domingo, 12 de maio de 2024

Corra, professora, corra!

Regina Sousa fala sobre a realidade no campo, mobilização da juventude e desafios no governo

31 de março de 2022
por Redação

Edição Luana Sena

Corra, professora, corra! *

Participaram da entrevista: Pedro Veras (publisher de oestadodopiaui.com); Luana Sena (editora de oestadopiaui.com); André Gonçalves (cientista político e editor de Revestrés).

*Entrevista originalmente publicada em 9 de julho de 2021

 

Os anos 70 não foram fáceis para aquela professora. Trabalhava em dois turnos e estudava de noite – e, nas horas vagas, ainda arranjava tempo para participar de assembleias sindicalistas. Engajada, inconformada e com sede de combater as injustiças, não perdia a chance de fazer os seus – sempre improvisados – discursos. A Praça Pedro II era o QG – e, o carro de som, o seu palanque. 

Maria Regina Sousa é a quinta dos 14 filhos de Raimundo Sousa e Conceição Miranda. O casal de camponeses sem terra criou os filhos levando-os para a roça. Aos 10 anos, conta, já sabia o que era “trabalhar para o dono da terra”. Comia rapadura e manga com farinha nas jornadas de quebrar coco babaçu, em União, município onde nasceu. 

Aos 13 anos, a menina vai morar com tios na cidade de Parnaíba, a fim de concluir os estudos. Sempre foi boa leitora e chamava atenção pela maneira curiosa com que questionava o mundo. Ajudava as professoras na alfabetização dos colegas mais atrasados. Não tinha muito jeito: tornou-se, como elas, pedagoga. 

Após a graduação em Letras – Português e Francês – pela Universidade Federal do Piauí, Regina também foi aprovada em concurso do Banco do Brasil. A comodidade do serviço público, no entanto, não cessou seu lado inconformado – fez parte do Sindicato dos Bancários, onde conheceu um funcionário da Caixa Econômica do qual foi vice na eleição para presidência do órgão, em 1989. Surgia ali uma aliança que perdura até hoje, com Wellington Dias. 

Foi uma das fundadoras da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Piauí e, também, por seis vezes, eleita presidente do diretório estadual do Partido dos Trabalhadores. Em 2003, foi secretária de Administração do governo Wellington. 

O Brasil conheceria Regina 12 anos mais tarde, quando foi empossada senadora da República. Mulher, negra, pobre, do alto de seus um metro e cinquenta, foi a primeira mulher representante do Piauí neste espaço – historicamente destinado aos homens, brancos e ricos, e que Regina ocupou com campanhas e mobilizações femininas que até hoje reverberam. 

Em entrevista franca para oestadodopiaui.com, a vice-governadora fala sobre direitos indígenas e quilombolas, grupos identitários, mobilização de jovens na política e os desafios que possíveis sucessores encontrarão no governo: “A esquerda tem que agir com inteligência”. 

Luana Sena: Quando você rememora a sua vida, a sua infância, as lembranças são felizes? São tristes? Como é que você costuma lembrar do passado?

Regina Sousa: A maioria das lembranças são boas. Tem partes muito ruins: passar fome não é bom. Mas minha infância não foi traumática, apesar de trabalhar, porque na minha família todo mundo era obrigado a trabalhar para sobreviver, embora sempre estudando – minha família nunca tirou ninguém da escola. Era um turno de trabalho e o outro turno na escola. A gente brincava – brincadeiras de pobre que não tem brinquedo, inventadas, e que infelizmente estão se perdendo no tempo, ninguém escreveu sobre isso. Se soltava a imaginação para inventar as brincadeiras. Então são lembranças boas. Eu lembro de tudo, de quebrar coco: não tenho nenhum trauma, nenhuma tristeza por ter trabalhado na infância. Com 10 anos eu já sabia o que era reforma agrária. O irmão da minha mãe era das Ligas Camponesas (movimento de luta pela reforma agrária no Brasil, iniciado na década de 1950) e conversava muito comigo, porque ninguém queria saber, as pessoas tinham medo do que ele fazia. Todo mundo vivia apavorado com medo de matarem ele. Às vezes, Dom Avelar ia fazer reuniões com os grupos e eu ficava “curiando”. Então eu entendia o que era aquela luta, o que podia acontecer com eles. Já cresci com esse sentimento de compreender a injustiça. Com a vontade de combatê-la.

Luana Sena:  Você pensou que um dia entraria para a política? Era um caminho que ocorria à cabeça de uma jovem no campo?

