O mercado de trabalho está em constante transformação. A mudança nos rumos da economia global e nacional, a pandemia e os interesses das empresas, têm gerado impacto direto na empregabilidade de diversas áreas profissionais. Atualmente a desaceleração econômica, necessidade de aumentar a produtividade e de reduzir custos tem sido o foco de muitas empresas.
Uma pesquisa realizada pela The Economist Intelligence Unit (EUI), apontou que a pandemia acelerou a transformação digital no mercado de trabalho. Para a maioria dos entrevistados, a preparação digital foi um ponto crucial para adaptação ao novo cenário do mercado de trabalho com o isolamento social. As empresas mais familiarizadas com soluções digitais, conseguiram capacitar seus colaboradores e se recuperar mais rapidamente.
Segundo o relatório, a pandemia acelerou a transformação digital em 72% das empresas. Além disso, 75% dos participantes disseram que o uso da tecnologia para a transformação digital deve não só contribuir para o sucesso empresarial, mas trazer melhorias sociais como inclusão, acessibilidade e sustentabilidade.
A área de tecnologia estará em alta em 2022. Essa é a previsão revelada na pesquisa feita pelo Banco Nacional de Empregos (BNE), que já havia constatado um crescimento de 20% no setor no ano anterior, em comparação ao ano de 2020. Para este ano, a tendência é manter o número de contratações altas, com um total de 44.274 vagas em diferentes setores tecnológicos. Dessa forma, as chances de obtenção de melhores salários também crescem para os profissionais.
De Matrix à realidade
“Matrix foi um marco na minha vida, lembro que fiquei encantado assistindo sobre realidade virtual, inovação tecnológica, robótica…”, diz Ramon Vaz recordando o seu primeiro contato com a tecnologia. Atualmente o jovem é especialista em gestão de projetos e processos de Tecnologia da Informação.
Ramon conta que durante todo o seu período escolar, nas escolas públicas de Teresina, nunca teve contato com informática ou alguma disciplina voltada para a área tecnológica. Em 2010, com interesse pela área despertado através do filme Matrix, resolveu concorrer a uma vaga no curso técnico de Manutenção e Suporte em Informática, oferecido pelo Instituto Federal do Piauí (IFPI).
“Eu fico imaginando o quanto eu seria um profissional melhor se tivesse tido meus primeiros contatos ainda no Ensino Fundamental”, analisa o jovem. “O mercado da tecnologia hoje está em alta, mas a chance de quem não tem renda para investir em cursos profissionalizantes é muito baixa”, comenta.
Uma pesquisa realizada pelo site fleckcursos mostrou que os cursos profissionalizantes e técnicos vivenciam um momento de crescimento constante, principalmente nas áreas ligadas a tecnologia. Os cursos profissionalizantes e técnicos priorizam a empregabilidade e são focados em preparar profissionais atuantes para o mercado – ou para aqueles que pretendem abrir seu próprio negócio. No Brasil, os setores que mais empregam profissionais com formação profissionalizante ou técnica são da tecnologia, administração e finanças, gestão e engenharias.
Indo na contramão das áreas de interesse do mercado de trabalho atual, Teresina pouco oferece cursos voltados para área de tecnologia. Ramon ressalta que os governos municipal e estadual precisam refletir sobre o crescimento da área tecnológica e a oferta desses cursos. “Não vejo cursos gratuitos voltados para a área de programação, robótica”, observa. “Quando ofertam é voltado para Word e Excel”.
O oestadopiaui.com identificou apenas três lugares que oferecem cursos na área tecnológica de forma gratuita na capital: Instituto Federal do Piauí, Universidade Federal do Piauí e o Centro Estadual de Educação Profissional Paulo Ferraz. Os cursos atualmente ofertados pela Fundação Wall Ferraz, órgão da PMT que tem a missão de capacitar e qualificar profissionalmente os teresinenses, com objetivo de a inseri-los no mercado de trabalho, atualmente oferta cursos de agente de portaria, cuidador de idosos, operador de caixa e Libras.
O algoritmo é racista
O debate sobre a falta de representatividade de profissionais negros no setor de tecnologia, em particular nas grandes empresas, tem ganhado mais visibilidade nos últimos anos. A produção de ofertas tecnológicas por equipes mais diversas tem se tornado um tópico de discussão mais frequente.
Entretanto, relatórios de diversidade de grandes empresas como a Google, Microsoft e Apple mostram que a presença de negros no quadro não chega aos dois dígitos e o avanço em 2019 foi de menos de um ponto percentual, apenas 0,9. Entre as diversas razões para a falta de negros no setor de tecnologia, nos Estados Unidos por exemplo, onde fica a sede de muitas destas empresas, o relatório destaca a formação. Somente 6% dos universitários que concluíram cursos nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática eram negros.
“A população negra possui os piores indicadores sociais, os menores índices de escolarização, de rendimentos e de acesso a bens e serviços, assim como os maiores índices de mortalidade precoce, quando comparados com a população branca, e isso reflete diretamente no mercado de trabalho”, afirma a pesquisa da Fiocruz-PI, Jessika Rodrigues, mulher negra, travesti e periférica.
A pesquisadora acredita que os cursos ofertados pela prefeitura de Teresina refletem o que o racismo e a falta de conhecimento dos governantes, que acreditam que apenas trabalhos informais e braçais são pertencentes aos negros e pessoas de classe baixa. “Isso é fruto do abismo social que distancia brancos e negros da educação às oportunidades de ascensão profissional”, critica. “Quando falamos do mercado de tecnologia, que é reconhecido como um setor altamente intelectualizado, as pessoas não enxergam a população negra nesse mercado de trabalho”, diz.
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