A vegetação seca toma conta do trecho que liga a comunidade Batemaré ao município de Paulistana, no Sudeste do Piauí. Por lá, moram cerca de 600 pessoas, que, diariamente, formavam filas com baldes e litros nas mãos para conseguir água potável em um poço da região. Quem chegava cedo, conseguia ir embora cedo. Quem chegava tarde costumava ficar até depois do meio-dia debaixo do sol. “Muita gente ainda pegava água à noite, para pegar a lua boa”, conta Maria dos Santos, moradora da região.
Em Batemaré há uma barragem que atende os moradores. O lugar é utilizado pelos animais e, nos últimos anos, tem recebido todo o esgoto da região. Cozinhar, tomar banho e beber água acabam se tornando sonho para pessoas que não têm acesso a água potável. São quase 53 comunidades sertanejas do Piauí nessa situação. Ao todo, quase 3.700 famílias nunca tiveram acesso a água encanada, tampouco apta para o consumo.
As comunidades contam com o fornecimento de “caminhão-pipa”. São distritos rurais, localizados nas cidades de Acauã, Capitão Gervásio, Paulistana, Campo Alegre do Fidalgo, Curral Novo e Betânia do Piauí. Nestas regiões, há apenas duas alternativas: a água salgada, do poço ou a água suja, provinda da barragem. Não dava para beber ou hidratar os animais.
Agora, um projeto chamado “Mais Água” trouxe esperança para os moradores. A iniciativa pretende implantar um sistema de dessalinização na barragem. Ao todo, 17 dessalinizadores foram instalados. Com eles, os átomos de sal são separados dos átomos da água, tornando-a doce e própria para o consumo.
Segundo levantamento do site G1, mais de 97% das famílias foram favorecidas com os sistemas. Além disso, a cada um real investido em soluções para o acesso à água potável em cidades do sertão do Piauí, R$ 6,30 retorna para a economia do estado. O dado faz parte de um levantamento da startup Seall, sobre ações do Instituto Livres, divulgado em julho de 2022. Com melhor qualidade de vida nos lugares, os projetos têm impactado no trabalho e renda das comunidades. O retorno é visto na criação de negócios locais e volta diretamente para a renda das comunidades.
Ao todo, estima-se que a cada 4 litros de água salgada, se produz um litro de água potável – com isso eles fornecem mais de 1.256.000 litros de água – sem contaminação – por mês. Cerca de 60.256.900 litros de água potável já foram distribuídos para áreas sertanejas.
O projeto tem garantido um melhor espaço para a educação. Em 2017 foi construído um poço, próximo a escola Municipal Quilombo Baixão, da comunidade de mesmo nome, no município de Betânia do Piauí. Os alunos bebiam água da barragem e, na época, costumavam reclamar de dores no estômago. Na unidade escolar, as crianças não tinham condições de beber água. Com água potável jorrando das torneiras, estudar também se tornou possível. “É uma gota que tem trazido esperança pro sertão”, finaliza a diretora da escola, Ivonete Silva.
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