quarta-feira, 15 de maio de 2024

Mulheres do campo são mais suscetíveis à agressões

Com canais de denúncias limitados, barreiras acabam por fragilizar a assistência necessária para a segurança dessas vítimas

20 de agosto de 2021

Agosto é definido como mês de conscientização pelo fim da violência contra a mulher.  Distantes da zona urbana, mulheres piauienses que residem no campo possuem mais dificuldades em obter ajuda e contar com assistência adequada para a realização de denúncias.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-PI), 2.972 registros de boletins de ocorrência (BOs) foram feitos de janeiro a junho deste ano. Os dados, disponibilizados pela assessoria de comunicação do órgão, não especificam em quais áreas elas residem.

Para mulheres em comunidades rurais, verbalizar as agressões ainda é um desafio. Com canais de denúncias limitados, devido a falta ou precariedade no acesso a internet ou sinal de celular, os meios para a realização de queixas se tornam um empecilho. Essas barreiras acabam por fragilizar a assistência necessária para a segurança dessas vítimas.

“Por mais que se tenha um olhar para essas questões, ainda prevalece o problema de que ‘em briga de marido e mulher, não se mete a colher”’, comenta Nea Albuquerque, consultora de gênero do PROGERE (Programa de Geração de Emprego e Renda), associado à Secretaria de Agricultura Familiar (SAF).

De acordo com ela, as ações de segurança ainda não são o suficientes. No entanto, há uma preocupação do estado em ter um olhar diferenciado para questões que impeçam novos casos e estimulem denúncias sofridas pelas vítimas.

No Censo Agropecuário 2017, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), houve um aumento, especificamente, quanto ao produtor rural do sexo feminino de 12,7% para 18,6% entre os anos de 2006 e 2017.

No artigo “Políticas Públicas de atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica na zona rural”, a advogada Letícia Chioda, diz que este grupo de mulheres isoladas geograficamente e socialmente, sem a presença de mecanismos de denúncia ou rede de amparo, às vítimas podem reviver o ciclo de agressão, de variadas formas. “Com relação a dados específicos voltados para mulheres que vivem na zona rural, há uma carência de registros elaborados pela segurança pública”, diz em um trecho.

Zenaide Lustosa, coordenadora de estado de políticas públicas para mulher, ressalta que o governo estadual, hoje, se ocupa com medidas de proteção a violência e autonomia financeira. Nesse mês de agosto, utilizando a cor lilás com o significado de enfrentamento à violência contra mulheres, o Ônibus Lilás, projeto com unidades móveis, realizará atendimento às mulheres das águas, do campo e da floresta. 

O gerenciamento de informações sobre as mulheres da zona rural ainda é um desafio, mas já existem iniciativas de coleta e armazenamento. Essa ausência, por exemplo, atrapalha a construção de medidas mais práticas e direcionadas, na construção de políticas públicas. 

Junto com a Coordenadoria de Políticas Pública para Mulheres (CEPM-PI), a SEPLAN, a SEDUC e a Secretaria de Agricultura Familiar (SAF), têm encabeçado um comitê de políticas para mulheres rurais, elaborando políticas mais efetivas, como as cadernetas agroecológicas ou as feiras virtuais.

As caderneta é uma metodologia que possibilita visibilizar e valorizar o trabalho de mulheres sobre a sua venda, troca, doação e consumo, desde a própria produção, e as feiras que permitem que seus produtos de base agroecológica sejam comercializados, gerando renda e visibilidade para essas mulheres: “Todas as ações visam ampliar o grau de emancipação sócio, econômico e cultural, ajudando também no enfrentamento a violência”, finaliza Zeneide.

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Joseph Oliveira

Graduando em jornalismo na Universidade Federal do Piauí.

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