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Piauí Potência

Estado é o que mais produz energia solar no Brasil; geração de energia eólica e fotovoltaica também avança

19 de outubro de 2022
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Edição Luana Sena

Em poucos anos, estima-se que pelo menos dois milhões de empregos sejam criados no Nordeste no setor de energia renovável. Os dados são do Plano Nordeste Potência, uma pesquisa divulgada este ano sobre o potencial de crescimento da região em desenvolvimento sustentável. 

Para se ter uma ideia, o número é duas vezes maior que o total de empregos existentes em todo o país nesses setores. Quando o assunto é energia renovável, o Piauí sai na frente como líder no ranking de expansão da matriz elétrica brasileira, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). O destaque são para dois tipos de energia apontadas pelo levantamento: energias que vêm do sol e vento. 

A aposta nas energias renováveis no Piauí tem dado força para a criação de uma nova geração de jovens cientistas. Na Universidade Estadual do Piauí, o professor Juan Aguiar lidera o Núcleo de Formação e Pesquisa em Energias Renováveis do Piauí (NUFPERPI). Por lá atuam mais de 20 pesquisadores, 17 professores e 32 alunos, aproveitando as fontes de energia renováveis do estado por meio de projetos em benefício da sociedade e da economia. Com a energia solar, o Núcleo já desenvolveu sistemas de bombeamento de água para regiões de plantação em pleno sertão. O Núcleo também tem projetos e  pesquisas que usam a energia eólica e hidráulica. “Buscamos aproveitar as capacidades energéticas do Piauí da melhor forma possível”, destacou o professor à reportagem.

Leia mais: O futuro que vem do sol

Para ele, as energias renováveis são o futuro e já ajudam a transformar o presente. “O trabalho com energia renovável deve ser dinâmico e jamais distante da sociedade”, explica sobre a aplicabilidade da geração dessas energias. “Não basta investir em tecnologia, é preciso saber aproveitar as características do nosso estado”, completa, se referindo à grande oferta de recursos naturais no Piauí.

A geração atual de jovens também é valiosa para a garantia de um futuro com mais sustentabilidade. Isso porque, ao mesmo tempo em que vivem um ponto de transformação tecnológica, também fazem parte dela. Como Hizadora Lima, estudante de engenharia elétrica na UESPI e pesquisadora no Núcleo desde sua fundação. “O protagonismo é intrínseco aos jovens, pois temos capacidade de pensar em soluções e práticas inovadoras”, afirma. “A juventude piauiense tem potencial de contribuir com o desenvolvimento sustentável”, completou. 

Com uma mão de obra intelectual sendo formada agora pelos núcleos de pesquisa, a expectativa é de que haja um mercado de trabalho com profissionais qualificados em um futuro próximo. Enquanto as energias renováveis se solidificam cada vez mais no Piauí, uma nova geração de profissionais tem se aperfeiçoado no estado.  Marcos Lira, engenheiro eletricista e doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente, explica: quando uma usina é instalada em uma cidade, uma série de empregos são criados. “Durante o processo de construção de uma usina, milhares de pessoas são deslocadas para trabalhar no local, e o comércio é aquecido não apenas no setor de energia, mas em tantos outros”.

 

 

 

 

 

 

Filha do sol, água e luz

Um dos destaques que coloca o Piauí no rol de energias renováveis é a abundância de recursos naturais. Ramon Campelo, diretor da Secretaria de Estado da Mineração, Petróleo e Energias Renováveis, aponta que uma série de usinas devem chegar em breve ao Piauí. Para isso, o estado tem se preparado: em 2016, foi criado o Programa Piauiense de Incentivo ao Desenvolvimento de Energias Limpas (PROPIDEL), um plano específico para a instalação e manutenção das novas energias renováveis no estado. 

As miniusinas de energias limpas são um dos indicativos promissores para o estado e mais seguro para o meio ambiente. É o que explica a superintendente Érica Feitosa, da Superintendência de Parcerias e Concessões (SUPARC): “A produção em miniusinas ocorre sem queima de combustíveis fósseis, que agravam a poluição. Deixamos de emitir centenas de toneladas de gás carbônico por mês em cada empreendimento”, explica.

Apesar do destaque às termoelétricas e hidrelétricas, é com as energias solares que o Piauí desponta nacionalmente. Os raios solares intensos que podem gerar insatisfação para alguns, especialmente durante o período mais quente do ano (setembro a dezembro),  também consistem numa fonte abundante e inesgotável de energia. Atualmente, 60 usinas de energia solar estão em operação e produzindo no Piauí. A maior delas está no município de São Gonçalo do Gurguéia, que fica a 800 km de Teresina. A instalação se destaca nacionalmente, mas não só isso: o parque é considerado o maior de energia solar da América do Sul, produzindo 1.500 GW por ano. O engenheiro Marcos Lira lembrou à reportagem que, quando se fala em distribuição de energia solar para consumo residencial, Teresina ocupa a 4ª posição entre todas as cidades do Brasil.

