Cerca de 302 mil pessoas do Piauí possuem algum tipo de deficiência, o que corresponde a aproximadamente 9% da população do estado. Do total de pessoas com deficiência, quase 40% são analfabetas, ou seja, não sabem ler nem escrever, segundo o estudo “Pessoas com deficiência e desigualdades sociais no Brasil (2019)”, feito por pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O dado revela que essa parte da população sofre com índices de escolaridade bem inferiores às médias da população sem deficiência no estado. Para estas, a taxa de analfabetismo é de 11,8%.
Misael Weslley possui deficiência auditiva e, felizmente, conseguiu superar a falta de acessibilidade para concluir sua formação escolar. Em entrevista ao oestadodopiaui.com, ele lembra que precisou aprender a oralizar de forma minimamente compreensível por falta de acessibilidade para atendimento em Libras e por não ter contato com outros surdos. “Na adolescência comecei a ter contato com a comunidade surda e desenvolvi mais a linguagem de sinais”, conta. Entre as dificuldades vivenciadas, Misael destaca a falta de comunicação acessível em lojas, igrejas e mercados. “Era difícil, mas como eu sabia oralizar um pouco fui conseguindo”. Hoje ele é professor de Libras na faculdade Uniasselvi, em Teresina.
Mesmo com alguns avanços, Misael ressalta que ainda resta muito trabalho para a implementação de programas que garantam uma inclusão efetiva de pessoas com deficiência no Piauí. “Não apenas inclusão”, observa, “mas também integração dessas pessoas em todos os espaços, públicos ou privados, para que atuem também”, conclui.
Libras no Piauí
Dentre os 224 municípios do Piauí, apenas 11 possuem pessoal capacitado para atendimento em Libras (Língua Brasileira de Sinais) na sede do governo municipal, mesmo esta sendo a segunda língua oficial do Brasil. Há 20 anos, a Libras passou a ser o meio legal de comunicação e expressão, por meio da Lei 10.436, que obriga escolas, faculdades, repartições do governo e empresas concessionárias de serviços públicos a providenciarem intérpretes para atender aos surdos.
O número de cidades piauienses capacitadas a realizarem atendimento em Libras representa apenas 4,9% dos municípios do estado. Em Nossa Senhora do Piauí, por exemplo, Ana Patrícia (surda) não teve formação em Libras e se comunica por gestos e expressões.
O índice dos municípios do estado com atendimento em Libras é inferior à média brasileira: 8% das cidades do país informaram possuir pessoal capacitado para atendimento em Libras nas sedes municipais.
Acessibilidade em Teresina
Apesar dos índices baixos de escolaridade e atendimento em Libras, o cenário no Piauí é animador quando se trata da adaptação de espaços públicos, para facilitar a acessibilidade de pessoas com mobilidade reduzida. A maioria dos municípios piauienses (83%) são adaptados para essa parte da população: 186 dos 224 municípios. Nesse quesito, o estado supera a proporção nacional, uma vez que 81% das cidades brasileiras contam com espaços públicos adaptados a pessoas com deficiência, segundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Em Teresina, no entanto, o cenário é preocupante para pessoas com deficiência. No último levantamento da Mobilidade Urbana Sustentável, a capital foi considerada a 6ª cidade menos acessível nas ruas e calçadas.
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