quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Cosme Rocha, piauiense de Floriano, relembra como foi produzir a capa da Constituição Brasileira

Funcionário da Gráfica do Senado, Cosme teve seu desenho escolhido em 88 pelo seu simbolismo e simplicidade

07 de setembro de 2022

O ano era 1988 e se formava então a Assembleia Nacional Constituinte, um dos momentos políticos mais importantes da história recente do Brasil. O país estava há 21 anos sob regime militar, e a sociedade brasileira finalmente recebia uma Constituição que assegurava a liberdade de pensamento e que criava mecanismos para evitar abusos de poder do Estado. A Constituição Cidadã, promulgada em 5 de outubro daquele ano, tornou-se o principal símbolo do processo de redemocratização nacional.

Aílton Krenak faz ato-protesto na Assembleia Constituinte, em 1987. (Foto: reprodução TV Globo)

Quem participou de um dos momentos mais vibrantes da história do país, lembra com detalhes que os embates, as divergências de opiniões antecederam o direito escrito em lei. Aquele final dos anos 80 foi marcado pelo confronto de ideias. Documentos históricos provam que foram mais de cinco milhões de formulários distribuídos nas agências dos Correios. Foram coletadas 72.719 sugestões de cidadãos de todo o país, além de outras 12 mil sugestões dos constituintes e de entidades representativas. 

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Coube a um piauiense, artista gráfico que vivia em Brasília, o desafio de sintetizar a Carta Magna – como ficou conhecido o livro com 250 artigos – em um desenho representativo. Cosme Coelho Rocha, que nasceu em Floriano (PI), ilustrou a capa do documento. Ele trabalhava na Secretaria Especial de Editoração e Publicações (SEEP), conhecida como Gráfica do Senado.

Cosme Rocha criou o desenho em uma manhã (Foto: reprodução TV Globo)

A provocação partiu de Ulysses Guimarães, então presidente da Assembleia Nacional Constituinte. Ele solicitou a capa da nova constituição à Gráfica do Senado e então foi organizado um concurso entre os designers. Em um primeiro momento, Ulysses não ficou satisfeito com nenhum dos desenhos enviados e pediu uma nova rodada de opções. Foi aí que Cosme resolveu participar.

Durante os anos de ditadura militar, Cosme tinha se mudado para Londres, onde estudou artes plásticas e morou por quase três anos. Já no Brasil, fez trabalhos importantes como o painel criado para a igreja da 309 sul, em Brasília, onde mora. 

Bandeira na vertical foi pontapé para a criação (Foto: reprodução TV Globo)

Sem os recursos de computação gráfica à época, Cosme desenhou usando somente sua prancheta, réguas e folhas de papel cortadas. Ele refez a bandeira do Brasil, mais simples, sem a faixa e em posição vertical. O círculo azul central remete ao sol nascendo no horizonte, representando o Brasil que nascia – ou renascia, a partir daquela Constituição. A figura losangular em amarelo simboliza a irradiação desse sol nascente, apontando para cima. Já o verde, representa toda a esperança que tomava os brasileiros à época da promulgação do documento. “Pretendi mostrar um Brasil novo, como se algo estivesse surgindo”, explicou o artista piauiense na série exibida pelo Jornal Nacional. 

Cosme Rocha em depoimento para série do Jornal Nacional (Foto: reprodução TV Globo)

Ao Jornal do Brasil de 3 setembro de 1988, Ulysses Guimarães disse que a capa foi escolhida “por sua simplicidade e seu simbolismo”. Cosme relembra que, à época, tinha consciência de estar participando de um momento muito importante para a história do Brasil. O artista completa: “Quis deixar uma mensagem aos meus filhos e às gerações seguintes: uma mensagem de esperança”.

Até 2012 a Constituição já tinha superado a marca de mais de dois milhões de exemplares impressos. O Senado a disponibiliza também em formato e-book, gratuitamente – já foram feitos mais de 200 mil downloads do documento.

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Luana Sena

Jornalista, mestra e doutoranda em comunicação na Universidade Federal da Bahia.

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