domingo, 24 de novembro de 2024

O sonho da farofa própria

Cultivando mandioca no Japão, casal quer fabricar a comida que não falta no prato nordestino

08 de julho de 2021

Gabriela e Hiro se conheceram em janeiro do ano passado no Japão, e essa é uma história de amor à primeira vista. Não do Hiro pela Gabriela – mas sim do Hiro por uma iguaria brasileira comum e presente nas refeições nordestinas: a farofa.

Na primeira vez que o namorado foi jantar em sua casa, Gabriela Bailas – que é brasileira, PhD em Física Teórica de Partículas e trabalha como pesquisadora há 3 anos no Japão – serviu strogonoff. Aproveitou para apresentar-lhe a farofa, velha conhecida dos brasileiros. “Ele amou e desde então come farofa com tudo!”, diz a cientista, revelando que o, hoje, marido, costuma andar com um potinho de farofa na mochila para comer com tudo.

 

“Hirofa”: amor pela farofa foi à primeira vista. (Foto: arquivo pessoal)

 

A paixão de Hiro Takagi por farofa acabou indo longe demais. Ele, que trabalha como consultor científico para agricultores, decidiu que iria produzir a sua própria farofa. A ideia veio quando Gabriela conheceu a fazenda da família japonesa, em Omitama, cidade no interior do país onde os avós de Hiro mantém há 60 anos uma pequena agricultura familiar – repolho japonês, alface, batata, pepino, amendoim, espinafre e os famosos tomates do avô de Hiro são cultivados sem uso de produtos químicos.

Colheita deve acontecer em novembro, antes do inverno no Japão (Foto: arquivo pessoal)

A terra fértil pareceu ideal para a realização de um sonho: plantar mandioca e produzir sua própria farofa, com gostinho caseiro. “Comecei a pesquisar e descobri que é proibido importar mandioca fresca para o Japão, pois ela possui veneno”, diz o japonês. “Para que chegue aqui ela precisa estar cortada, congelada ou ter passado por algum processo para eliminar todo o veneno”, segue explicando. “Como essa importação é complicada, decidi que precisava plantar a minha própria mandioca e produzir farofa”. 

Três linhas de terra – cada uma delas com 10 centros e compostas por oito plantas – deram start ao Projeto Farofa, encabeçado pela família de Hiro com o objetivo de misturar o Brasil com o Japão, soltando a imaginação em busca da farofa ideal. O plantio começou em maio deste ano e a previsão de colheita é para novembro – antes do início do inverno no Japão. O processo está sendo registrado no instagram de Hiro que, entre os amigos, começou a ser carinhosamente chamado de “Hirofa”.

Comendo com farinha

A mandioca, macaxeira ou aipim, como é conhecida em diferentes regiões do país, é a raiz mais popular do Nordeste brasileiro – a região concentra a maior cultura deste que é um dos alimentos mais consumidos no mundo. 

Todos os anos, são produzidas cerca de 20 milhões de toneladas no país – a agricultura familiar responde por mais de 85% dessa produção. Norte e Nordeste, juntos, são responsáveis por 60% da produção nacional de mandioca, segundo dados da Embrapa de 2018

Processo: o sonho da farofa própria no Japão (Foto: arquivo pessoal)

 

No Japão, a plantação costuma ser limitada a regiões localizadas próximas a comunidades brasileiras. “Também encontramos algumas plantações na parte Sul do país, como por exemplo em Kagoshima e Okinawa”, nos conta Hiro por e-mail.

No Brasil, os principais produtos da mandioca são as próprias raízes para o consumo in natura, o polvilho (no Nordeste, conhecido como goma) e, é claro, os vários tipos de farinhas – Hiro ficou encantado ao descobrir diversos tipos e marcas de farofas e a meta, agora, é provar todas as farofas existentes no mundo – além, é claro, de produzir a de sua própria autoria. 

“Quando provei farofa pela primeira vez senti que ela poderia combinar com toda e qualquer comida”, diz o agricultor, que recentemente provou açaí e agora está viciado na vitamina da fruta com banana. “Estou muito ansioso para a colheita”, empolga-se. “Finalmente vamos fabricar nosso próprio alimento e deixá-lo com um gostinho mais japonês”. 

domingo, 24 de novembro de 2024
Categorias: Reportagem

Luana Sena

Jornalista, mestra e doutoranda em comunicação na Universidade Federal da Bahia.

2 comentários

Roberto Santos · 9 de julho de 2021 às 08:24

Que história! Uau! Só espero que ele não queira patentear a nossa mandioca. ĶĶKĶKĶK ĶĶKĶKĶK

Jessica Kerollayne Lemos Chaves · 9 de julho de 2021 às 15:09

hahaha adorei

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