Há um ano, Célia Mendes está à procura de um emprego. Ela faz parte do grupo em maior vulnerabilidade no mercado de trabalho piauiense: as mulheres. O dado, referente a 2021, é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e considera o contexto de crise provocado pela pandemia da Covid-19. O levantamento também aponta que as mulheres são as mais afetadas pela desocupação, apesar de serem maioria entre as pessoas em idade ativa.
Os dados estão disponíveis no relatório de pesquisa divulgado pela Seplan (Secretaria de Estado do Planejamento), intitulado “Mercado de trabalho piauiense: Panorama atual e identificação de grupos (historicamente) vulneráveis laboralmente”.
Nesse grupo de pessoas – com idade acima de 14 anos – 52,5% são mulheres, enquanto os homens correspondem a 47,5%. Contudo, a taxa proporcional de participação dos gêneros é bem distinta: os homens correspondem a 56,6% da força de trabalho, enquanto as mulheres formam 43,4%.
Até o início de 2021, Célia cursava Psicologia, mas precisou trancar o curso para procurar trabalho, pois não podia arcar com os custos da faculdade. Atualmente, além de não poder retomar o curso, continua sem uma fonte de renda. A maioria das pessoas desempregadas que ela conhece são mulheres.
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Na saga por um emprego, Célia também se tornou mais experiente em avaliar o mercado, as condições oferecidas e como é o tratamento dado às candidatas. “Isso me fez mais exigente também quanto aos meus direitos, mas nunca desistindo, sempre tentando”, contou à reportagem.
A recrutadora Elanne Vitório, da Carreira RH, explica que as funções e papéis sociais desempenhados pelas mulheres contribuem com esse cenário de desemprego entre elas. “A busca por empregabilidade é mais difícil para as mulheres por já serem mães, principalmente para as mães solo”, disse. “Quando participam de uma entrevista, acabam falando, espontaneamente, que a empresa não precisa se preocupar com o fato de elas serem mães e garantem que têm rede de apoio”. Segundo Elanne, temendo a discriminação, as candidatas buscam convencer os empregadores que a maternidade não é um obstáculo ao seu desempenho profissional.
Maria Fontenele superou as dificuldades para se inserir no mercado após cinco meses desempregada. Ela começou a trabalhar no setor logístico de uma transportadora cujo quadro de colaboradores é majoritariamente masculino, e experimentou dificuldades no ambiente profissional por ser mulher. “Liderei uma equipe com 24 homens e todos me respeitavam, mas quando o nível hierárquico aumentava um pouco, era mais complicado ser ouvida”, lembrou à reportagem. Durante a entrevista, Maria relatou ainda que, em algumas reuniões, precisou passar suas contribuições aos seu supervisor para que ele transmitisse a mensagem aos colegas de profissão.
Até sair das estatísticas de desemprego, a rejeição em processos de seleção por conta do gênero foi constantemente vivenciada por Marina. “Participei de processos seletivos tendo o perfil ideal para a vaga”, recorda. “Mas não era selecionada e acredito que o fato de eu não ser homem foi determinante para as empresas”, completa.
A análise do IBGE sobre a condição das mulheres no mercado profissional observa que a inserção laboral do gênero é menor que a dos homens, isso porque a elas são dadas menos oportunidades de trabalho proporcionalmente. Segundo o PNAD, em mais de 10 anos a taxa de participação de mulheres no mercado de trabalho do Brasil cresceu apenas 1,7%.
É para transformar essa realidade que Elanne Vitório e as demais recrutadoras da Carreira RH tem atuado. Em seu trabalho, o público minoritário que mais recebe atenção são as mulheres, principalmente as que são mães e mães solo. Apesar dos desafios, os indicadores da agência mostram que mulheres entre 25 e 45 anos formam o grupo mais contratado por meio dos recrutamentos que realiza.
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