Regina Sousa: Claro que eu não imaginava. Mas eu estudava, né? Na escola o pessoal achava que eu era inteligente, então eu ajudava a professora. “Os mais adiantados tem que ajudar os mais atrasados”, dizia aquela professora de classe única, com gente em todos os níveis do aprendizado. No 4º ano primário, em uma escola rural (que chamavam de “isolada”, uma escola multisseriada) até 10, 11 horas, eu era aluna – de 11 horas em diante, ia ensinar os outros que estavam mais atrasadinhos, que precisavam aprender a ler. Meu caminho foi muito apontado para ser professora. E fui, né? Sala de aula ainda é uma coisa que me apaixona. Não dou mais aulas, mas sempre faço palestras sobre educação, avaliação, trabalhos em grupos de alfabetização. Eu gosto muito dessa parte pedagógica, de estar dando ideias para as pessoas. Não perco uma reunião da Secretaria de Educação porque é uma coisa que me encanta e que amo muito fazer.

Luana Sena: Como se dá sua participação no movimento estudantil, em pleno período da ditadura militar no país?

Regina Sousa: Eu não fui assim uma ativa no movimento estudantil, era mais intuitiva. Eu estudava em Parnaíba, então sabia que estava acontecendo uma coisa nesse país porque lá, por ser uma área portuária, litorânea, era um campo de apoio à ditadura. Lá baixava muito avião e a gente ficava estranhando. Eu sabia o que era porque tinha uma professora, diretora da escola, que gostava muito de mim e me contava as coisas. Sempre fui muito metida assim. Falava de improviso no grêmio e ela dizia: “Cuidado com o que você fala”. Eu perguntava: “Mas por que, professora? O que foi que eu disse demais?”. Eu não participava de nenhuma organização – era adolescente ainda. Mas participava de tudo da escola. Fui presidente do grêmio por pouco tempo, até porque acabaram os grêmios. Ia para as rádios nos dias solenes. Quando me tornei professora passei a participar mais das coisas. Participei do movimento sindical, da Associação dos Professores. Tinha todo um trabalho que a gente fazia de organização dos professores, em plena ditadura. A gente pulava muro de escola, e eu, muito pequenininha, não conseguia pular. Aí o Alberico, que era um professor forte, me passava – como eu tinha que botar o pé na mão dele pra poder subir no muro, ele falava: “Dá o pé, louro!” (sorri). Era um drama porque sou baixinha e pequeninha. Acabava sendo divertido, mas a gente sabia que estava ali por uma causa. Que o portão das escolas estava fechado por uma razão. Vivi tudo isso. Vi meus amigos serem presos.

Luana Sena: Você chegou a ser presa?

Eu não fui presa, não fui torturada. O que aconteceu comigo, aconteceu com muita gente. A gente levava carreira de polícia. Tem uma história interessante: quando tinham os movimentos na Praça Pedro II – o nosso quartel general –  a gente ia para os atos, ficava lá em cima do caminhão e, quando acabava a manifestação, eu só botava a blusa e ia dar aula. Ficava coalhado de policial. Quando eles davam ordem, saíam todos correndo atrás da gente e descíamos do caminhão, correndo. Por coincidência, o policial que corria atrás de mim era um aluno meu – eu dava aula pra ele a noite. E aí ele corria dizendo: “Corra, professora, corra! Porque eu não quero lhe bater” (ri). Tinha uma farmácia na esquina ali da praça e ele dizia para eu entrar nela enquanto ele passava direto. Ele ia me orientando. Quando chegava na sala de aula, ríamos disso, juntos.

Luana: Seus discursos são intuitivos até hoje ou já criou o hábito de escrever antes?

No senado, em muitas ocasiões, tinha que ser escrito, então eu tinha que obedecer. Mas, de vez em quando acrescentava alguma coisa. Tanto que nas transcrições eles colocam uns parênteses, para dizer que não foi uma coisa que estava escrita. Em sessões solenes, principalmente no período do impeachment, tinha que ser tudo escrito. Em outros momentos, não – a gente pode falar de improviso, e eu gosto de falar assim. Penso em um tema, é claro. “Hoje vou falar sobre o trabalho escravo”, então penso tudo sobre o trabalho escravo, mas não falo lendo.

Pedro Veras: A senhora atribui isso a quê? Essa inclinação, desde cedo, à luta?

