Em setembro de 2019, durante uma festa de casamento, Anuxa Alencar e o namorado, o empresário Pablo Henrique, se desentenderam. Na companhia do casal, a amiga Vanessa Carvalho presenciou a briga. Anuxa resolveu ir embora para casa de Vanessa. Ao chegarem, a amiga percebeu que a chave do carro de Pablo estava dentro da bolsa – foi quando elas decidiram voltar ao local da festa para devolvê-la.
Anuxa entrega a chave para a outra amiga. Logo após ela e Vanessa caminham em direção ao carro quando são surpreendidas por Pablo, dirigindo o automóvel e acelerando em direção às duas. A tentativa de feminicídio acabou tirando a vida de Vanessa e deixando Anuxa ferida.
Pablo alega que não sentia ciúmes de Anuxa e que só tinham discussões quando faziam uso de bebidas alcoólicas. “Quando ocorriam discussões que eu via que ia aumentar o nível por conta da bebida, da agitação, eu preferia sair”, declarou em julgamento. Por outro lado, Anuxa ressaltou o ciclo do relacionamento abusivo que viveram e lembrou que ele e Vanessa chegaram a discutir por mensagens, quando a amiga a defendeu após uma discussão do casal.
O empresário foi condenado a 21 anos e oito meses de prisão por feminicídio e tentativa de feminicídio O julgamento aconteceu no Fórum Cível e Criminal Desembargador Joaquim de Souza Neto, em Teresina. No processo, Pablo confessou o crime: “Mesmo inconsciente, era eu que dirigia o carro”.
Pelo feminicídio contra Vanessa, Pablo foi condenado a 11 anos de prisão e, pela tentativa contra Anuxa, a pena foi de 10 anos e oito meses. Ao todo, o Conselho de Sentença considerou que ele cometeu os crimes com três qualificadores: motivo fútil, em razão do gênero feminino das vítimas e impossibilidade de defesa das vítimas.
Para a delegada Bruna Verena, condenações como essa são importantes por mostrar que Leis como a Maria da Penha estão em vigor, além de trazer segurança para as vítimas que não costumam denunciar por medo da falha do sistema. “Os órgãos estão atentos a essas violências praticadas contra mulheres e não passarão impunes”, afirma à reportagem.
Segundo o estudo realizado pela Rede de Observatórios da Segurança, feminicídios e tentativas de feminicídios correspondem a 69% das violências cometidas contra as mulheres. Uma mulher é vítima de violência no Piauí a cada 72 horas, sendo a maior parte dos crimes cometida por companheiros e ex-companheiros. “Pedimos para que a sociedade esteja atenta a esses casos e denunciem”, pontuou a delegada.
Ao todo, menos de 15% das mulheres que sofrem algum tipo de violência chegam às delegacias – é o que apontam os dados apurados pela Polícia Civil. Essa estimativa demonstra a grande subnotificação no Piauí. Entre janeiro e setembro do ano passado, no Piauí, foram cerca de 4.909 boletins de ocorrências registrados nas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) – segundo último levantamento realizado pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP-PI), através do 7º Boletim de Ocorrências de Violência Contra a Mulher no Piauí. O número alarma um crescimento de quase 30%, se comparado ao mesmo período em 2020.
Como denunciar casos de violência contra a mulher?
Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher. A denúncia pode ser feita de forma anônima e o canal está disponível 24 horas por dia. O serviço registra e encaminha as denúncias para os órgãos competentes.
Delegacias da Mulher em Teresina:
Centro: (86) 3233-2323
Sul: (86) 3220-3858
Sudeste: (86) 3216-1572
Norte: (86) 3225-4597
Delegacia de Flagrante de Gênero: (86) 3216-5038/ (86) 3216-5042
Nos municípios, as denúncias podem ser feitas nas delegacias de polícia.
No aplicativo Salve Maria, as denúncias também podem ser feitas de forma anônima.
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