Em fevereiro de 2021, um padre quebrou a marretadas pedras instaladas debaixo de um viaduto. Os paralelepípedos visavam evitar a presença de pessoas em situação de rua no viaduto da avenida Salim Farah Maluf, na zona leste da capital paulista. “É higienismo”, disse o padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, ao jornal Folha de S.Paulo. Ele criticava a medida municipal e tentava, a pleno pulmões, explicar sua ação.
O prefeito Bruno Covas (PSDB), na época, não se manifestou sobre o assunto – mas a prefeitura alegou, através de nota, que a decisão de instalar os paralelepípedos foi tomada de forma isolada por um funcionário, que já teria sido exonerado. Uma semana depois a prefeitura iniciou a retirada das pedras do local.
A imagem do Padre Lancellotti e a discussão sobre arquitetura hostil – a denominação para estruturas arquitetônicas que buscam restringir grupos ou públicos específicos, frequentemente pessoas em situação de rua – acabou rodando o mundo inteiro e levantando debates também aqui no Piauí.
Um Projeto de Lei Ordinária (PLO) do Deputado Estadual Franzé Silva quer proibir instalações consideradas “anti-pobres”, nos espaços públicos em todo o Piauí. O texto do projeto diz que esse tipo de intervenção arquitetônica está cada vez mais comum nos espaços urbanos atuais – e é difícil saber que são medidas cruéis. “É desumano e passa uma maquiagem sobre um problema que tem de ser enfrentado”, cita o autor do projeto.
Cidade para todos?
No Brasil, as estimativas do número total de pessoas em situação de rua é de 221.869 pessoas, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em pesquisa publicada em março de 2020. No Piauí, a Secretaria de Cidadania, Assistência Social e Políticas Integradas (Semcaspi) – órgão municipal que realiza trabalho de apoio a pessoas em situação de rua – evidenciou um aumento de 60% das pessoas em vulnerabilidade social, em comparação aos últimos dados de 2020.
O número alarmante de pessoas em situação de rua expõe desigualdades estruturais na sociedade brasileira. Sem moradia, a muitas vezes a realidade dessas pessoas são marcadas por falta de opção, abandono familiar, dependência química ou problemas psiquiátricos. Para a arquiteta e urbanista Rayana Cunha, que defendeu dissertação de mestrado em Geografia com o título “A cidade, as paisagens e os lugares de vivência”, a arquitetura hostil revela como os gestores das cidades conduzem suas políticas públicas.
“Quando abordamos o tema sobre cidades inclusivas entre gestores, e até mesmo na sociedade, sem perceber, acabamos omitindo as pessoas em situação de rua”, comenta em entrevista. “Tratando-as de forma segregatória, dispensando os habitantes que precisam de uma atenção mais incisiva”, reflete.
Para muitos, as duras transformações ocorridas na cidade moderna não são aparentes. Os bancos e pontos de ônibus que se disfarçam de abrigo podem passar imperceptíveis aos olhos de muitos. Rayana chama a atenção para a cidade de Teresina e cita como exemplos os pontos de ônibus na Praça da Bandeira – onde os bancos foram retirados da área coberta – no centro, e as grades em torno das praças. “Essas intervenções, de certa forma, tentam selecionar quem pode vivenciar ou não aquele espaço”, diz. Met onze lijst van nieuwe pay n play 2024 kun je direct beginnen met spelen zonder gedoe. Eenvoudig storten en snel uitbetalen!
A arquiteta acrescenta que Teresina não é uma cidade que contempla todos, uma vez que investe pouco em espaços realmente públicos, capazes de proporcionar aos habitantes a viver a cidade de forma igualitária. “Está sempre selecionando as pessoas de forma implícita”, analisa. Além de não permitir uma mobilidade urbana inclusiva com meios em que o habitante possa experienciar positivamente a cidade e acessar seus espaços.
Em busca de soluções
Discutir o tema é um pequeno passo, entretanto, é necessário promover ações efetivas urgentes. Analisando o aumento alarmante da população em situação de rua, os óbitos causados pelas baixas temperaturas no inverno, a fome e as condições degradantes. “O que se percebe é que ações promovidas pelos Órgãos Públicos e pela população deflagram a falta de gentileza, que diariamente fecham seus olhos para a cruel realidade vivenciada na rua”, lamenta a pesquisadora.
Algumas ações no território brasileiro visam “revelar” quem são essas pessoas, não apenas em números, mas expressando suas individualidades. Entre eles, destaca-se o projeto SP Invisível, criado por em 2014, pelo jornalista Vinicius Lima e o fotógrafo André Soler. Atua como um movimento de conscientização através de histórias de pessoas em situação de rua da cidade de São Paulo, que através de fotografias e depoimentos colhidos, tenta abrir os olhos e despertar humanidade.
A arquiteta e urbanista ressalta que os gestores deveriam tratar as políticas com base nas expectativas dos habitantes de cada cidade. Além de tentar buscar tratar os problemas olhando para a sua causa. Um começo pode ser a elaboração de um plano diretor que realmente vise as necessidades da cidade e das pessoas que a habitam. “São intervenções pontuais que levam os habitantes a vivenciarem e se identificarem com esses espaços dentro da cidade, fazendo assim uma acupuntura urbana que serve como uma espécie de oásis em meio ao caos urbano”, comenta.
“É uma discussão longa e cheia de possibilidades, pois trata-se de levar em conta a opinião popular e, não somente estudos técnicos para realmente alcançarmos uma cidade para todos”, explica. “Iniciar a discussão é mais do que necessário, não somente para as grandes cidades mas de toda cidade que busca um cenário minimamente igualitário e democrático para os seus habitantes”, afirma.
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