonteles bombardeia, incansavelmente, sua imagem ao rosto de Lula, líder das pesquisas nacionais. Enquanto isso, Silvio tem migrado cada vez mais para uma campanha eleitoral com foco apenas no Piauí. Tem sido um trabalho hercúleo se desvencilhar do bolsonarismo – ainda mais quando a vice e seu principal articulador, quando longe do Piauí, marcham ao lado dele. 

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