sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Em dois anos, ataques a mulheres jornalistas aumentaram no país

Vídeo de jornalista em sabatina é usado de forma sexista por página de humor

09 de setembro de 2022

Edição Luana Sena

Em sabatina televisionada, a jornalista Cinthia Lages questionou se o Coronel Diego Melo (PL), candidato ao governo do estado, estava armado no estúdio de televisão. O político assentiu e, logo em seguida, Cinthia afirmou ter medo de entrevistar candidatos armados. Dias depois, o trecho da entrevista repercutiu e a profissional virou alvo de memes em perfis de humor nas redes sociais. O diálogo foi recortado com conotação sexual – a edição usa uma trilha musical erotizada ao fundo, colocando a jornalista em situação vexatória. 

O caso ilustra dados divulgados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji): em 2021, foram registrados 119 ataques contra mulheres jornalistas e ataques de gênero envolvendo a imprensa. Houve um crescimento de 23,4% nos alertas de violações à liberdade de imprensa entre os anos 2020 e 2021, de acordo com monitoramento feito pela entidade.

Recentemente, também em sabatina na TV Meio Norte, o candidato Sílvio Mendes (União Brasil) se referiu à jornalista Katya D’Angelles, que o entrevistava, como “quase negra”. A fala foi considerada de tom racista e repercutiu negativamente na mídia nacional. Katya deu um depoimento sobre como ser uma mulher negra na imprensa, aqui no oestadodopiauí

Leia mais: “Entender um episódio racista nunca é de uma hora para outra, não é? Porque nunca é aquele momento ali, é a sua vida inteira”

No estudo Como operações de influência entre plataformas são usadas para atacar jornalistas e enfraquecer democracias?, da revista AzMinas, foi observado que a linguagem é diferente em ataques contra jornalistas de determinada raça ou etnia. Mulheres negras e asiáticas, por exemplo, são mais associadas aos termos “tendenciosa”, “parcial” e “ridícula”. 

Importunação sexual e física também fazem parte do cenário de violência que mulheres jornalistas vivenciam durante a profissão Em uma noite de jogo de futebol, a jornalista Jéssica Dias, da ESPN, entrou ao vivo para narrar a chegada da torcida. Durante a reportagem, a repórter foi surpreendida com um beijo no rosto, do oficial de justiça, Marcelo Benevides. Em depoimento à polícia, Jessica afirma que Marcelo já havia incomodado-a antes de aparecer no ar, com xingamentos e beijos no ombro. 

O oficial de justiça, que estava na companhia de seu filho, foi preso em flagrante. De acordo com a ESPN, a equipe que acompanhava a repórter segurou Marcelo e pediu para que a Polícia Militar o levasse à delegacia. O agressor foi levado à 19ª DP, do Rio de Janeiro (Tijuca).

Segundo pesquisa da Federação Nacional dos Jornalistas, o número de casos de atentados contra profissionais e de violência contra a organização dos trabalhadores, cresce constantemente. Foram quatro atentados e oito ataques a entidades/dirigentes sindicais. A censura é a violência mais comum nos últimos relatórios, ocupando hoje o primeiro lugar nos ataques. 

A maioria das censuras foi cometida por dirigentes da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), aparelhada pelo Governo Federal. O estudo aponta que foram registradas 140 ocorrências de censura, 138 cometidas dentro da EBC.  As censuras representaram 32,56% do total de casos, enquanto a descredibilização da imprensa respondeu por 30,46%  (foram 131 ocorrências no total). Entre as mulheres, 61 (26,64%) foram vítimas de algum tipo de violência, a maioria delas com viés machista e misógino.

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