Nos versos do hino de Teresina, o professor Cineas Santos descreve a capital como a “cidade generosa”. Dona de uma tez morena, na canção, a cidade tem como maior patrimônio o seu povo: honrado, alegre e acolhedor. Em 2021, Teresina completa 169 anos e oestadodopiaui.com procurou pessoas que não nasceram no município, mas escolheram a capital do Piauí para fazer sua morada e construir suas histórias.
Como a história de Marconi Lacerda, que se identifica na biografia do Twitter como “um cearense morando em Teresina”. Foi nessa rede social que, durante uma temporada em Fortaleza e com saudade do lugar, o empresário postou um texto elogiando Teresina: “Só fala mal quem nunca morou em outras capitais. Aqui é muito é bom”, publicou.
Entre críticas e apoios, a postagem ganhou uma série de compartilhamentos, curtidas e comentários que, segundo ele, deram gancho para, no dia 15 de julho de 2020, Teresina ficar entre os assuntos mais comentados no Twitter – os trending topics. O sucesso foi tão grande que ele decidiu se identificar na rede como “Nadal de Teresina” – uma homenagem ao famoso tenista Rafael Nadal e a cidade.
Marconi também é tenista e, no ano passado, conquistou o 1° lugar no torneio da Federação de Tênis do Piauí (Fatepi).
Seu encontro com Teresina foi aos 17 anos. O ano era 2007 e ele foi aprovado no vestibular da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), para cursar Ciências da Computação. O pai, que já morava na cidade, lhe deu abrigo nos primeiros anos de curso, na zona Sul da capital.
Durante quase 15 anos morando por aqui, Marconi conquistou muitos amigos e histórias. Foi na cidade que o empresário casou e viveu um relacionamento que durou nove anos. “Sempre gostei muito do povo daqui, tem um acolhimento imenso”, comenta. “Vivi coisas incríveis nessa cidade e conheci outros lugares também”, lembra. “Digo mesmo, não quero me mudar de jeito nenhum”.
Marconi conhece todos os pontos turísticos da cidade mas, apesar de morar próximo à Ponte Estaiada, nunca chegou a conhecer seu mirante. Ressalta que não é por medo de altura e que pretende ir em breve. Para os parentes de Fortaleza, apesar de ainda manter o sotaque, Marconi é mais teresinense do que cearense.
Sendo um defensor comprometido da história da cidade, ele também reconhece os defeitos. Culpa, principalmente, “os desgovernos” que a capital enfrenta por parte do poder público. Mas acredita que também há desvalorização por parte da população e por isso, ressalta: “Teresina: há quem ame e há quem não dê o valor merecido”.
A cidade que sonhei pra mim
A história de Maria Alice demorou a cruzar as ruas de Teresina. Nasceu em Pedro II, ao norte do Piauí, mas foi morar em São Paulo. Ao voltar para o estado, morou por sete anos na cidade de Piripiri para ficar perto da mãe e criar os três filhos, ainda crianças. Quando o filho mais velho, Carlos Eduardo, completou 14 anos, as escassas oportunidades de estudos obrigaram uma partida para a capital.
Na década de 1990, ela explica, era inviável para ela bancar os filhos em pensões longe de casa e escolas. Para não deixá-los sem formação, decidiu arriscar a mudança. “Peguei a mala, os meninos, o pouco dinheiro que tinha e me mandei para Teresina”, diz.
Hoje, aos 72, Maria relata que os primeiros anos na cidade foram marcados por diversas dificuldades financeiras. Sem assistência do ex-marido, do qual se divorciou ao chegar em Teresina, morou durante muitos anos de aluguel e sustentava a família trabalhando como costureira.
A costura, diz ela, aprendeu com a mãe para ajudar a criar os irmãos. No bairro Mocambinho, zona Norte da capital, montou o ateliê Raro. O empreendimento lhe deu fama na região e criou uma clientela fiel até os dias de hoje, produzindo vestidos, roupas, colchas de cama e confecções em geral.
Maria Alice declara que sua alma é jovem e que ainda tem muita coisa para viver – e, no que depender dela, tudo será vivido em Teresina, cidade pela qual se apaixonou. Ela destaca que o destino poderia ter lhe mostrado qualquer outra cidade para morar – mas este foi o lugar que a acolheu. “Teresina é meu coração”. Aqui, conta, realizou o seu maior sonho: a formação dos filhos.
Uma nova história por aqui
O amor por uma teresinense fez com que o baiano Filipe Nunes desembarcasse na capital do Piauí. Quando conheceu Roberta durante uma festa na cidade de Feira de Santana, na Bahia, o casal engatou um namoro por quatro anos. Com o casamento em 2018, veio a decisão de escolher Teresina como lar e berço para os filhos Isabella, de dois anos, e o bebê Lucas, que o casal espera para este mês.
Filipe sempre gostou de trabalhar com culinária, se profissionalizando como cozinheiro, chefe-executivo e consultor de restaurantes. Ainda em Feira de Santana, foi dono de uma loja especializada em fast food em um shopping da cidade. Em Teresina, percebeu que o tempero local poderia garantir um negócio de sucesso. Com o nome “Piauhy”, o restaurante tem como carro-chefe pratos típicos da capital como panelada e sarapatel de carneiro ensopado.
Ele explica que apostou no novo negócio durante uma época difícil para comerciantes – os primeiros meses de 2020, quando foi declarada a pandemia da Covid-19. “Desde que conheci a Roberta, a gente sempre ficava indo e voltando, de 15 em 15 dias”, relembra. “Senti que era hora de ficar em algum lugar. Abandonei o antigo negócio, deixei família e amigos. Criei uma nova história por aqui e não me arrependo”, completa.
Apesar de não ter se acostumado com o calor da cidade, Filipe diz que “a capital com ares de interior” tem uma tranquilidade que ameniza a saudade do mar de Salvador. Conheceu todos os pontos turísticos de Teresina, mas lamenta a falta de investimento na cultura e infraestrutura dos lugares que visitou. Ele conta que pretende fincar raízes por aqui – cidade que escolheu para ver os filhos crescer e montar seu restaurante. Ele já se sente parte de uma Teresina que traz experiências e oportunidades para quem nasceu aqui, mas também para quem a escolheu como lugar para fazer morada.
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