sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Na bússola das pesquisas

Previsões baseadas no levantamento de opinião impactam população e também direcionamento para políticos em campanha

08 de julho de 2022

Edição Luana Sena

Jordan Nazareno tem 21 anos, mas aparenta ter bem menos, principalmente quando vai às ruas de Teresina trabalhar como entrevistador de campo para pesquisas eleitorais. Foi no começo de 2022 que ele começou a trabalhar com esse tipo de serviço, mas já entrevistou tanta gente e trabalhou para tantos institutos diferentes, que a impressão é que atua há bem mais tempo. De calça comprida e blusa com mangas longas para se proteger do sol, ele evita bonés que cubram o rosto e qualquer cor que remete a um partido político. “Vermelho, nem pensar, verde-amarelo também não”, explica o jovem.

Na sua última coleta de dados, entre as ruas do bairro Bela Vista e Angelim, zona Sul de Teresina, o questionário tinha mais de 100 perguntas. O seu horário era de 14 às 18h, mas ele acabou esticando um pouco, em busca de mais pessoas na rua. Naquela tarde, seu alvo eram mulheres com mais de 16 anos, com escolaridade até o Ensino Fundamental e que pudessem responder perguntas de satisfação sobre o Governo Federal e possíveis intenções de voto. Jordan não sabe bem o objetivo final da pesquisa que ajuda a fazer, mas explica que elas se somariam a coletas que estavam acontecendo em todo o Brasil, para definir uma pesquisa de amostra nacional. 

Na sua impressão, enquanto entrevistador, tem muita gente a cada dia mais desacreditada da política e seus atores. O termômetro de Jordan para constatar isso é a pouca  disponibilidade – e paciência – das pessoas para as abordagens de pesquisas: “Tem gente que não quer responder mais que 15 perguntas, mas uma pequena minoria acredita que é importante e faz questão de participar”, explica Jordan. “Elas acreditam que estão fazendo parte de algo em nome da democracia”. Em sua última coleta, na Zona Sul, ele só conseguiu oito entrevistas e precisou concluir no dia seguinte. 

As pesquisas que Jordan tem trabalhado fazem parte das publicações mais constantes que devem despontar até outubro, quando ocorrerão as eleições. No entanto, elas também acontecem bem antes. Joscimar Silva, cientista político e um dos diretores da associação da ABRAPEL – Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais -, explica que elas servem, inicialmente, para os partidos políticos afinarem suas escolhas. Essas menções dos nomes mais aptos e receptivos à população, inicialmente, tem o poder de definir as comandas político-partidárias dos possíveis candidatos. “E veja, são por meio dessas pesquisas, que até o marketing político é traçado”, explica Joscimar. 

Esses levantamentos de opinião pública acontecem a partir de dois tipos de técnicas de pesquisa: quantitativa, no formato de amostra do eleitorado, apresentando uma margem de erro, que serve para evidenciar quem está mais a frente ou atrás, ou, qualitativa por meio de entrevistas de profundidade, com um grupo focal – comumente utilizadas para testar propaganda ou avaliar um candidato específico. 

Infografia: Aline Santiago

Apesar de norteadoras, as pesquisas são apenas uma fotografia do momento – não uma previsão de resultados. Essa fotografia pode ser interpretada como um retrato do que os cidadãos estão pensando no momento, reforça o professor, que afirma: “A pesquisa eleitoral pode influenciar no voto a um candidato ou outro, seja quem está em primeiro lugar ou que apresente rejeição”, analisa. “Porém, nas pesquisas eleitorais ela tem muito mais a função de esclarecer e de informar o cidadão em relação ao próprio contexto e a própria conjuntura política, não necessariamente de influenciar esses cidadãos em relação às suas intenções de voto”, esclarece. 

As pesquisas possuem valores onerosos, segundo o Money Times, que podem chegar ao valor mínimo de 150 mil reais. Gastos para contratação de entrevistadores, transporte e logística desses trabalhadores em locais remotos ou regiões interioranas podem aumentar os custos. A meta durante esse tipo de pesquisa é entrevistar mil pessoas – uma amostra que corresponde a menos de 0,00099$ dos eleitores. A fração, por outro lado, justifica o fato de que, mesmo com tantas pesquisas pipocando durante o período eleitoral, há muita gente que sequer foi entrevistada para esse tipo de trabalho. 

É natural que os institutos busquem uma amostra da população: sexo, faixa etária, grau de escolaridade, nível de renda e distribuição geográfica são fatores predominantes nos questionários disponibilizados aos entrevistadores. Esse universo, portanto, acaba reproduzindo o perfil demográfico da população. Porém, caso haja incompatibilidade com o número de pessoas por gênero, a pesquisa no local é feita com a proporção dos entrevistados. Somente depois disso os pesquisadores saem às ruas para buscar os eleitores. 

Para segurança e credibilidade das pesquisas, as entrevistas são gravadas e passam por checagem antes da divulgação. Uma pequena fração desse filtro é procurada, por telefone ou presencialmente,  para confirmar suas respostas. Em caso de erros, todo o processo pode ser refeito. 

A confiabilidade das pesquisas eleitorais é um tema que não sai da mira e do interesse da população. Mas Joscimar garante que não há bem um filtro que possa medir essas características, uma vez que novos institutos e pesquisas nascem a cada eleição. Por outro lado, instituições mais tradicionais – e com maior experiência – apresentam confiabilidade melhor. “Nós temos muitos institutos no Brasil, muitas pesquisas sendo produzidas e nós não temos como traçar. Uma vez estamos lidando com o dado de opinião pública que hoje representa algo, mas daqui alguns dias, pode ter uma variação”, destaca o professor. “Isso, por outro lado, não significa que elas não sejam confiáveis”, finaliza.  

 

Casamento do marketing com as pesquisas

Dandara Santana é publicitária há quase duas décadas. O pai foi profissional de comunicação, e de dois em dois anos, sempre acompanhou o entra e sai de políticos e personalidades eleitorais dentro de casa. Em um ano de disputas na urna, antes do mês de abril, ela começa a ler os jornais e tablóides para analisar quais os principais problemas da cidade e do estado. Nesse ínterim, até o dia da eleição, as pesquisas quantitativas são as suas queridinhas para definir estratégias aos clientes.

“Elas miram como seria e porquê a população gostaria de um tipo político para ocupar o cargo público”, explica a publicitária. “Essas perspectivas refletem desde a cor da campanha, ao tom de voz e corte de cabelo dos candidatos durante duas promoções midiáticas e publicitárias”, continua. 

Nos canais televisionados esse cuidado é redobrado, mas com a internet e ascensão de veículos onlines, rapidamente uma frase fora de contexto pode alterar o panorama. Para medir essa mudança, as pesquisas são como bússolas. “Crises são causadas por fotos, frases sem contexto, ou em debates na televisão – até uma ruga pode causar aversão no eleitor”, diz se referindo a uma pesquisa cujo resultado indicou que há eleitores que não votam em candidatos feios. “No marketing, é impossível trabalhar sem enquetes”, afirma a publicitária. 

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