domingo, 19 de maio de 2024

No traço da crítica

Aos 15 anos, Juan quer ser cartunista e coleciona quadrinhos autorais: “Desenhar é minha forma de expressão”

06 de junho de 2022

Juan Carlos acorda todos os dias, toma um café e lê tirinhas de jornal. Na sua mente, caro leitor ou leitora, você certamente imagina a figura de um homem grisalho, a julgar pelo hábito matinal extraído do século passado. Mas o Juan tem 15 anos, cabelos encaracolados e usa all star preto.

Ele está no 1º ano do Ensino Médio no CETI Portal da Esperança, a duas ruas da casa onde mora, na zona Norte de Teresina. Fora da escola de tempo integral, ele passa o tempo no seu “ateliê secreto”. “Que algumas pessoas costumam chamar de quarto”, diz o jovem, que é fã de famosos cartunistas como Laerte, Adão Iturrusgarai e Quino, o argentino criador da Mafalda, que morreu há dois anos.

“Gosto de quadrinhos, tirinhas, cartuns mesmo daqueles que a gente vê em jornal”, diz, como se não se referisse a uma mídia quase obsoleta que, ao longo dos séculos, foi perdendo a característica de críticas políticas através do talento de grandes artistas. “Meu pai não joga nenhum livro escolar fora, ele guarda tudo”, conta o adolescente tímido. “E eu ficava lendo todas as tirinhas e tentando copiar os desenhos”.

Longe de ser apenas passatempo, as tirinhas, charges e cartuns têm sido importantes ferramentas de ensino-aprendizagem – estando muitas vezes presentes em provas e processos seletivos. Ao utilizar o humor, alcança críticas sociais em representações visuais – sendo um gênero textual proveitoso para um mundo com foco na economia de atenção.

Juan, que assina os desenhos com o pseudônimo de Utopan, tem três histórias de quadrinhos autorais – nas quais desenvolveu sozinho roteiro, personagens e enredo. Também é ele que desenha com nada menos que uma folha de papel e uma caneta bic. “Tem uma de ficção científica, uma de fantasia e comédia e outra mais densa, uma espécie de drama filosófico”, conta à reportagem.

Seus traços denunciam um olhar atento ao que acontece no mundo – nem que seja o seu próprio mundo interior, nem sempre tão secreto. De uma pastinha que leva consigo saltam desenhos cheios de personalidade e inspiração. Juan não é propriamente adepto das redes sociais e divide apenas um aparelho celular com a família. “Sou uma incógnita no mundo”, diz. Curioso, prestava mais atenção no trabalho da repórter do que preocupava-se em respondê-la. Depois entendemos: quer ser jornalista. “Jornalismo e arte: os pilares máximos da democracia”. 

 

domingo, 19 de maio de 2024

Luana Sena

Jornalista, mestra e doutoranda em comunicação na Universidade Federal da Bahia.

1 comentário

Edilma Brito de Sousa · 7 de junho de 2022 às 20:20

Meu filho amado,fonte de tanto orgulho.

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