Nos últimos três anos, o número de acidentes em rodovias federais caiu: 1346 (2019), 1200 (2020) e 1136 (2021). Nas cidades piauienses, a queda foi brusca. Em 2019, foram registrados 12.763 acidentes, enquanto no ano seguinte, marcado pelo isolamento social imposto pela Covid-19, o número de acidentes caiu para 3.977. Em 2021, com a flexibilização das medidas de distanciamento, o número triplicou em relação ao ano anterior: foram 9.032. No estado, o perfil que mais morre em acidentes é de homens com mais de 45 anos, em motocicletas. Em um levantamento feito pelo DataSus, o Piauí é o estado com a maior taxa de mortalidade por acidentes. Com a alta dos acidentes, preocupações quanto à saúde pública, educação de trânsito e infraestrutura urbana se acendem no estado. A reportagem #2 da série TRÁFEGO traz um panorama geral dos acidentes, onde eles acontecem, com quem e por quais motivos.
A média de acidentes com vítimas a cada 100 km em rodovias piauienses se mantém constante desde 2019, totalizando 39 acidentes. Em uma viagem com distância equivalente ao percurso de Teresina a Cabeceiras do Piauí (96 quilômetros), por exemplo, seria possível encontrar 39 ocorrências nas rodovias. A Confederação Nacional do Transporte (CNT) explicou que somente após 2015 os registros de acidentes passaram a ser realizados pelos motoristas, por meio da declaração eletrônica de acidente de trânsito (e-DAT) na internet, substituindo o boletim realizado pessoalmente pelos policiais rodoviários federais. A nova metodologia conseguiu mapear com mais precisão a quantidade de acidentes por quilômetro nas rodovias brasileiras.
Entre 2008 e 2018, o número de mortes contabilizadas pela CNT chegou a 24.538. O número é maior que o contingente populacional de algumas cidades do Piauí, como Uruçuí, onde habitam 21.746 pessoas, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2021). O número também supera outras cidades piauienses, como Valença do Piauí (20.940), Amarante (17.609) e Castelo do Piauí (19.716). E chega a ser cinco vezes maior que cidades como Guaribas, onde a população beira os 4.573 habitantes.
A estimativa também se repete nos anos de 2020 e 2019. As estatísticas mostram ainda que nove em cada dez mortes por essa causa são de homens (88%), a maioria com idade entre 20 e 49 anos. De acordo com dados do Ministério da Saúde, pelo DataSus, o Piauí possui a maior taxa de mortalidade por acidentes com motocicletas em relação aos demais estados brasileiros. São 16,6 mortes a cada grupo de 1000 habitantes.
Nos últimos cinco anos, mais de 44 mil acidentes vitimaram 1.922 pessoas e deixaram mais de 33 mil feridos. Segundo a secretaria nacional de trânsito, esse número não contempla os registros de acidentes de trânsito notificados pela Polícia Rodoviária Federal.
A BR-343 é a rodovia mais perigosa do Piauí, com maior número de acidentes e mortes. A rodovia diagonal do estado liga a cidade de Luís Correia a Bertolínia, como também a capital do estado ao litoral. No entroncamento com a BR-404, a rodovia liga o Piauí ao Ceará. Foram contabilizados 1.104 acidentes, sendo 458 de natureza grave. 1.244 pessoas ficaram feridas e houve 135 mortes, em 2022. Se comparado ao ano de 2021, a quantidade de acidentes reduziu em 3,07%. Por outro lado, as taxas de feridos e mortos registraram crescimento: 1,55% e 3,85%, respectivamente.
O custo anual estimado dos acidentes ocorridos em rodovias federais no Piauí chegou a R$ 244,86 milhões, somente em 2021, quando foram registrados 1.136 acidentes no estado. Comparado aos anos anteriores, os gastos têm aumentado a cada ano. Em 2020, o custo aos cofres públicos dos 1.200 acidentes chegou a 230 milhões e, em 2019, os 1.346 acidentes custaram 226 milhões. Em todos os anos, acidentes com mortes chegam a ter um gasto quase 17 vezes maior.
Conforme levantamento da PRF, a falta de atenção ao volante lidera a lista do ranking com as 20 principais causas de acidentes com, pelo menos, uma morte – levando em consideração acidentes ocorridos entre 2019 e fevereiro de 2022. São apontados como provocadores da desatenção do motorista ao volante: conversa ao celular, manuseio de aparelho de som ou vídeo automotivo, uso de cigarro e conversas paralelas, segundo a PRF. O número é bem maior que motoristas em alta velocidade e ingestão abusiva do álcool.
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Esta reportagem integra a série especial TRÁFEGO, sobre acidentes de trânsito e o impacto social e econômico de suas consequências.
Textos: Vitória Pilar
Edição: Luana Sena
Revisão: Laís Romero
Direção de arte: Aline Santiago
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