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Machismo e pandemia: fala de médico repercute e é criticada na internet

12 de junho de 2021

Em entrevista ao vivo para o jornal Piauí TV 1, na manhã de ontem (11), o médico Gilberto Albuquerque, presidente da Fundação Municipal de Saúde, explicou a ordem prioritária da campanha de imunização contra a Covid-19 na cidade. Indagado pelo repórter sobre a lógica de mulheres serem vacinadas no turno da manhã enquanto homens devem ir somente pela tarde, o médico afirmou: “que é pras mulheres voltarem logo pra fazer a comida cedo”. 

O médico explicava a estratégia da Fundação que, neste sábado, ampliou a faixa etária para 55 e 54 anos e está aplicando a primeira dose em drive-thru. A recomendação era que mulheres fossem aos pontos para receber a vacina das 9h às 13h, mas a frase acabou soando mal: “Imagina falar isso e achar que tá sendo engraçado”, disse um internauta.

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O vídeo da entrevista com o presidente foi replicado muitas vezes nas redes sociais, com comentários críticos que destacavam o posicionamento machista e sexista do médico. “A mulher tem que se vacinar cedo pra voltar pra casa e fazer o almoço é, secretário?”, quis saber uma usuária no perfil do Instagram da FMS. “Marquei a minha pra 9h e sou eu quem faz o almoço. Pela lógica do secretário eu sou mulher”, disse um usuário no Twitter.

Até o momento, nem a assessoria da FMS nem o médico se pronunciaram sobre o assunto. 

Mulheres e o trabalho doméstico

Historicamente, mulheres têm o cotidiano marcado por funções responsáveis pela manutenção da vida – a elas foram atribuídos os cuidados domésticos da casa e dos filhos e, com a entrada no mercado de trabalho, elas viram suas jornadas duplicarem. 

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Na pandemia, com muitas famílias quarentenando, dispensa de serviços domésticos feitos por terceiros e, muitas vezes, pessoas doentes em casa, o quadro de desigualdade entre os gêneros se intensificou, escancarando ainda mais essa realidade e revelando a importância dos cuidados na vida cotidiana.

Uma pesquisa realizada por Gênero e Número e SOF Sempreviva Organização revelou que 50% das mulheres passaram a cuidar de alguém na pandemia – mesmo boa parte delas trabalhando em home office ou desempregadas. Dados do relatório anual sobre a disparidade de gênero do Fórum Econômico Mundial, referentes a 2020, apontaram ainda que a pandemia acrescentou três décadas ao tempo necessário para reduzir a disparidade econômica entre homens e mulheres – a previsão passou de 99,5 para 135,6 anos, em apenas doze meses.

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Luana Sena

Jornalista, mestra e doutoranda em comunicação na Universidade Federal da Bahia.

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