Na sala de robótica, Maria Júlia, de 12 anos, vira cientista. A menina, acompanhada de mais 15 crianças e um professor, consegue promover pequenas transformações através das atividades oferecidas pela disciplina. Em um de seus “experimentos”, ela e os colegas foram provocados a pensar em uma Teresina do futuro. Formas de conter a poluição dos rios, Poti e Parnaíba, melhorias na urbanização da cidade e geração de energia limpa foram um dos desafios que a Maria Júlia precisou solucionar dentro das atividades por meio de projetos e pequenos protótipos. “Sinto que posso ajudar a melhorar o mundo com as minhas mãos”, conta à reportagem.
A implementação dessa nova disciplina foi ganhando espaço e atenção das escolas. Com a atualização da BNCC – Base Nacional Comum Curricular – , um documento que regula estratégias essenciais de aprendizado no Brasil, aprender como as ferramentas digitais e os processos tecnológicos se aplicam no cotidiano, deu razão à criação de uma matéria escolar que pudesse nortear as metodologias ativas de ensino.
Maria das Graças Vieira olha com alegria o entusiasmo da filha. Noções de meio ambiente, tomada de decisões e empreendedorismo foram uma das mudanças refletidas através das aulas. “Cada nova atividade é uma aproximação com a cultura da cidade, os espaços que ela participa, mas principalmente, as fronteiras que ela pode cruzar como cidadã”, observa a mãe, que também é professora. “Apesar de ser robótica, ela aprende geografia, artes, biologia e matemática, mas de uma forma aplicada ao mundo real”, destaca.
Mais do que um discurso que dispara entre as propagandas escolares nos últimos anos, o professor Marcos Antônio Santos explica que há uma cultura de ensino conteudista no Piauí e Maranhão – mas que a disciplina vem para quebrar esse paradigma. Enquanto algumas escolas desativam seus laboratórios de informática para dar espaço para outras disciplinas no quadro de aulas, as instituições que investem em tecnologia, dão um passo para o futuro. “Muitas escolas privilegiam conteúdo, mas não desenvolvem”, analisa o professor. “Um aluno não é um papel em branco, ele vem com uma bagagem, e através das aulas de robótica, conseguimos que ele coloque em prática projeto e ideias”, pontua.
Dentro da sala de robótica, parte das atividades seguem a estratégia do “learning by doing”. Ou seja, aprender fazendo – um novo preceito da educação 3.0. Para as crianças, a ideia é propor um experimento, investigação ou resolver um problema. Através de pequenos inventos – que podem ser desde o mini-robô, um protótipo ou um projeto – é criada uma solução. Mais que o resultado final, a ideia é entender e explorar o caminho e a absorção de aprendizado através do aluno.
A tendência, para além da sala de aula, mira na necessidade do agora. Com a facilidade do acesso à internet, Marcos destaca que a internet, em termos de disponibilizar informação, é uma concorrente da escola. Com tantos avanços tecnológicos, acontecendo quase diariamente, houve essa necessidade de tornar crianças e adolescentes protagonistas dessa revolução, saindo da condição passiva. “Não são apenas conhecimentos, é dar sentido às habilidades”, frisa. “Além disso, é despertar o espírito de liderança, de resolutividade, como também estimular noções práticas de empreendedorismo”, complementa Marcos.
E o que são as aulas de robótica?
Diferente do senso comum, o ensino de robótica não está limitado à construção de robôs ou máquinas em sala de aula. As atividades feitas em grupo têm como desafio a resolução de problemas através de raciocínio lógico e pensamento crítico.
Para tanto, conceitos aprendidos nas ciências, informática e matemática se somam aos conceitos de robótica e programação de projetos, a fim de solucionar o que seriam problemas na vida real – mas isso, através de um robô ou uma pequena máquina. Por meio dos kits de montagem e transformação, alguns sistemas podem levar peças recicláveis para poder dar vida à máquina.
0 comentário