Com pouca inibição, Stéphanie Beatriz caminha com atenção por dentro do The Hub – o primeiro hub de inovação e tecnologia do Piauí. Ela é acompanhada por Lívia Saraiva, empresária e head de inovação corporativa do espaço. Na manhã do dia 25 de agosto, Sthéphanie foi a sombra de Lívia, acompanhando a agenda de compromissos da empreendedora. A experiência faz parte de um projeto especial da Junior Achievement (JA), o “Empresária Sombra”, que pretende proporcionar experiências de incentivo para jovens empreendedoras. Naquele dia, outras 10 meninas participaram do programa em outras empresas na capital.
Lívia começou no ramo empresarial com apenas 21 anos, mesma idade de Stéphanie. O seu maior desafio foi a maternidade e a pressão da sociedade. “Eu pensei dezenas de vezes em fechar a minha empresa pois eu achava que estava sendo uma mãe ruim por ter um trabalho”, afirma a empresária. Lívia faz parte de um quantitativo pequeno no Piauí. Apenas 36% das empresas piauienses têm uma líder mulher. Apesar do índice ser pequeno, o estado ocupa o 3º maior lugar no empreendedorismo feminino do Nordeste e o 7º do Brasil, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
De acordo com os dados, 27,4% das mulheres estão na faixa etária de até 44 anos e 65% estão à frente de empresas com dois anos ou mais de atividade. Os homens predominam à frente de negócios nos setores da agropecuária, serviços e construção civil, enquanto as mulheres estão mais presentes no comércio e na indústria.
Esses números revelam as dificuldades que as mulheres têm em determinados setores, onde o ambiente empresarial ainda não chegou à igualdade de gênero no Piauí. Christiane Gomes, gerente de gente e gestão da Carreira RH, aponta que os maiores empecilhos se encontram na própria inserção e na falta de apoio no mercado de trabalho, que é predominantemente masculino. “Quando uma mulher empreende, muitas vezes, ela inicia sem muita base”, observa Christiane. “Ela desbrava o mercado sozinha”.
Como alternativa, o Sebrae tem realizado a caravana “Pra Ela” no estado, para promover a qualificação e inclusão produtiva de mulheres de baixo poder econômico. As beneficiárias do programa Auxílio Brasil, autônomas ou que desejam empreender, são o principal alvo do projeto. A Prefeitura de Teresina, por meio da Secretaria da Mulher, realiza a entrega do prêmio Teresa Cristina, para empresas que desenvolvem diretrizes voltadas para políticas públicas voltadas para a igualdade de gênero.
Por outro lado, o empreendedorismo feminino é composto por diversos desafios, entre eles a jornada múltipla, o preconceito, a falta de incentivo e taxas de juros mais altas, segundo a pesquisa realizada pelo Monitoramento de Empreendedorismo Global (GEM). De acordo com a GEM, em 2017, as mulheres se dedicavam aos afazeres domésticos cerca de 73% mais que os homens. Essa jornada múltipla acarreta uma carga física e mental muito alta para as mulheres.
Ainda de acordo com a pesquisa, 50,7% das mulheres entrevistadas alegaram que o medo de fracassar não seria o principal impasse para começar um negócio. Contudo, 61,4% dos homens apontam este como o principal problema. Para eles, as mulheres se mostram mais inseguras para iniciar um novo negócio.
Um estudo realizado pelo Sebrae, em 2016, mostra que empresas comandadas por mulheres são mais concentradas no mercado local. O fato pode estar relacionado diretamente com o setor e o porte de empreendimentos. Em situação de liderança, as mulheres costumam valorizar mais as relações. Elas também apresentam uma visão mais abrangente e analítica do negócio, segundo o estudo. Lívia mira um caminho parecido com o destino que os dados apontam. “Acredito que estamos aqui para escrever uma história de muita dedicação”, afirma à reportagem. “E podemos construir uma história mais bonita para as meninas que estão vindo aí”, finaliza.
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