Eu vim de muita pobreza. Uma menina, com 9 anos de idade, indo para a roça, indo para debaixo das palmeiras de manhã cedo quebrar coco e voltar no fim da tarde. A gente levava rapadura ou manga, no tempo da manga, pra comer com farinha. Depois ainda tinha que ir vender o coco para o dono da terra – que não dava dinheiro, dava “vale”, um pedaço de papel para obrigar a gente a comprar na bodega dele, o pior tipo de arroz e o pior feijão. Então, tudo isso, mesmo uma criança percebe que não é justo. Por que ele não dava o meu dinheiro para eu ir comprar em outro lugar? Eu ficava sem entender, mas era o método do dono da terra. Meu pai tinha que trabalhar um dia na semana para ele sem ganhar nada. Eu ficava sem entender o porquê. Quando meu tio passou a ser militante das Ligas Camponesas, ele me explicava. E eu lia muito os papéis, sempre gostei muito de ler. Mas tinha também uma intuição, uma coisa minha, de ver e saber separar o que é justo e o que é injusto. Então sempre militei para combater a injustiça. A gente tem a história da legalidade, mas nem tudo que é legal é justo.

André Gonçalves: Vamos chegar ao PT que, também, se confunde com sua história. Historicamente, desde a fundação, o PT foi um partido que trouxe novos ares, mobilizou muito a juventude. Mas o tempo passou e uma das grandes críticas feitas ao partido, hoje, é um suposto envelhecimento, uma falta de renovação, falta de mobilização da juventude. A senhora, que foi presidenta, como avalia essas críticas? E, se elas são pertinentes, o que o partido tem feito para criar esse novo olhar e voltar a mobilizar a juventude? 

Um partido amadurece e envelhece também. Às vezes esquece alguns valores, até porque vai se renovando, outras cabeças vão entrando. O PT se abriu muito. Não sou contra a abertura, mas acho que assimilou alguns hábitos ruins. Mas é um partido que sempre se preocupou com as pautas identitárias, por exemplo. O PT, desde o começo, desde que foi fundado, já tinha a secretaria da mulher. Era obrigatório ter, quem não tivesse não se formava como diretório. Aí foi um pouco pra dentro, criou os setoriais – tem setoriais de todos os segmentos hoje, da juventude, das mulheres, negros, LGBTQIA+, povos indígenas. Todo mundo está representado nas direções do partido, é obrigatório. Por exemplo, município pequeno que vai fazer sua eleição de diretório: se não tiver mulher, não faz diretório – fica comissão provisória. Não tem juventude? Fica comissão provisória. Então tem todos esses recortes que o PT faz justamente para não se afastar tanto. Eu sempre disse que partido não pode ser só uma legenda, uma sopa de letrinhas. Partido é um conjunto de ideias defendidas por pessoas que concordam com essas ideias. Nessa última eleição, por exemplo, mesmo o PT não se saindo bem, muitos jovens foram eleitos. Foi o partido que mais elegeu negros e negras, pessoas LGBTQIA+. O Brasil está em um momento ruim e isso reflete nos partidos também. O PT tem muitos problemas para resolver, mas acredito que nós estamos caminhando. Nosso setorial de juventude cresceu muito, aumentaram os filiados do partido nesses últimos três anos. 

André Gonçalves: Independente do partido, como a senhora está vendo essa mobilização de jovens na política? 

As pessoas não se sentem estimuladas. E também tem tudo o que aconteceu, a criminalização da política, a corrupção. Quando você olha a lista de candidatos de todos os partidos você vê muita repetição das pessoas, pessoas com nove mandatos, com oito, é uma coisa muito ruim. Tem que ter algo que possa abrir o espaço para os jovens. Acho que nós estamos caminhando para um retorno, para uma retomada da militância da juventude. A pandemia, infelizmente, impediu muitas coisas. Imagina se não fosse a pandemia como estaria essa cidade na questão do transporte coletivo. Nunca vi uma cidade passar seis meses sem ônibus e não acontecer nada! (diz com ênfase). Como é que o prefeito toma posse e não faz uma intervenção nesse setor de transporte? Coloca os ônibus para rodar e depois discute como é que vão ficar as empresas! A juventude se mexe muito em função daquilo que toca ela de perto. Então, se não estivéssemos em uma pandemia, a juventude já teria ajudado a resolver esse problema, com certeza. Eu trabalho muito com os jovens do PT, sempre gostei e, de vez em quando, dou um puxão de orelha: “Meninos, vocês são jovens velhos!” (ri). Na hora que vejo um menino assumir um cargo e botar logo um terno e uma gravata, digo: “Ih, envelheceu, meu filho.” 


Pedro Veras: Ainda sobre essa renovação da política, como é que a senhora acha que isso pode ser feito na prática dentro do partido? Existe espaço para que, além do debate, isso esteja presente na prática? A senhora vê outras pessoas, dentro do PT, ressaltando a importância disso?

