Davi Henrique sempre foi uma criança que gostava de dormir pela manhã. A mãe, Eleonora Sales, acreditava que o menino fazia birra, mas descobriu somente nas férias que Davi não gostava de ir à escola por causa do bullying. Os sinais também vieram um pouco antes, quando a criança pedia para a mãe cortar o cabelo encaracolado. Os colegas de turma puxavam e dizia que se assemelhava a minhoca.
Eleonora avisou à direção da escola e o problema foi sendo resolvido entre os pais e os colegas, mas as sequelas das violências na sala de aula ficaram. A criança, hoje em dia, faz terapia. As consultas têm tido impacto na rotina do garoto, que já não sente mais a escola como um lugar perigoso. A mãe também foi vítima de bullying na infância e acredita que o assunto não é algo apenas geracional.
As duas gerações estão dentro do último estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em dez anos, o número de crianças que já sofreram bullying aumentou. Em 2009, o percentual era de 30,2%. Em 2019, o número subiu para 42,9%.
Teresina chega a ocupar a 10ª posição entre as capitais brasileiras no ranking do bullying. São as mulheres que possuem uma proporção maior que os homens, cerca de 44,9%. Segundo a pesquisa, 41,1% dos homens afirmaram já ter sofrido algum tipo de bullying.
O percentual também mostra que os estudantes da rede de ensino privada têm maior proporção de pessoas que relataram sofrer bullying, que estudantes matriculados em escolas públicas. Em 2019, o percentual dos estudantes de escolas públicas foi de 42,5% e 43,8%,nas unidades privadas – um aumento de mais de 20% da média registrada em 2009.
O bullying se refere a qualquer atitude ameaçadora dentro do ambiente escolar. A pedagoga Maria Auxiliadora Sousa, no entanto, explica que não é somente a violência entre alunos, mas também pode acontecer entre alunos e professores – ou também servidores da instituição de ensino.
Quando em uma série histórica a capital aumenta o percentual de bullying, algo dentro da sociedade não vai bem. Isso porque as crianças acabam reproduzindo situações violentas ou agressivas de onde estão e replicam no ambiente de ensino. “Nessa situação, os colegas que não se encaixam nos padrões do bullies (valentões) viram seus alvos”, complementa.
Por outro lado, formas eficazes de lidar com o bullying não se restringem a quem pratica ou quem é a vítima. O público, que envolve desde colegas, professores e a rede administrativa da escola, é essencial para poder resolver a violência no ambiente escolar. “Um funcionário que não acredita no relato da criança, ou um professor que ignora quando um aluno está violento, promove o cenário dessa agressão”, complementa. “O bullying é um problema atemporal e que depende de toda comunidade escolar para ser erradicado”, pontua a pedagoga.
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