terça-feira, 3 de dezembro de 2024

A gente toca e se encontra lá

De volta depois de 14 anos, o Piauí Pop segue como um grande propulsor de artistas locais

23 de junho de 2023

Entre os anos de 2004 e 2009, uma multidão de jovens e outros nem tão jovens assim “se encontrou lá” num dos eventos que colocou o Piauí na rota dos grandes festivais do país. Mais do que o primeiro, ele foi o maior mecanismo de impulsionamento de bandas piauienses. Nomes que já eram conhecidos no cenário local dividiram o palco do Piauí Pop com jovens recém saídos da garagem e, ao mesmo tempo, com bandas nacionais de enorme sucesso. Essa interação resultou em um novo patamar para a música piauiense.

O evento passou 14 anos adormecido e retorna em 2023 com muita expectativa por parte do público e também das bandas. Neste ano, serão mais de 30 atrações nacionais e diversas bandas locais dividindo o palco em cinco dias de uma grande mistura de tribos, cores, sabores, ritmos e um jargão que até hoje se mantém vivo graças a força do seu idealizador Marcus Peixoto, que com seu jeito meio sisudo ninguém jamais o imaginaria dizendo a frase “a gente se encontra lá”.

Em um dos momentos mais emocionantes do evento,, o vocalista do Biquini Cavadão, Bruno Gouveia, finaliza o evento com a bandeira do Piauí ao fundo e ao lado de Marcus Peixoto.

Mas para falar do evento hoje, é preciso voltar no tempo para entendermos o que isso, de fato, representa para a cultura piauiense, principalmente para o Pop e Rock. O músico, produtor e professor Marlon Rodner é um dos artistas que vivenciou as diversas fases da música piauiense. Ele lembra que no final da década de 90, já haviam festivais com uma grande mistura de arte, tanto com música quanto com artes visuais e que tinha uma boa resposta de público. “A cidade, que era dominada por outros estilos como forró e mais populares, tinha carência de um evento de rock, pop, de reggae, de música alternativa e MPB. Então a gente fez o Arte Para a Esperança, que misturava várias expressões artísticas. Tiveram outros também. Foi muito bom. Aí veio o Piauí Pop que era exatamente o que estávamos precisando porque uniu a valorização da música autoral e ainda mais de estarmos tocando com nossos ídolos”, lembra.

Marlon participou de todas as edições do evento. Na imagem, com a banda Acesso.

Um dos principais pontos do evento que é destacado por vários artistas locais é a valorização da produção autoral. Isso, porque mais do que mostrar o trabalho de quem estava na luta por um lugar à sombra [em Teresina não dá pra ser ao sol], ainda cabia de incentivo para a produção. “Um mega festival para trinta mil pessoas tinha critérios de qualidade para se apresentar. Então, a gente se movimentava em estar sempre produzindo, gravando CD, gravando single, fazendo shows durante o ano, especiais, exatamente pra gente se apresentar de uma forma competente. Então foi crucial pro cenário do Piauí. Eu acho que não existiria o cenário que tem hoje sem ele”, destaca o músico Yuri, da banda Aclive.

Além de ser uma vitrine para os artistas locais, o evento ainda proporcionou uma interação importante entre músicos piauienses e seus ídolos, algo que influenciou diretamente na produção de novos trabalhos e um network importante. “A gente via as grandes bandas, interagia com com as grandes produções, trocava discos, trocava informações. E a gente vivenciava um ambiente que não era comum pra gente durante o resto do ano. Isso criou uma casca de responsabilidade e qualidade profissional, pelo menos em mim e em muita gente. Então hoje quando eu chego aqui em São Paulo, que eu tenho contato com algum artista, tenho um respaldo de dar carteirada e dizer que eu toquei no Piauí Pop, abrindo o show dele ou no mesmo palco do que ele”, acrescenta Yuri (vídeo abaixo).

Outro ponto que é bastante destacado entre artistas, produtores e até mesmo pelos público é que o Piauí Pop deixou estado para um outro patamar tanto na produção como na valorização de um evento que abraça diversos segmentos artísticos. “Foi um presente fantástico que o Marcus Peixoto deu para a gente, porque ele deu a valorização da música autoral aqui no Piauí, principalmente nesse nicho do pop, rock e reggae, o que representa uma grande valorização e ainda mais com a questão de estar tocando com nossos ídolos. É não é só um festival de música, mas de várias expressões artísticas que estão sendo somadas, arte, cultura, conhecimento e formação”, acrescenta Marlon Rodner.

Apesar da partida do seu idealizador Marcus Peixoto em 2012, a ideia de mostrar a música piauiense segue viva. E na mesma linha das edições anteriores, o evento se mantém como vitrine da música piauiense. Nesta edição, irá reunir várias gerações da música como Yuri, Marlon (com a banda Acesso), além de Calmô, Navegantes; Cabessativa, Cochá; Roque Moreira, Narguile Hidromecânico e Amigos do Vigia; Cojobas, Narcolicista, Radiofônicos; Validuaté, Danilo Rudah, Original Flip, bem como as novidades desse ano, que são as bandas Felinho, Math Gabe e Banheiro de Rodoviária, escolhidos em votação.

Entre as atrações principais, o evento terá grupos como Poesia Acústica, Planta e Raiz, Raimundos, Natiruts, Paralamas do Sucesso, Edu Falaschi, Paulo Ricardo, Biquíni, Xamã, Sandrá de Sá, Marcelo Falcão, Filip Ret, Detonautas, Sidoka, Criolo, Fróis e Cinthiz Luz, finalizando com Negra Li.

Eles se apresentam entre os dias 04 e 08 de junho no Estádio Albertão e no estacionamento da Fiepi a partir das 17h.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Diego Iglesias

Jornalista, mestre em comunicação pela Universidade Federal do Piauí.

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