Em sabatina televisionada, a jornalista Cinthia Lages questionou se o Coronel Diego Melo (PL), candidato ao governo do estado, estava armado no estúdio de televisão. O político assentiu e, logo em seguida, Cinthia afirmou ter medo de entrevistar candidatos armados. Dias depois, o trecho da entrevista repercutiu e a profissional virou alvo de memes em perfis de humor nas redes sociais. O diálogo foi recortado com conotação sexual – a edição usa uma trilha musical erotizada ao fundo, colocando a jornalista em situação vexatória.
O caso ilustra dados divulgados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji): em 2021, foram registrados 119 ataques contra mulheres jornalistas e ataques de gênero envolvendo a imprensa. Houve um crescimento de 23,4% nos alertas de violações à liberdade de imprensa entre os anos 2020 e 2021, de acordo com monitoramento feito pela entidade.
Recentemente, também em sabatina na TV Meio Norte, o candidato Sílvio Mendes (União Brasil) se referiu à jornalista Katya D’Angelles, que o entrevistava, como “quase negra”. A fala foi considerada de tom racista e repercutiu negativamente na mídia nacional. Katya deu um depoimento sobre como ser uma mulher negra na imprensa, aqui no oestadodopiauí
No estudo Como operações de influência entre plataformas são usadas para atacar jornalistas e enfraquecer democracias?, da revista AzMinas, foi observado que a linguagem é diferente em ataques contra jornalistas de determinada raça ou etnia. Mulheres negras e asiáticas, por exemplo, são mais associadas aos termos “tendenciosa”, “parcial” e “ridícula”.
Importunação sexual e física também fazem parte do cenário de violência que mulheres jornalistas vivenciam durante a profissão Em uma noite de jogo de futebol, a jornalista Jéssica Dias, da ESPN, entrou ao vivo para narrar a chegada da torcida. Durante a reportagem, a repórter foi surpreendida com um beijo no rosto, do oficial de justiça, Marcelo Benevides. Em depoimento à polícia, Jessica afirma que Marcelo já havia incomodado-a antes de aparecer no ar, com xingamentos e beijos no ombro.
O oficial de justiça, que estava na companhia de seu filho, foi preso em flagrante. De acordo com a ESPN, a equipe que acompanhava a repórter segurou Marcelo e pediu para que a Polícia Militar o levasse à delegacia. O agressor foi levado à 19ª DP, do Rio de Janeiro (Tijuca).
Segundo pesquisa da Federação Nacional dos Jornalistas, o número de casos de atentados contra profissionais e de violência contra a organização dos trabalhadores, cresce constantemente. Foram quatro atentados e oito ataques a entidades/dirigentes sindicais. A censura é a violência mais comum nos últimos relatórios, ocupando hoje o primeiro lugar nos ataques.
A maioria das censuras foi cometida por dirigentes da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), aparelhada pelo Governo Federal. O estudo aponta que foram registradas 140 ocorrências de censura, 138 cometidas dentro da EBC. As censuras representaram 32,56% do total de casos, enquanto a descredibilização da imprensa respondeu por 30,46% (foram 131 ocorrências no total). Entre as mulheres, 61 (26,64%) foram vítimas de algum tipo de violência, a maioria delas com viés machista e misógino.
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