Uma grande parte dos municípios enfrentam longos períodos de seca todo ano – sobretudo de maio a dezembro – e encontram dificuldades para  produzir energia hídrica. A água depende dos rios, e os rios, das chuvas. Com a limitada disponibilidade, a vazão dos reservatórios das hidrelétricas fica comprometida. A situação fica ainda pior: com pouca água, as bandeiras tarifárias, cobradas aos consumidores na conta de energia elétrica, se tornam ainda mais altas.

Mesmo assim, no Piauí, a fonte mais antiga de geração de energia está nas hidrelétricas, de acordo com esclarecimentos de Marcos Lira à reportagem. Segundo o engenheiro, as hidrelétricas se tornam uma ameaça à sustentabilidade por serem frequentemente associadas às termelétricas, que, por sua vez, são muito poluentes e caras. Por isso, quando o objetivo é gerar energia renovável, há maior investimento em geração de energia eólica e solar no estado.

Atualmente, se destaca a Usina Hidrelétrica de Boa Esperança, localizada no município de Guadalupe. É nessa instalação que fica a maior usina solar flutuante do Brasil, um empreendimento que vai complementar a geração de energia pela hidrelétrica, sem ocupação e degradação do solo, promovendo o desenvolvimento econômico, ambiental, tecnológico e turístico da região. 

Leia mais: O futuro que vem do sol

Onde faz sol o ano todo, também não falta luz. De acordo com a Aneel, a potência das usinas de energia fotovoltaica instaladas em território piauiense passou de 1 GWH, ou 1.033,76 MWh. A energia fotovoltaica vem da radiação solar, gerando, assim, eletricidade. O efeito fotoelétrico é o ponto de partida desse processo: por meio dele, determinados materiais conseguem absorver fótons (partículas luminosas) e liberar elétrons, gerando, enfim, energia elétrica. 

No Piauí já existem duas miniusinas fotovoltaicas: uma na cidade de Altos e outra em Campo Maior, ao Norte do estado, por meio de uma Parceria Público Privada de Energias Limpas, com a concessionária Rio Poti Energia. O objetivo inicial é que as usinas produzam energia para ser consumida pelos órgãos da administração do estado, tornando-os autossuficientes no abastecimento.

Além de sustentável e renovável, a energia fotovoltaica gerada pelas usinas garante mais economia aos cofres públicos: redução mensal de 23% nos gastos do Estado com energia para abastecer os órgãos públicos. Com o funcionamento das instalações, espera-se ainda que cerca de mil toneladas de carbono deixem de ser emitidas todos os meses. Esse número equivale ao plantio de 15 mil árvores, ou a 50 campos de futebol reflorestados em cerca de um mês.

Vento pra dar e vender

Vento também não falta por aqui. Diferente da luz solar, está disponível o tempo todo, com constância e qualidade suficientes para movimentar os aerogeradores. O estado já ocupa a 3ª posição entre os maiores produtores de energia eólica no país, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). No Piauí, há o maior parque eólico da América do Sul: o Parque Lagoa dos Ventos, localizado nos municípios de Lagoa do Barro do Piauí, Queimada Nova e Dom Inocêncio. 

As usinas eólicas estão localizadas, sobretudo, em regiões litorâneas, como na cidade de Parnaíba. Outras usinas que aproveitam o vento para gerar energia limpa estão localizadas nos municípios de Paulistana, Simões, Padre Marcos e Caldeirão Grande do Piauí, de acordo com levantamento da reportagem. A capacidade do estado de gerar energia eólica também é evidenciada por meio dos projetos da Enel no Brasil, dos quais 44% – quase a metade – se encontram no Piauí. Unindo energias solar, fotovoltaica e eólica, o Estado produz o dobro da eletricidade que precisa. 

 

O NUFPERPI também trabalha em ações de aproveitamento da energia que vem do vento. De acordo com seu coordenador, Juan Aguiar, o núcleo ainda está elaborando a plataforma física onde os projetos serão desenvolvidos. Atualmente, são realizadas apenas simulações e ensaios com o uso de softwares, além de pesquisas sobre o aproveitamento do potencial do vento para gerar energia limpa no Piauí. “Já faz parte das nossas estratégias pensar  aplicabilidades para futuros projetos”, garante o professor. 

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