Olha, espaço, há. O PT tem os setoriais que são a porta de entrada para as pessoas. Você pode entrar em um setorial para discutir aquele tema que gosta: meio ambiente, educação, são temas obrigatórios de ter. Em rede nacional temos muitos setoriais, que fazem o debate, que fazem os encontros, são instâncias partidárias. Acho que esse é um caminho. Sou muito solícita para os jovens, faço encontros com os grupos dos municípios. Vereadores do município tal querem conversas sobre o que faz um vereador? Vamos conversar. Porque as pessoas ficam só esperando asfalto e calçamento, né? E eu digo: “Minha gente, tem tanta coisa que vocês podem fazer!”. Vamos trabalhar a saúde materna, a mortalidade infantil! Você pode fazer isso no seu município, ou pelo menos em um bairro. Promova um debate sobre o meio ambiente, leve uma pessoa especializada para fazer o debate na Câmara. Isso é atitude de vereador. 

Luana Sena: A senhora, que conhece os bastidores da política tão de perto e enfrenta o machismo, poderia dizer pra gente o que deveria ser diferente com a maior participação de mulheres nesses espaços de poder?

Primeiro a gente precisa ter a cota de mulheres. Os países que avançaram é porque tem a cota no parlamento. Hoje nós temos cota de candidaturas, mas as mulheres não são eleitas. No meu tempo o Senado só tinha 13 mulheres, e agora continua com o mesmo número, não avançou nada. A Câmara até que avançou – tinha 50 e foi para 77. Mas precisa ter a cota. Na nossa legislatura, inclusive, conseguimos aprovar essa cota – ela é uma PEC aprovada e está na Câmara, mas ninguém retoma o debate. Em todos os países que têm cota, as mulheres estão em melhor situação. Em 2016 a gente andou esse país inteiro fazendo a campanha Mulheres na Política. Viajei Norte, Nordeste e muitos estados. A gente fazia cartazes, plaquinhas, passeatas dentro do congresso – acho que foi a legislatura mais agitada que teve. A gente saía do Senado, em caminhada, e aí as mulheres da Câmara vinham nos encontrar. Andávamos o Congresso todinho, naqueles corredores, com faixas e cartazes. Foi uma verdadeira campanha e conseguimos aprovar. Agora o Congresso está ainda mais conservador. Os homens acham que são donos daquele espaço, então, se a gente não forçar a barra, eles não vão querer abrir. Para você ter uma ideia, naquela suntuosidade de prédio, no plenário só tinha banheiro para homens. As mulheres ou iam para os seus gabinetes ou iam na cantina. Na reunião seguinte da procuradoria eu já pautei isso. Seis meses depois o banheiro estava feito. São pequenas coisas que simbolizam a ideia de que mulher não deve ocupar aquele lugar. Não tinha espaço para as mulheres amamentarem, também, não só políticas, mas funcionárias. A gente foi sensibilizando para essas questões e deixou muita gente lá militante da causa. Mas é muito difícil. Historicamente o espaço público sempre foi dos homens, né? Então, eles continuam achando que é deles. Tanto que todo mundo ali tem um herdeiro para deixar no lugar.

André Gonçalves: Qual a situação dos povos quilombolas e povos indígenas hoje no Piauí? E quais são as expectativas daqui para a frente? Há motivos para ter otimismo ou a gente está em um momento muito perigoso? 

Aqui no Piauí as comunidades eram reconhecidas, mas a terra não era delas, ainda. Então, nós temos o mérito de ter entregue os primeiros títulos de terras quilombolas. Corremos atrás de legalizar. Povos indígenas também, nós fizemos, demos um título da primeira terra indígena, os Cariris, lá em Queimada Nova. Estamos comprando uma terra lá em Piripiri – o Cacique Guilherme diz: “Índio não quer terra para ficar debaixo, quer terra para ficar em cima”, porque ele diz que vai morrer e não vai receber essa terra. Estamos negociando a compra para assentar os povos indígenas lá e também em Lagoa de São Francisco. Nós estamos dando essa solução que eles esperavam há tanto tempo. Acho que avançamos muito nessa entrega dos títulos das terras, de legalizar, de sair do conflito. É do Estado? Tem que entregar logo. Está em um conflito, está na justiça? Pois vamos fazer andar. É difícil porque a burocracia é grande – as pessoas criam coisas para fazer demorar. Um parecer daqui, um parecer de lá. Isso é uma coisa que me irrita bastante, mas ainda não tenho forças para acabar com isso. Também tem a questão legal – criam leis para complicar, principalmente para os mais pobres. Coisas simples como levar uma água para as pessoas se torna algo complicado.

