Teresina é uma mulher.
Discreta e silenciosa, vive à sombra do patriarcado, interessa-se por ciência e cultura, desvia de grandes polêmicas. Mas se for preciso tocar fogo em ônibus, não foge aos seus. A primeira que luta é Teresina.
O Poty era só uma pequena vila ribeirinha que, por instalar-se nas margens do grande rio perene recebeu esse nome. Ali, desde 1760, como nos conta a história, viviam pescadores, canoeiros e plantadores de fumo e mandioca da Vila do Poty. Só quase um século depois, em 1852, a vila entre rios foi elevada a categoria de cidade, numa jogada política do presidente da província do Piauí, o conselheiro José Antônio Saraiva.
O casamento de Teresina com os rios foi estratégico – tal qual o da imperatriz do Brasil, Teresa Cristina, com Dom Pedro II, feito por procuração. Numa simples canetada e em linhas retas (tendo a igreja de Nossa Senhora do Amparo, padroeira dos potienses, como ponto de partida) desenhou-se o quadrante de norte a sul, com um quarto de légua para cada lado.
Tudo planejado e organizado para o crescimento social e econômico – na confluência dos rios Parnaíba com o Poty, seria fácil escoar o que era produzido na região. (Leia aqui sobre a relação da cidade com os rios hoje). Teresina é cortada por estradas que ligam Oeiras a Parnaíba em posição geográfica privilegiada – bem como a posição que Teresa Cristina ocupou ao lado do imperador, apoiando a ideia aparentemente maluca de transferir uma capital.
É curioso pensar que, aquela época, o progresso – ou a ideia que se tinha disso – parecia pedir passagem. Hoje, 169 anos depois, o mesmo impulso de conectar pessoas e regiões parece ter adormecido nos ideias dessa mulher. Um pouco movidos por essa sensação, nossa home de aniversário da cidade destaca uma das maiores crises enfrentadas por Teresina nos últimos tempos: o transporte público. Nesse 16 de agosto, só um ônibus embrulhado pra presente seria capaz de surpreender a cidade.
Teresa Cristina nasceu em Nápoles, na Itália, mas foi em terras brasileiras que viveu por mais de 40 anos. A história conta que ela nunca se recuperou da partida, banida do Brasil. A saudade do lugar onde plantou seus sonhos, chegou a adoecê-la. Inspirados nessa relação de afeto que desenvolvemos com as cidades onde fincamos morada, contamos histórias de pessoas que escolheram Teresina como lugar de pertencimento.
Para sair do clima bad vibes, afinal, aniversário deve ser dia de ter também o que comemorar, nosso estímulo vem de jovens estudantes da cidade, que não abandonaram a escola mesmo diante de uma das maiores crises sanitárias do mundo Teresina é teimosa.
São encantos e segredos de uma mulher esperta que, aliás, reconhece e não tolera mentiras. Botamos contra a parede homens e promessas não cumpridas, em um conteúdo que mira de aquilo naquilo que o jornalismo de qualidade jamais poderia ter perdido de vista: a checagem dos fatos. Um pouco para rir, muito para se preocupar.
O jogo dos sete erros é nossa prenda divertida a você, Teresina.
Feliz 169 anos.
Luana Sena
editora
0 comentário