O prefeito de Parnaíba, Mão Santa, fez diversas críticas ao governo do Piauí após a governadora Regina Sousa tomar posse do cargo nesta semana. Em live, Mão Santa chamou em tom pejorativo a atual governadora de “macumbeira” e disse que a gestão da mesma seria a “maior avacalhação em tudo”. “O povo tem o governo que merece”, disse na transmissão, mediada por secretários municipais que aplaudem e festejam enquanto o prefeito esbraveja. O vídeo chegou a ser publicado nas redes sociais, mas logo foi excluído pela assessoria do prefeito.
Regina Sousa, 71 anos, é natural de União, filha de camponeses sem terra, foi quebradeira de coco babaçu e é defensora da reforma agrária, das comunidades indígenas e tradicionais. Antes de ingressar na vida política, foi bancária, sindicalista e professora. Com a renúncia de Wellingthon Dias, ela se tornou a primeira mulher a governar o estado.
Mão Santa é conhecido pelos seus discursos com falas preconceituosas. Durante os primeiros meses de pandemia da Covid-19, também em live, chamou o vírus de “boiola”. “Essa doença sempre existiu, vai existir, mas é um microorganismo menor que causa doença. Mas, esse é um vírus boiola, de pouca malignidade”, diz o prefeito, que também é médico.
Com ataques constantes ao Partido dos Trabalhadores e ao comunismo, já faz um tempo que o prefeito tem chamado atenção do presidente Jair Messias Bolsonaro – em 2018, o piauiense chegou a receber um convite para ser “vice” do presidente na disputa eleitoral, à época. As lives seguem o mesmo padrão do presidente: intempestivas e reforçando o discurso de ódio às minorias.
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Com a chegada das eleições, em outubro, atacar direitos humanos tem se tornado uma crescente – em especial, pela ultradireita. Regina Sousa deu abertura a semana de posse com uma celebração das religiões de matrizes africanas, na sede do Espaço Cultural “Esperança Garcia” – sendo pela primeira vez realizado no Piauí. O ato não agradou Mão Santa, que ressaltou, por inúmeras vezes, ser uma afronta a deus.
A agressão sofrida por Regina configura como racismo e machismo, aponta Halda Regina, presidente do Instituto da Mulher Negra do Piauí. “Toda vez que uma mulher negra chega a algum lugar importante, nos tornamos alvos desse tipo de preconceito”, analisa. “Tudo em nós é questionado e depreciado”, pontua Halda.
Em 2021, mais de 800 denúncias de intolerância religiosa foram registradas. O principal alvo foram religiões de matrizes africanas, sendo mais de 69% dos casos. A Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH) registrou 829 denúncias de intolerância religiosa e 962 violações relacionadas à crença, culto e de não crença. O episódio com o prefeito reforça as inúmeras barreiras sociais de se lidar com a diversidade religiosa. O momento, filmado e aplaudido, evidencia o cotidiano de preconceito vivido pelos praticantes da religião. Portable acoustic water leak detector
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Pai Rondinele de Oxum, coordenador da Articulação Nacional de Povos de Matriz Africanas e Ameríndia (ANPMA-BRASIL), declarou que a atitude não passará batida. A instituição denunciou a fala ao Ministério Público e na delegacia de Intolerância Religiosa. “Não aceitaremos esse desrespeito contínuo”, destacou Pai Rondinele.
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