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Essa tal terceira via

Termo tem sido utilizado por candidatos para se lançar como alternativa à polarização política desenhada no país

16 de março de 2022

As eleições de 2022 se aproximam e, certamente, você já ouviu por aí alguém falar o termo ‘terceira via’ – muitos pré-candidatos vêm utilizando-o na tentativa de se posicionar como alternativa a uma possível polarização política. O termo não é propriamente novo, e serve para designar uma fórmula política proposta na metade dos anos 70 por dirigentes e intelectuais ligados ao Partido Comunista Italiano – o contexto era o debate sobre o “eurocomunismo”, uma vertente do comunismo definido pelo desejo de estabelecer uma ligação estreita entre a liberdade, o socialismo e a democracia. 

No Brasil, para as eleições de 2022, projeta-se uma disputa pautada por uma polarização focada no presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT). Porém, os dois candidatos também acumulam um relevante grau de rejeição junto à população, baseando-se em pesquisas recentes. Em alguns países europeus, a terceira via já esteve associada a um modelo que visaria a conciliação entre políticas de bem-estar e liberalizantes. É o que explica o cientista político Vitor Sandes, para quem a terceira via brasileira parece estar muito mais em oposição ao lulismo e ao bolsonarismo. 

“Parece estar muito mais ligada a isso do que, propriamente, buscando propor um modelo claro e coeso que unifique todos os pré-candidatos que se colocam nesse lugar de alternativa e de renovação”, afirmou.

A polarização Lula x Bolsonaro também afeta o cenário estadual. No Piauí, Sandes destaca que este cenário se torna ainda mais evidente porque a pré-candidatura de situação é do Partido dos Trabalhadores, apoiada por Wellington Dias, atual governador, e por Lula. 

Do lado oposto, a pré-candidatura de Sílvio Mendes, mais competitiva até o momento, provavelmente terá a deputada federal Iracema Portella como vice, ex-mulher e sócia de Ciro Nogueira, atual ministro chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro. “Será inevitável que a disputa presidencial não repercuta no estado, deixando espaço reduzido para uma terceira via”, analisa. 

O ex-secretário municipal de Educação e Planejamento de Teresina, Washington Bonfim, vem se apresentando como uma alternativa política no estado. Para ele, a polarização desenhou o cenário político nacional nos últimos anos, respingando também no âmbito  estadual. 

O ex-gestor aponta como uma terceira via e acredita na possibilidade do presidente Jair Bolsonaro não conseguir chegar ao segundo turno das eleições – sobretudo se a economia não reagir e a inflação continuar a crescer. “Precisamos ter uma agenda positiva”, afirmou ao oestadodopiaui.com. “Ninguém constrói nada negando o oposto, temos de afirmar princípios, valores e políticas”. 

Leia mais: Washington Bonfim filia-se ao Cidadania e se coloca como alternativa de mudança para governo

Corrida contra o tempo

Há poucos meses para as eleições e vivendo um governo de ultradireita, nunca houve tanta pressa em marcar posição no Brasil. São 11 legendas trabalhando para construir um discurso de terceira via capaz de atrais os eleitores.  

Um levantamento do Atlas Político, realizado pelo site El País,  mostrou que 28% dos eleitores esperam uma nova candidatura fora os dois nomes que lideram as preferências. Uma pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada pelo G1, apontou que 38% dos brasileiros ainda não sabem qual seu candidato – o que deixa uma grande lacuna para novos nomes entrarem na disputa.

De acordo com Vítor Sandes, a terceira via no Brasil tem sido associada a uma alternativa aos dois grupos que polarizam a disputa. Quem se postula como terceira via, por razões estratégicas, busca se diferenciar dos demais, propondo um novo modelo. Se isso não acontecer, pode ser confundido como uma via auxiliar a um dos dois grupos políticos. “A renovação tem várias faces”, observa. “Nem sempre o novo consegue ser, de fato, novo”.

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Categorias: Reportagem

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