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Profissão do presente

Aquecido, mercado de tecnologia no exterior contrata jovens piauienses com salários que equivalem a de ministro do STF

21 de fevereiro de 2022

Thiago Guimarães, 24 anos, tem uma rotina de trabalho que inicia sempre às 10 horas da manhã. Com preparativos para as reuniões, encontros de ajustes entre a equipe de programadores e apresentações para os chefes. Thiago é designer de produto de uma empresa canadense, embora não tenha precisado sair de Teresina para ganhar um salário seis vezes maior do que o anterior, agora pago em dólar. 

Ramon Melo trabalha atualmente para uma empresa na Europa que fornece soluções para desenvolvedores de jogos. Ele cumpre 40 horas por semana, em home office, mas sua jornada pode ser bem flexível, desde que cumpra seus prazos e entregas. O desenvolvedor está há cinco anos na empresa e é responsável por alguns projetos, serviço pelo qual recebe em média 20 dólares por hora – o que corresponde a R$ 103,46. 

A pandemia provocada pelo coronavírus, transformou em escritório qualquer lugar onde o profissional esteja. E esse é só um dos principais fatores, que têm estimulado a busca de companhias estrangeiras por profissionais brasileiros, a exemplo como Thiago e Ramon. É o que aponta o levantamento mais recente realizado pelo PageGroup, consultoria líder mundial em recrutamento executivo, que constatou um aumento de 20% na contratação dessa mão de obra até agosto do ano passado, em comparação com o mesmo período do ano anterior.

De acordo com Willame Figueredo, gerente de projetos em uma companhia de cosméticos com atuação em toda a América Latina, um dos fatores que justificam essa busca é o reconhecimento do nível técnico dos profissionais brasileiros. “Somos conhecidos nos EUA, Canadá e Europa como excelentes profissionais. T.I brasileiro é bastante valorizado”, comentou o profissional.

Em segundo lugar, Willame destaca a atual situação da moeda brasileira – a baixa valorização do real em relação ao dólar, euro ou dólar canadense – permitindo que as empresas de fora sejam capazes de ofertar salários consideravelmente baixos localmente, mas capazes de mudar a vida de um brasileiro. 

“Um bom desenvolvedor na Califórnia não sai de casa para trabalhar por menos de 150 dólares a hora”, diz Willame. “Aqui no Brasil, é possível ofertar para um profissional, com o mesmo nível de expertise, por 30/40 dólares a hora. Um salário medíocre para o mercado de TI dos EUA, mas suficiente para dar a um desenvolvedor que mora no Brasil um salário de ministro do STF”, compara. 

O caso do gerente de projetos, é um pouco diferente do que aconteceu com os jovens Thiago e Ramon. Ele entrou no mercado de T.I em 2017, trabalhando para uma empresa de tecnologia em Teresina. Com a pandemia e a popularização do trabalho remoto – um caminho que muitos julgam sem volta – as empresas de T.I começaram a procurar profissionais de fora do eixo Rio – São Paulo – e foi assim que, desde 2021, Willame trabalha em uma tech paulistana. Ele foi convidado a participar do processo de seleção através do LinkedIn, ferramenta super usual nesse mercado, afirma o T.I. “Toda semana praticamente chegam convites para participar de processos seletivos”, comenta. 

A ida para uma empresa canadense se deu em uma jogada de compra. Um banco canadense com o qual a empresa onde trabalhava tinha contatos decidiu adquiri-la, levando junto todo o corpo de colaboradores. “Foi uma maneira fácil deles contratarem instantaneamente quase 300 profissionais de TI”, explica. Mesmo após essa fusão, a companhia ainda ficou com mais de 200 vagas para preencher – atualmente há  500 vagas em aberto, revela.

Leia mais: Empregabilidade no setor de tecnologia cresce, mas oferta de cursos é escassa e reflete um grande abismo social

Mais do que nunca, a área de tecnologia estará aquecida em 2022. Essa é a previsão revelada na pesquisa feita pelo Banco Nacional de Empregos (BNE), que já havia constatado um crescimento de 20% no setor no ano anterior, em comparação a 2020. Para este ano, a tendência é manter o número de contratações altas, com um total de 44.274 vagas em diferentes setores tecnológicos. Dessa forma, as chances de obtenção de melhores salários também crescem para os profissionais.

Atualmente, o Brasil é o 10º maior mercado do mundo no setor. Na América Latina é o líder e responde por 40% do total, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes). Entretanto, o país precisa enfrentar a falta de mão-de-obra qualificada para não perder a oportunidade de ser referência na área. 

Pais e a tecnologia na educação

Usar a tecnologia dentro da sala de aula para aprender não, é a única maneira de preparar as crianças para o futuro. De acordo com o Bureau of Labor Statistics, empresa de estatística de busca de emprego, 52% do crescimento de vagas, até o ano de 2022 será nas áreas de computação e matemática – o que ressalta uma grande importância no ensino de Ciência da Computação e habilidades digitais nas salas de aula hoje. 

Em 2018, a Microsoft resolveu ouvir os pais a respeito do que eles acham e, como se sentiam, em relação à tecnologia dentro da sala de aula. 50% dos pais acreditam que, a codificação e a programação de computadores, são os assuntos mais benéficos para a futura empregabilidade de seus filhos. Quando perguntados sobre o envolvimento do setor de tecnologia, 75% deles disseram, acreditar, que as grandes empresas de tecnologia. Deveriam estar envolvidas em ajudar as escolas a desenvolver as habilidades digitais das crianças.

Willame Figueredo, acredita que é apenas uma questão de tempo para que cursos como Engenharia da Computação, Ciências da Computação e Sistemas de Informação “caiam nas graças” dos grandes vestibulares no Brasil. “O crescimento do mercado de T.I é um caminho sem volta, pois, enquanto o planeta for refém da tecnologia, sempre haverá espaço”, diz. “Pais, coloquem e incentivem seus filhos a fazerem cursos em áreas tecnológicas e um curso de inglês”, adverte.

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Categorias: Reportagem

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