Uma cidade que pode ser habitada e vivida em segurança pelas crianças, é uma cidade que contempla todo mundo. Não só a arquitetura e o urbanismo, mas também campos como a sociologia, a antropologia – e a arte – têm pensado a mobilidade urbana e a relação das pessoas com a cidade e os espaços em que vivem.
Para Layane Holanda, artista e produtora cultural, a criança é um disparador do convívio social. “Todo espaço que pensa infância acaba alcançando outras pessoas”, diz em conversa com o site oestadodopiaui.com. Ao lado da amiga e também produtora cultural Soraya Portela, elas organizam a terceira edição do TRISCA – festival de arte com criança. A proposta é pensar um circuito de arte e cultura que envolva, desde cedo, as crianças. “Infância e cidade é uma relação que precisa ser construída e precisa existir, ela não está dada”.
Desde a primeira edição do evento – que acontece, este ano, contemplado pela Lei Aldir Blanc de incentivo a cultura – a dupla discute uma programação cultural fora dos muros das escolas, das residências e dos “espaços kids”. “Pensar a cidade e pensar em viver a cidade é pensar o acesso ao patrimônio cultural desse lugar”, diz a artista. Nos dias 11 e 12 de dezembro, um fim de semana, o festival ocupa a biblioteca pública estadual Cromwell de Carvalho – no centro da cidade, em frente a praça do Fripisa, com acesso de ônibus para todas as zonas e bairros, a experiência é uma domingueira cheia de “acontecimentos”.
Para Cintia Amorim, mãe da pequena Lis, de dois anos e oito meses, há poucas atividades para o público infantil na cidade – e, as que tem, não são socioeducativas além de pouco acessíveis. “Aqui em Teresina são poucas opções gratuitas”, comenta. “São relativamente caras e geralmente você paga duas, três horas para a criança ficar dentro de um local fechado com vários brinquedos e pronto”, critica.
Para driblar a falta de opções, Cintia viajou até o litoral atrás de uma programação voltada para crianças. “Nessa pós pandemia eu vi um aumento no número de eventos voltado para o público infantil, várias feirinhas tem acontecido em praças e espaços públicos”, observa. “Acho bem importante esses movimentos que trabalham o lado social e cultural”.
Pensando criança e cidade
Para a produção do TRISCA, uma cidade é a junção dos hábitos, das práticas culturais, da produção simbólica e de toda a memória de algum lugar. Por esta razão, a defesa do patrimônio público se aproxima do evento e sua ocupação em uma biblioteca cuja construção é datada do início dos anos 20 – a biblioteca pública sediou a primeira escola primária da capital, antes de virar a Faculdade de Direito do Piauí, entre as décadas de 50 e 70.
“A gente precisa lutar mais para entender que a arte é um direito”, defende Layane Holanda. “Ela não precisa ser esse privilégio de país de primeiro mundo, que tem museu e políticas culturais. Ela precisa ser um direito básico, assim como o acesso à educação, à segurança e à saúde”. Na pauta do TRISCA, fomentar um circuito artístico que pense a cidade como organismo vivo é regra. “Nós precisamos pensar desenvolvimento e qualidade de vida de uma maneira ampliada”, defende. “Uma criança que conhece o mercado, os bairros, os espaços públicos da sua cidade é uma criança que vai pertencer a esse território de uma maneira mais qualificada e vai com toda certeza se tornar um adulto que enxerga o espaço onde vive de maneira mais crítica, mais forte e mais afetiva”.
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