Na manhã de 13 de março, centenas de estudantes, professores e pesquisadores do Piauí e outras regiões se reuniram para assistir a conferência sobre a Batalha do Jenipapo no Cine Teatro da Universidade Federal do Piauí. No palco, Johny Santana, professor do departamento de História da Instituição, apresenta seus achados mais recentes de pesquisador: cartas do século XVIII, que dão pistas do caráter popular da luta contra as tropas portuguesas. O evento acontece no mesmo dia em que, há 200 anos, a trágica batalha pela consolidação da independência do Brasil acontecia aqui, no Piauí.
A conferência marcou a abertura da Reunião Regional da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – a maior comunidade científica do país, no Cine Teatro da Universidade Federal do Piauí, na segunda-feira. O plano, que começou a se organizar ainda no ano passado, envolvia dar continuidade às celebrações do bicentenário da independência do país. “A reunião anual no ano passado, realizada em Brasília, teve como mote a independência e a soberania nacional e tivemos uma programação voltada a isso”, explicou Cláudia Linhares, secretária geral da SBPC. “A ideia de vir ao Piauí é dar uma visibilidade nacional, dentro da academia, que merece a Batalha do Jenipapo.”
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Com o tema “Território Ancestral e promissor – ciência para o desenvolvimento sustentável e inclusivo no Piauí”, a caravana de pesquisadores começou a expedição pela cidade de São Raimundo Nonato, ao Sul do estado. Por lá, o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, acompanhado de Fernanda Sobral (vice-presidenta, UnB) participaram de uma mesa redonda sobre política científica e política educacional e o papel da entidade. “Visitamos os dois museus da Fudham, que são extraordinários, e conhecemos o parque com uma guia”, relatou Janine. A equipe também visitou a arqueóloga que fundou o Parque Nacional Serra da Capivara, Niède Guidon. Em 2014, ela recebeu da SBPC o Prêmio Cientista do Ano.
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“Começamos muito bem a volta da SBPC ao Piauí”, comentou o presidente. O estado já possuía representação regional, cuja primeira edição aconteceu em 2016 exatamente em São Raimundo Nonato, com o objetivo de popularizar e valorizar a produção científica nacional e discutir as problemáticas do parque. Contudo, com o passar do tempo, a articulação foi perdendo força. “Por isso foi a nossa primeira parada, antes de irmos à capital e começarmos oficialmente o evento, que procura exatamente pegar o passado pré-histórico, da mais antiga implantação atestada do ser humano no continente americano, quanto as promessas de futuro, com desenvolvimento sustentável e inclusivo”, pontuou.
Durante dois dias, auditórios dos centros da UFPI receberam mesas que discutiram de políticas públicas para a pesquisa científica e tecnológica no país, ao avanço do agronegócio e da mineração no Piauí. Perspectivas para uma economia sustentável, territórios ancestrais, superação da pobreza e inclusão social na academia também fizeram parte dos temas da programação. Na segunda-feira à tarde, uma sessão especial, coordenada pela professora Olívia Perez, trouxe o tema “Violência contra as mulheres: como proteger as Janaínas?”, e relembrou o caso da estudante vítima de feminicídio dentro do campus.
O encontro de pesquisadores acontece em um momento de retomada da pesquisa científica no país – fato que pode ser importante e promissor para o desenvolvimento de estados como o Piauí. Em fevereiro, o governo federal anunciou aumento nas bolsas de pós-graduação e iniciação científica, após uma década de congelamento. O reajuste beneficia diretamente 256 mil pesquisadores bolsistas de agências como CAPES e CNPq.
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O encontro e a retomada da regional científica no Piauí é apenas o primeiro passo para o levante de pesquisas que levem a produção de conhecimento e tecnologia. “O principal para nós é o futuro”, disse o presidente da SBPC. “Apesar de darmos muita importância à história, o principal para nós é pensar: quais são as perspectivas de um estado que por longo tempo foi o estado mais pobre da federação?”, provocou. “Queremos, junto com a sociedade piauiense, contribuir para o desenvolvimento do Piauí, que agora não depende mais tanto do solo, dos minérios ou da agricultura, mas da inteligência.”
A Reunião Regional da SBPC no Piauí encerra hoje, com uma sessão especial às 14h30 no IFPI da cidade de Campo Maior – palco da batalha que imprimiu o nome do estado na história nacional.
Sociedade sustentável
O encerramento do segundo dia de congresso reuniu o físico Paulo Artaxo, da USP, e o biólogo Samuel Goldenberg, da Fiocruz, para abordar os desafios em atingir a construção de uma sociedade sustentável.
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“A questão de construir uma sociedade sustentável se tornou absolutamente estratégica porque o nosso atual sistema socioeconômico é insustentável mesmo a curto prazo”, disse Artaxo. “Isso foi reconhecido pelas Nações Unidas através da estruturação dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, que colocam questões absolutamente essenciais pra humanidade, tais como: acabar com desigualdade de gênero, acabar com a fome, disponibilizar água para toda a população humana, disponibilizar alimentos e assim por diante”, completou.
Paulo assinou um dos capítulos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas Globais (IPCC), lançado em agosto de 2021 que revelou, entre outras coisas, que estamos vivendo a década mais quente dos últimos 125 mil anos. As mudanças climáticas apontadas no estudo podem trazer impactos importantes inclusive para a economia do país – o aquecimento global causará aumentos significativos nos extremos de temperatura, na intensidade de chuvas fortes e na gravidade de secas em algumas regiões, como o Nordeste.
“Este é um dos grandes desafios”, apontou o pesquisador. “A falta de uma governança global que possa fazer com que, principalmente os países desenvolvidos, possam reduzir suas emissões de gases de efeito estufa para garantir um clima sustentável para nossos filhos e netos.”
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