Apenas pouco mais de um mês separam o famoso “Grito do Ipiranga”, em 7 de setembro, do 19 de outubro de 1822. Naquele dia, há 200 anos, a elite intelectual de Parnaíba assinava um decreto proclamando sua adesão à causa brasileira. A província do Piauí soltava a mão da coroa e dava os primeiros passos rumo à independência.
Quando iniciamos o projeto Brava gente!, em alusão ao bicentenário da independência, confesso que fui um tanto petulante ao dizer que o Piauí era meio que o quintal do Brasil. A figura de linguagem era para dar uma tom de sertão esquecido, castigado pelo calor e pela aridez. Acontece que esse quintal de país era também o Norte do império, do qual a coroa não pretendia de forma alguma abrir mão. Entre o Norte e o Sul do território brasileiro pertencente a Portugal, havia um vinco: e este vinco se chamava Piauí.
Talvez eu tenha ignorado a importância de nossos quintais. No quintal da gente cabe o mundo, afinal. E, para as pessoas que aqui viviam naquele século, a terra e a sua comunidade era o mais perto de uma ideia de nação que poderiam ter. Os pastos e currais eram o pedaço de mundo que conheciam, e pelo qual valia a pena lutar e morrer.
O Piauí era uma incógnita. Talvez ainda continue sendo mesmo essa interrogação. A explicação tradicional diz que este foi o único estado ocupado do interior para o litoral – o que ajuda a entender a frustração da capital sem praia. É bastante a nossa cara querer ser diferentão. Exagerar nos superlativos, caprichar na hipérbole para reforçar um talento nato: transformar adversidade em qualidade. O sol que castiga é o mesmo que põe o estado no topo em produção de energia. O vento, os rios e toda a potência natural dessa região produzem agora riquezas nas quais o mundo está de olho.
A conversa com o historiador e professor Johny Santana, um piauiense que calhou de nascer no Maranhão, ajuda a ver versões talvez um pouco desbotadas da história do Piauí. Johny é um tipo verdadeiramente apaixonado pelo que faz. Conta com a mesma empolgação sobre a guerra pela independência ou a história de como conheceu sua esposa. Espero que a entrevista com ele sirva como uma aula de história que deveríamos ter tido na infância.
Por coincidência – dessa mesma que faz a gente nascer em determinado lugar, e não em outro – apenas mulheres atenderam ao nosso pedido de um relato sobre a piauiensidade que carregam. De Floriano, Teresina, União, Colônia do Piauí e São Raimundo Nonato, elas deram o nome em toda bravata que resolveram enfrentar. “O estado sou eu” virou, sem que percebêssemos, um estado delas. Ou, um estado feito por elas.
Feliz dia do Piauí.
Luana Sena
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