Os candidatos nem haviam chegado para o debate televisionado pela TV Clube, afiliada Rede Globo no Piauí, e uma comitiva de apoiadores de Rafael Fonteles (PT) fazia barulho na porta da emissora. Dois paredões de som, com luzes brilhantes, tocavam os jingles do petista. Em replay, as músicas no estilo piseiro e forró, associavam Rafael ao ex-presidente Lula. O clima era de bloquinho de carnaval, com direito a cerveja no isopor e dancinhas no meio da Avenida Walter Alencar, zona Sul de Teresina. “A gente quer ver o candidato do 13”, gritava um apoiador, com jeito de folião.
O clima eufórico dos apoiadores era bem diferente da tensão dentro do estúdio. Enquanto a produção finalizava os ajustes técnicos para início do debate, os assessores se espremiam do lado oposto do cenário, atrás das câmeras, analisando seus assessorados. Falavam baixo e com cautela. O estadodopiaui.com conversou com alguns deles – antes e depois do debate começar. A maioria esteve com a agenda lotada durante o dia, mas aparentava tranquilidade. Exceto Madalena, que havia passado o dia estudando e se preparando para o debate. “Esse momento é de conversar com os eleitores, por isso a preparação, como um ato de respeito com o povo”, explicou Martinho Nunes, seu assessor.
Diferente dos apoiadores, Rafael não foi o primeiro a chegar. Gessy Lima (PSC) foi a primeira candidata a comparecer ao estúdio. A empresária, de 31 anos, foi também quem esteve na mira do machismo durante todo o debate. No 3º bloco, a dinâmica exigia que Gessy perguntasse ao candidato Gustavo Henrique (Patriota) sobre políticas de desenvolvimento econômico. Antes de fazer a pergunta, o candidato disparou: “Todo mundo sabe no grande Dirceu (onde Gessy mantém empreendimento) como iniciou sua carreira de empreendedora”.
Gessy retrucou. Chamou Gustavo de “baixo” e alegou que ele “não tinha vergonha na cara”. “Você quer me descredibilizar como mulher. Discuta propostas, não me ataque”, respondeu. Assim que o bloco acabou, antes do intervalo comercial, foi possível ver a confusão se esticando. A produção da TV Clube tentou atenuar mas, até o fim do debate, o clima era tenso. A candidata do PSC nitidamente não gostou da insinuação agressiva de Gustavo e, ainda no estúdio, deixou isso claro. “Ela ficou visivelmente incomodada, não está gostando nada da situação”, avaliou um repórter na sala reservada para a imprensa, convidados pela própria produção da TV Clube. “Foi um bafafá daqueles”, comentou um dos assessores quando o debate encerrou.
A situação fez com que o Coronel Diego Melo (PL) aproveitasse a deixa de uma pergunta de Madalena, sobre o tema “políticas públicas para as mulheres”, para se desculpar em “nome dos homens”. Dali em diante, Gustavo foi ficando pequeno dentro do debate e sendo isolado da preferência de perguntas. Foi o que Gessy disse depois à reportagem, que entendeu como “uma punição a ele perante os eleitores que se revoltaram com a atitude”. Ela nega que vá entrar com processo de difamação ou calúnia contra o candidato do Patriota.
O debate que havia começado um tanto morno revelava, aos poucos, como os candidatos estavam na defensiva. Somente após o 3º bloco, críticas mais endurecidas ao governo petista e ao governo federal foram sendo apontadas durante as perguntas. No Piauí, Rafael, do PT, é apoiado por Lula. Enquanto isso, Bolsonaro associa-se a dois candidatos: Diego Melo e Sílvio Mendes (União Brasil), embora o último negue tal apoio. Melo carrega um adesivo no peito, mesmo sem Bolsonaro nunca ter feito menções a ele ser seu candidato no estado. Nos bastidores, o silêncio do atual presidente que tenta a reeleição é atribuído ao fato do coronel alcançar pouco menos de 3% das intenções de votos. Com Sílvio Mendes é diferente: o piauiense nunca falou publicamente sobre apoio do presidente, mesmo Bolsonaro levantando um panfleto de Sílvio em uma de suas tradicionais lives noturnas.
Os pedidos de direito de resposta foram tantos que não houve tempo para as considerações finais de cada candidato. A única que conseguiu finalizar com sua inscrição partidária no ao vivo foi Madalena. Entre uma pergunta, no 3º bloco, ela viu a brecha para cravar seu slogan e número, aproveitando a audiência da emissora. Seu assessor estava certo. Ela havia feito a lição de casa.
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