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Além de glitter e confete

Cancelamento do carnaval impacta cadeia de trabalhadores, que reivindicam auxílio do poder público

07 de fevereiro de 2022

Entre os dias 21 e 29 de fevereiro de 2020, uma das maiores festas do Brasil foi realizada. Naquele ano, o Carnaval aconteceu naturalmente, mesmo com a atenção do mundo voltada para a China, onde havia sido identificado o primeiro caso de coronavírus, no final do ano anterior. A confirmação da doença no Brasil ocorreu no dia 26 de fevereiro, um dia depois do feriado de carnaval. 

Em 11 de março de 2020 a Covid-19 foi caracterizada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma pandemia, uma vez que já existiam casos da doença em várias regiões do mundo. Com o aumento do número de mortes registradas diariamente, o distanciamento social e o isolamento eram as únicas medidas eficazes para evitar a contaminação desenfreada de pessoas.

Além das mudanças de hábitos, da saúde e da economia, uma das áreas mais afetadas pela pandemia do novo coronavírus foi o entretenimento. O cancelamento de shows e eventos, sem previsão para a retomada de agendas, surpreendeu os artistas e os mais diversos profissionais que trabalham na área e têm a arte como única fonte de renda. 

Uma grande expectativa foi gerada para a realização do carnaval em 2022 – com o avanço da campanha de vacinação e boa parte da população já tendo cumprido o esquema vacinal inclusive com a dose de reforço. No entanto, em novembro de 2021, uma nova variante da Covid-19 foi identificada. Após o surgimento da Ômicron, os casos de pessoas diagnosticadas com Covid-19 voltaram a subir.

O público e profissionais do carnaval não discordam da necessidade de suspender a folia. Mas os setores de cultura, turismo, comércio e serviços, que dependiam da festa e do feriado, ficaram, em grande parte, desassistidos com o segundo ano consecutivo de cancelamento dos eventos.

“É um momento em que muitos teresinenses aproveitam para equilibrar suas finanças, pois no carnaval o dinheiro circula e os serviços são mais valorizados, a exemplo dos cachês dos músicos e dos dançarinos, locação de som, palco e iluminação”, explica Messias Júnior, coordenador da Associação dos Blocos Carnavalescos de Teresina (ABCT) e presidente do Bloco do Paçoca. “Sem falar nas vendas de quem trabalha informalmente vendendo comidas e bebidas nas festas carnavalescas”.

Carnaval realizado pelo bloco do Paçoca na zona Sul de Teresina, bairro Saci, em 2020 (Arquivo pessoal)

Para Messias Júnior, a prefeitura de Teresina, através da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, deveria aproveitar o período pandêmico para organizar toda a cadeia produtiva que gira em torno do carnaval.  “Seria necessário apresentar ao legislativo uma lei do carnaval, para acabar com essa inconstância carnavalesca existente na cidade”, opina. “A publicação de editais e uma bolsa auxílio também seriam iniciativas que a prefeitura e o próprio estado, através da Secult, poderiam estar realizando, afinal fomos os primeiros a sermos afetados e continuamos sendo”.

Em entrevista ao Jornal do Piauí, o presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Ênio Portela, disse que está em discussão a implantação de uma bolsa auxílio para artistas, mas esclarece que ainda é necessário um estudo. “A princípio, a gente cancela os eventos e vê a possibilidade de implantar uma ajuda para os artistas, mas tudo precisa ser estudado”, explicou. 

Bia Magalhães, vocalista da banda Bia os Becks, relata sobre a dificuldade de se sustentar enquanto artista desde o início da pandemia. “Fomos o primeiro setor a parar, então tenho que fazer bicos em outras profissões para me manter, pois o poder público não deu nenhuma assistência para a classe artística”, diz.

A artista explica que é sim a favor do cancelamento das festas e aglomerações, pois tem consciência do aumento de casos nos últimos meses e o aparecimento de novas variantes, mas acredita que é papel do poder público minimizar o impacto da pandemia para os setores que necessitam de eventos para gerar emprego e renda. 

Banda Bia e os Becks em ensaio para a divulgação do bloco Tensão, Tesão e Criação no carnaval de 2020

De ambulante a verdureiro 

 

Cachorro quente, água, refrigerante, cerveja – quem gosta de frequentar os eventos carnavalescos em Teresina, com certeza já comprou algum desses produtos na barraca do Edson Reis, vendedor ambulante há 30 anos. “Eu nunca deixei de trabalhar em nenhum carnaval”, conta a reportagem. “É de onde tiro a maior parte do meu sustento”.

Não é só o setor artístico que se prejudica. Sem o carnaval de rua, os vendedores ambulantes perdem por mais um ano a chance de faturar em uma das maiores festas públicas. “O carnaval é esperado por qualquer ambulante, o que me deixa triste é que a prefeitura nem lembra que existimos”, desabafa. 

O ambulante relembra que, em abril de 2021, um auxílio foi pago para trabalhadores de bares e restaurantes em todo o estado, como ajuda paliativa ao setor que se encontrava parado. “Tem ambulantes passando fome e mesmo assim nada está sendo feito pelo poder público”, diz Edson. Ele também conta que a alternativa encontrada por alguns ambulantes foi vender verduras nas ruas da cidade – mas acrescenta que nem todos vendedores tinham dinheiro guardado para adquirir os produtos e comercializá-los.

O último decreto publicado no dia  1º de fevereiro no Diário Oficial do Estado proíbe qualquer evento ou festa de carnaval no Piauí. O documento mantém ainda a abertura de comércio em geral, bares e restaurantes com exigência de comprovante de vacinação. As principais cidades do estado que possuem festas tradicionais de carnaval, Barras, Floriano, Luís Correia e Água Branca já haviam suspendido seus carnavais de rua em dezembro de 2021, bem como as festas de fim de ano.

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Categorias: Reportagem

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