domingo, 24 de novembro de 2024

A porta-voz do povo

De Floriano para todo o Piauí, Aparecida Santana revela que o segredo do jornalismo é comunicação clara e simples

16 de fevereiro de 2022

Edição Luana Sena

— Boa tarde, telespectadores! Aqui é Aparecida Santana, diretamente de Floriano, sul do Piauí…

Há mais de dezessete anos, essa apresentação marca o cotidiano da repórter Aparecida Santana. Atualmente, aos 38 anos, ela conta que a sua história com as câmeras e o microfone não fazia parte dos seus planos. A comunicadora, que já chegou a ser garçonete, vendedora e locutora em lojas e carros volantes (tipo comum de comunicação em pequenos municípios), teve como primeira formação o curso de pedagogia – chegou a dar aula para jovens e adultos em escolas públicas e privadas de Floriano, centro-sul do Piauí, cidade onde nasceu e vive até hoje.

Aparecida sempre percebeu o jeito que tinha para comunicação. O talento era comentado pelos amigos e familiares, mas se acentuou na igreja, quando virou líder de crianças e jovens. Quando se candidatou à vaga de vendedora no armazém Paraíba, logo identificaram as habilidades de interação com o público, e ela foi transferida para o departamento de Comunicação e Publicidade. Os dois anos de experiência no setor da loja lhe levaram para realizar um estágio na TV Alvorada, onde despontaram suas primeiras aparições para o Piauí. 

Na época, a TV Alvorada – sucursal da TV Clube em Floriano –  tinha três equipes e um dos repórteres estava saindo para estudar na cidade de Picos. Com a equipe em desfalque, a oportunidade apareceu. Foram necessários seis meses de treinamento, a princípio, com pautas leves e mais curtas. “Eu conheci um novo mundo jornalístico”, conta a repórter. 

Há quase duas décadas como profissional, Aparecida agora divide seu tempo com a graduação em Letras e informando o Piauí com as notícias do sul do estado. Em 2018, ela tirou a certificação de Rádio e TV, por meio do Instituto ComRadio, destinada para profissionais piauienses que atuavam sem diploma de jornalismo. “Eu sempre tive preocupação em aprender e quero ser uma aluna para o resto da minha vida”, contou à reportagem.

Longe das câmaras e sem microfone, Aparecida é casada e mãe de dois meninos – um de 15 e outro de cinco anos – e gosta de se fazer presente na vida da mãe, irmãos e sobrinhos. “Gosto de estar com eles, me fazem bem, recarregam minhas baterias”, ressalta. Quando não está na TV, está assistindo, principalmente as novelas orientais (doramas) e descobrindo desenhos animados. “Inclusive, tenho vários para terminar com meus filhos”, brinca.

Com uma extensa experiência profissional, Aparecida revela que sustos e aflições moldaram parte da sua carreira – mas nada que a fizesse ficar com medo, ela diz. Em Floriano, sempre que surgem matérias que necessitam de especialistas e técnicos que não atuam nas cidades, é um esforço maior para as reportagens. Ela observa mudanças no cenário, tendo em vista a ampliação econômica que pequenas cidades recebem paulatinamente. 

Cada pauta é uma emoção e ser sensível faz parte da vida profissional de Aparecida. Em um dos períodos mais críticos da interiorização do coronavírus, no Piauí, o Hospital Tibério Nunes, em Floriano, atingiu sua capacidade máxima de ocupação de leitos – coube a Aparecida anunciar durante uma passagem de TV, ao vivo, a morte de uma amiga, vítima da Covid-19. Não conteve as lágrimas. “Nós somos jornalistas, estamos na rua e trazendo a informação verdadeira”, disse com a voz embargada de choro. “Pedimos que as pessoas sigam as regras e, quem puder, fique em casa”.

Aparecida rompe um padrão na televisão: uma mulher negra, do interior do Piauí e que não abre mão da boa e simples comunicação. “Não precisa mergulhar nos termos técnicos para falar com o povo – esclarecer o assunto faz parte da missão”, ressalta. Ela não perde de vista a função social da profissão de jornalista, que descreve como “porta-voz do povo”.  Para alcançá-lo, no entanto, revela que o segredo é simples: ouvir e falar da forma mais compreensível possível.

Apaixonada pela cultura regional, decidiu ser também pesquisadora. Integra atualmente o grupo de pesquisa NENIM (Núcleo de Estudos em Neorregionalismo Imaginário e Narratividade), ligado à Universidade Federal do Piauí. Entre seus sonhos, ela ainda pensa em fazer reportagens sobre as diversidades culturais dentro e fora do Brasil. “A identidade dos povos me encanta e eu gosto de contar essas histórias”. 

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Categorias: Reportagem

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