Diariamente, às 4 horas da manhã, Jesus Ribeiro se dedica a plantar hortaliças, legumes e frutas. Com 41 anos, vive da plantação desde quando era criança – aprendeu com sua mãe, que aprendeu com a mãe dela, repassando os saberes da terra a cada geração. Durante a caminhada na agricultura, Jesus se deparava com seu maior problema: desperdício dos seus produtos. O impasse acompanhava ela e as 34 famílias da comunidade Ave Verde, localizada na zona rural de Teresina.
Até que um dia soube da existência da máquina que poderia solucionar essa perda de alimentos. Tudo aconteceu na Feira da Universidade Federal do Piauí, quando ela conheceu a startup Ecodrytec. Fundada em 2017 como startup spin-off (tipo de empresa derivada de outra organização empresarial ou acadêmica) na Ineagro/UFPI, o projeto desenvolve uma tecnologia inovadora e sustentável para desidratar alimentos. O projeto pensado e realizado pelos professores Alexandre Miranda e Adriana Galvão também tem o intuito de formar empreendedores, gerar emprego e renda para a agricultura familiar, além de diminuir o desperdício de alimentos.
A comunidade perdia mais de 20% da sua produção antes do equipamento da startup chegar. Jesus lembra que começou a levar grupos de pessoas para as capacitações. Atualmente, são capazes de produzir seus próprios alimentos, naturais e desidratados. “Hoje nos sentimos capacitados para desenvolver esse produto para o mercado”, comenta a agricultora. “A chegada do projeto dos professores foi uma ajuda para complementar nossa renda”.
O primeiro protótipo de desidratador de alimentos movido a energia solar foi criado em 2016 por Alexandre, que é professor de física da UFPI. No ano seguinte, sua companheira e professora de Artes da mesma instituição, Adriana Galvão, se tornou sócia da startup. “Comecei a contribuir fazendo a logomarca das comunidades”, lembra. “Hoje, meu doutorado é em meio ambiente, estudando a nossa tecnologia”, finaliza Adriana, ressaltando a interdisciplinaridade que o mercado oferece.
Com o desejo de dar continuidade ao projeto e ao crescimento da empresa, os professores investem do próprio bolso. O cenário melhorou quando a Ecodrytec foi contemplada entre as 26 startups piauienses para receber bolsas mensais de até 13 mil reais, durante um período de seis meses. O programa, nomeado de Startup Nordeste, resulta da parceria entre o Sebrae Nacional e o projeto Semente Negócios.
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Atualmente, a startup trabalha na implantação do Sistema Integrado para Desidratação de Alimentos movido a Energia Solar (SIDAE). Estão em operação em três comunidades da Agricultura Familiar da região de Teresina, com previsão de expansão para 10 até o final do próximo ano. Através do programa Catalisa ICT do SEBRAE, a Ecodrytec pretende colocar no mercado um desidratador solar residencial.
Startups são comumente relacionadas à inovação no mundo dos negócios. Portanto, uma startup é uma empresa em fase inicial, com base tecnológica, que costuma pensar soluções inovadoras, sem plano de negócios ou produto completamente definido – mas com algo novo para mostrar ao mercado.
Para os idealizadores do projeto, a Ecodrytec demonstra que o Piauí é potente e se destaca como um estado inovador no cenário nacional. “Acreditamos que podemos incentivar outros pesquisadores a tirar seus projetos da bancada e levar para o ambiente de incubação”, afirmam os professores.
Além de minimizar a perda dos alimentos, o projeto também visa diminuir o uso de agrotóxicos no Piauí. De acordo com o estudo realizado pela Revista Espacios, a maior parte da produção agrícola do estado do Piauí está concentrada na região Sul, acarretando um maior uso de agrotóxicos nesta região. Segundo o Ministério da Agricultura, em 2020, o Brasil aprovou um total de 493 agrotóxicos. Esse registro foi o maior já documentado pelo Ministério, que compila esses dados desde 2000.
Jesus agora torce para que mais máquinas sejam implantadas em sua comunidade. A agricultora espera que, no futuro, suas filhas possam continuar a tradição de forma mais tecnológica. Com o SIDAE foi possível registrar ganhos para os produtores de até sete vezes em relação à mesma quantidade de produto vendido fresco. “É uma alegria enorme essa tecnologia na nossa região, é uma esperança para nós”, finaliza Jesus.
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