Regina Sousa incomoda muita gente

Quando Regina Sousa tomou posse como a governadora do Piauí, a ocasião foi celebrada durante uma cerimônia religiosa de raiz afro-brasileira. O evento tinha tom de homenagem: era a primeira vez que uma mulher negra chegava ao maior cargo político eletivo do Estado. Regina entrou de mão dadas com outras mulheres da religião, todas vestidas de branco, sorrindo por trás da máscara e trazendo palavras de esperança. Foi a primeira vez que um chefe de estado realizou essa entrada no Piauí. “Não quero deixar grandes obras, quero fazer algo que mude a vida das pessoas”, anunciava no microfone. 

Na sua fala, pouco a pouco, o tom sorridente da mulher ia sumindo enquanto falava das dificuldades de gerir sob a mira do racismo. “Não será fácil, sofri coisas horríveis no Senado, e sei que dessa vez não será diferente”, discursou. 

De fato, nem a governadora está livre do racismo no Piauí. Não demorou muito, e no litoral do estado, Mão Santa, prefeito da cidade de Parnaíba, no litoral, esbraveja xingamentos contra a cerimônia e Regina. 

Em live, Mão Santa chamou em tom pejorativo a atual governadora de “macumbeira” e disse que a gestão da mesma seria a “maior avacalhação em tudo”. “O povo tem o governo que merece”, disse na transmissão, mediada por secretários municipais que aplaudiam e festejavam enquanto o prefeito esbravejava. O vídeo chegou a ser publicado nas redes sociais, mas logo foi excluído pela assessoria do político.  

Há quase três meses ocupando o cargo, Regina ainda continua sofrendo episódios racistas e misóginos. Recentemente, o advogado Ralisson Amorim usou tom pejorativo para se referir à governadora: “tia da macumba”. O insulto veio acompanhado de uma matéria em que Regina Sousa institui o Dia dos Sacerdotes de Religiões de Matriz Africana. 

Em nota de esclarecimento, a OAB-PI repudiou a fala do profissional da classe e destacou não compactuar com a postura de advogadas e advogados que emitem falas consideradas preconceituosas e ações de intolerância religiosa. Porém, não cita se o advogado em questão retratou-se publicamente sobre o fato.  Confira a nota na íntegra aqui. 

A mensagem foi publicada no último dia 4 de julho, onde o grupo formado por mais de 250 advogados –  alguns deles ocupando cargos na diretoria e também no conselho seccional da OAB-PI e, ainda, no conselho federal do órgão, explicou a Rede de Observatórios da Segurança.

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De acordo com a Rede de Observatório da Segurança, o caso não é isolado. Desde 2016, Regina Sousa é vítima recorrente de racismo religioso. O apresentador Danilo Gentili, durante o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, chamou a governadora de “tia do café”.

“A governadora do Piauí ousou romper várias barreiras:  ser mulher, negra, de classe pobre,  que consegue chegar ao poder. Isso parece soar para muitos que se nutrem e apregoam o ódio mascarado pelo racismo como afronta”, destaca Marcondes Brito da Costa e Maria D’Alva Macedo Ferreira, coordenadores da Rede.  “Uma mulher negra no poder não é aceita por aqueles que fazem parte da política tradicional com sobrenomes dominantes na história do estado. Aqui predomina também o machismo”, complementam.