Pedro Veras: Em 2022 o PT encerrará com Wellington Dias e a senhora mais um ciclo de governo. O que acha que foi, até aqui, o grande legado dos governos do PT para o Piauí? E o que imagina que possam ser os grandes desafios para o próximo? 

Às vezes, quando a gente quer citar feitos, a gente cita obras – eu não gosto disso. Eu me lembro muito do meu amigo, João Paulo, lá de Recife – fomos militantes juntos nas pastorais. No primeiro mandato dele como prefeito fizeram uma manifestação para consertar uma ponte, e ele disse uma frase que depois virou adesivo, camiseta: “Antes de cuidar da ponte eu vou cuidar de quem mora embaixo da ponte”. Tudo o que se faz é para as pessoas. Mas o que muda a vida das pessoas? Um exemplo: um dia desses fui entregar um moinho para quebradeiras de coco de uma comunidade lá em Miguel Alves. O prefeito foi na solenidade e já se comprometeu a comprar o mesocarpo do babaçu, para a merenda escolar. Veja só: um moinho que custou 14 mil reais e mudou a vida de 32 pessoas de uma comunidade. Para mim, as avaliações têm que ser isso: o que mudou na vida das pessoas? Acho que nós temos que olhar exatamente para o invisível. Comparar o IDH de 2002 do Piauí e olhar agora. Estamos no médio, mas ano que vem queremos chegar no alto – e acho que vamos, mesmo com essa puxada pra baixo, da pandemia. A gente tem mais coisas positivas do que negativas. Avançamos no governo, trouxemos mais investimentos. Essa questão da energia limpa, por exemplo, foi um exercício muito grande que o Wellington fez para trazer empresas para cá. Ele fez um monte de visitas, conversas, exibições do Piauí, para que acreditassem que era possível investir aqui. Estou trabalhando em parceria com a SEMAR (Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí) para fazermos um reflorestamento do estado, no ano que vem – um grande reflorestamento, envolvendo trabalhadores e empresas. Um banco de sementes, um banco de genomas, incluir biólogos, estudantes das universidades, para deixar isso como uma herança de meio ambiente, uma ação duradoura. Então, acho que legado a gente tem, mas quem vai avaliar é o povo.

André Gonçalves: Qual é a expectativa que a senhora tem para 2022? Lula voltou a ser líder nas pesquisas. Ele ou alguém das esquerdas sendo eleito, acha que a gente deve ter alguma segurança de que tudo vai voltar a um caminho normal?

Não se pode desprezar a capacidade do Bolsonaro. Ele está com as armas todas, desde as milícias, as polícias e as Forças Armadas. Ninguém se iluda: as Forças Armadas estão com Bolsonaro. No caso das eleições não satisfazerem os critérios deles, eles dão o golpe e tomam. O Bolsonaro está trabalhando um golpe, não sei que tipo vai ser, mas ele está trabalhando. Quando ele diz que não terá eleição se não tiver voto impresso, ele está ameaçando um golpe, ele vai fazer qualquer coisa. Então, a gente tem que ter muito cuidado, de agora mesmo até a eleição o Lula tem que se cuidar, porque esse pessoal não brinca em serviço. Muita coisa pode acontecer durante e depois das eleições. Eles são capazes de tudo para evitar a eleição – agora estão com essa história do voto impresso. Quem iria fiscalizar tudo? Os aliados deles, o exército. Nós vivemos tempos sombrios e não podemos perder a esperança. É tempo de esperançar também. Mas a gente tem que ir trabalhar, não pode ficar só esperançando. E essa é a minha angústia – a gente ver as coisas acontecerem e não fazer o que pode ser feito. A gente fica muito só no discurso, nas notas de solidariedade, no repúdio. Precisa ter mais ação de inteligência. É isso que está faltando. 

domingo, 12 de maio de 2024
Categorias: Entrevista

3 comentários

Samária Andrade · 9 de julho de 2021 às 18:06

Ótima entrevista. Permite conhecer Regina melhor.

Deuselina Soares da Costa · 9 de julho de 2021 às 20:19

Estou muito preocupada com o futuro do Brasil!
Concordo plenamente com as respostas de nossa Vice Governadora Regina Sousa.
Deus abençoe todos nós que vivemos reféns desse governo do Bolsonaro.

Maria Martins · 4 de outubro de 2021 às 01:17

MIL VIVAS à RAINHA🌺FILHA do SOL do EQUADOR do POVO VULNERÁVEL do PIAUÍ TERRA QUERIDA!

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