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Meu negócio é o Piauí

No barro, no prato e até em game de terror, piauienses buscam dar a cara do estado em seus projetos e negócios

19 de outubro de 2021

Edição Luana Sena

A ideia de um negócio às vezes mora ao lado. Ou melhor, mora-se nele. O Piauí, com seus 224 municípios, é a inspiração de muitos empreendedores que desejam lucrar de forma criativa. 

Conhecido pelos seus parques nacionais, na região sudoeste, as pinturas rupestres pré-históricas fazem sucesso na hora de virar uma peça artesanal. As gigantes formações rochosas que contrastam na área da caatinga – no semiárido piauiense – também chamam atenção, transformando-se em pinturas, arquitetura de restaurantes, bares e até estampas de camisetas. Os rios Poti e Parnaíba não ficam para trás: são inspiração em letras de músicas até pratos culinários.

As ideias não são poucas. Tanto gente de fora quanto quem nasceu e criou-se por aqui, o Piauí tem sido ideia e solo para os planos de negócios de muita gente, com ideias para além do turismo. Não é à toa que ainda neste ano, o Piauí foi apontado como terceiro estado com maior facilidade para abrir empresas no Brasil, segundo dados do relatório “Doing Business Subnacional Brasil 2021”, levantados pelo  Banco Mundial. 

No Dia do Piauí, o ostadodopiaui.com buscou histórias de pessoas que fizeram da cultura e regionalidade uma forma de sustento, mas também de se destacar por meio das belezas e particularidades piauienses.

Piauí, Piauhy

Quando o baiano Felipi Nunes desembarcou no Piauí, em Teresina, trouxe consigo a ideia de lançar um restaurante que pudesse trabalhar com cortes de carne. Inicialmente, ele nem havia pensado direito na estrutura e estética que levaria o espaço, mas se encantou com o potencial da regionalidade do estado e o nome do local não poderia ser outro: Piauhy – escrito grafia original do nome do estado.

Felipi conta que a aposta no novo negócio surgiu durante o primeiro ano da pandemia da Covid-19 – período difícil para a maioria dos comerciantes. Até por conta disso, o cozinheiro falou que acreditava em um negócio que pudesse inovar. Tanto a escolha do nome quanto o cardápio teriam que ser apostas curiosas, mas que pudessem trazer identificação para quem vive  no estado. Na porta de entrada, as paredes já anunciam os quadros que fazem referência à fauna e flora do agreste e sertão piauiense. 

Comida piauiense é carro-chefe de restaurante (Arquivo pessoal).

Na carta do restaurante, mais de vinte cidades do Piauí protagonizam os pratos do local. Entre as principais atrações, o Carneiro Floriano, Sarapatel São Raimundo, Panelada Inhuma, Rabada Miguel Alves, Feijoada Pedro II, Arroz Altos e o Camarão Barra Grande. “Todos têm boas saídas”, garante Felipe. “O pessoal se identifica, a cozinha regional é sempre um sucesso”, complementa. 

Para ficar registrado

A força inicial para montar um negócio foi motivada por amigos. Isso porque, o casal Tiago Fin e Thanandro Fabrício, eram conhecidos nas reuniões de amigos por personalizar copos com frases que combinam com os convidados. Era sempre algum copo ou taça marcado com “mulher arretada”, “cuuunversa” e “oxe” para tornar mais especial os encontros. A proposta fez sucesso e logo começaram a se perguntar: “Por que não fazer para vender?”

Então veio a ideia para o nome da loja – a proposta tinha que ter uma identificação com Tiago e Thanandro. Como moram próximo ao Rio Poti e ao bairro Poti Velho, os rios batizaram o empreendimento: Potti – escrito com dois ‘t’ em referência às iniciais do casal. 

Arte e piauiensidade nas peças do Potty (Arquivo pessoal).

Com  a ideia já formada, eles partiram em direção a formas e maneiras de fazer. Como tudo ainda era novo, o começo do negócio foi em busca de técnicas de pintura, adesivos e fornecedores do produto. No início, os empreendedores não pretendiam trabalhar com personalizados, mas com tantos pedidos, logo abriram encomendas. Seja plástico, barro ou vidro, as formas da beleza e cultura piauiense ficam registradas no trabalho e marca do negócio. 

“Já fizemos copos para aniversários, casamentos, reunião de amigos, para quase todas as ocasiões já apareceram pedidos”, comenta Tiago. “Em todos percebemos o regionalismo, uma característica local, é nossa principal marca”, destaca. Entre as encomendas que  lhe marcaram, a do “beijo mais antigo do mundo”, registro de pintura rupestre na Serra da Capivara, cravado em um copo americano para um casamento, reforça o traço de valorização da cultura piauiense no seu negócio.

De vez em quando, aparecem pedidos que cruzam as fronteiras do estado. “Sempre algo que tem a cara da pessoa, e por ser regional, muitos adquirem os produtos para presentear quem é de outro lugar”, comenta. “Nesse caso, a embalagem vai ser reforçada para ir viajar. É gratificante”, reforça. 

“Capital do mundo” é cenário de jogo de terror

Em entrevista à Revestrés#2, o humorista piauiense João Cláudio Moreno ao contar uma história que viveu no Rio de Janeiro, confessa considerar a cidade de Piripiri (distante 180km de Teresina) como a capital do mundo.

“JCM – Sou tão bairrista que um dia tava no Rio de Janeiro e ouvi na TV: “E, na capital do mundo, uma exposição de presépios”, eu corri. O que tá acontecendo em Piripiri? E a matéria era em Nova York. Por isso que eu não consegui ser outra coisa que não fosse piauiense”.

Com pouco mais de 60 mil habitantes, a cidade, que é considerada a capital do humor, virou o cenário que compõe a história de Ana Lúcia. Diferente de um conto, piada, música, história ou livro, a jovem é a personagem de um novo jogo de terror indie, chamado Asleep – em português, Adormecida – produzido pelo estúdio brasileiro Black Hole Games, sediado no Piauí. 

As ruas e casas são cenários idênticos aos da cidade, mas se passam nos anos 90. Décio Oliveira, responsável pelo game, – ou Dex Darkon, como é conhecido – morou boa parte da sua vida em Piripiri. Sua infância e adolescência são marcadas pelas histórias que viveu nas ruas da cidade. “Eu queria destacar o município em uma obra importante como esse jogo que tem um lançamento mundial”, diz. 

Assim como Ana Lúcia, ele também passou por problemas de insônia. No jogo, a personagem precisa descobrir em meio aos seus pesadelos como resolver seus problemas. Com ajuda de uma lanterna, Ana Lúcia tenta encontrar a sua luz e enfrentar seus medos. No meio disso tudo, cenários como o Centro de Piripiri se tornam os principais palcos das cenas. “Quem é da cidade lembra na hora”, garante o produtor. 

Game com cenário do jogo em Pipipiri (Reprodução da internet).

A história da jovem também reflete um pouco do que Décio viveu, quando passou por problemas de ansiedade e insônia. “Isso não é apenas um jogo”, pontua. “Tem um envolvimento pessoal da minha história, como também das minhas memórias da infância no Piauí”. 

O game está em fase final de desenvolvimento, mas já é possível acessar uma visualização prévia do trabalho através do Youtube. Asleep passou por uma campanha de financiamento coletivo pelo Cartarse até junho deste ano, com meta de arrecadar 75 mil reais para ser produzido. A expectativa é de que até dezembro deste ano ele esteja disponível no mercado.

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Categorias: Reportagem

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