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Grandes ideias, simples negócios

Startups recebem mais de R$5 milhões em investimentos no Piauí: 20% dos projetos são do agro

19 de maio de 2022

Edição Luana Sena

Higo Matos se formou em Administração e, durante muito tempo, trabalhou no setor público. Na empresa privada, no entanto, sua função era gerir a tecnologia para melhorar o funcionamento das empresas. Mas foi em 2017, junto com o sócio Rafael Costa, que decidiu criar um projeto tecnológico autoral. Modernizar um sistema de negócio, no entanto, parecia uma tarefa difícil.

A dupla então pensou em uma startup – empresas com base tecnológica que costumam pensar soluções inovadoras – que auxiliasse nas revendas e entrega de gás na casa dos consumidores. Higor perdeu as contas de quantas dificuldades enfrentou junto ao sócio para montar o projeto, nascido para simplificar a vida das pessoas. “A gente pensou em desistir, o que faz parte, é a realidade da maior parte das pessoas que começam do zero um empreendimento”, relembra Higo, fundador da Revgás, startup criada em Teresina com usuários, hoje, em quase todos os estados brasileiros.

Se há pouco menos de uma década o assunto era tratado com desconfiança e desconhecimento, hoje as startups dão um passo largo para o futuro. A crise econômica, os avanços tecnológicos e a pressão da concorrência na indústria têm mudado o cenário dos mercados. Com a necessidade da modernização batendo à porta, iniciativas públicas e privadas têm se aproximado cada vez mais de negócios repetíveis e escaláveis – trabalhando em condições de extrema incerteza. Em outras palavras, é um modelo de negócio que gera valor entregando o mesmo produto em escala ilimitada, sem que isso influencie no modelo de negócios. As startups têm encontrado na tecnologia uma forma de fazer essa ideia funcionar.

 

O Piauí tem mirado nisso. Foram investidos mais de R$ 5 milhões através da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapepi). Municípios mais populosos, como Teresina, Parnaíba e Picos, possuem projetos apoiados pelo programa Fomento à Inovação e Competitividade no Estado do Piauí (Inova Piauí). Também cidades como Jaicós, possui projetos de startups sendo executados graças a esses programas de apoio. 

Ciro Gonçalves Sá,  diretor de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da Fapepi, explicou que as propostas submetidas foram contratadas e a Fapepi qualificou 50 empresas nos últimos dois anos. Foram cerca de 12 projetos de inovação com risco tecnológico por meio do Tecnova e outras 20 startups por meio do Programa Centelha, ambos da Fapepi. “Os programas buscam fortalecer as empresas no mercado nacional e mundial”, diz Ciro. “A expectativa é que o sucesso de cada projeto fomentado pela Fapepi possibilite a ampliação do valor de mercado de cada empresa, na medida em que seus produtos atendam às necessidades do mercado e da sociedade de maneira geral”, completa.

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Os dados apontam que mais 20% das startups e empresas apoiadas hoje estão desenvolvendo projetos cujo tema central é o agronegócio – são projetos das instituições de educação superior, da Embrapa e de empresas privadas que estão relacionados, principalmente, à produção ou comercialização de alimentos. A intenção é elevar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do estado, apostando no agro como aliado na adoção de inovações tecnológicas para o desenvolvimento.

 

Desde 2020, com a aprovação da Lei de Inovação, o estado precisa buscar estabelecer medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo. “Cada vez mais os governantes no Brasil estão convencidos de que o apoio ao empreendedorismo é uma forma importante de fortalecer a economia e criar soluções necessárias para a sociedade”, explica Ciro. “O empreendedorismo inovador permite que as boas ideias cheguem até a população de forma a preencher uma necessidade de mercado”, observa. “Esse é um dos principais focos das startups”.

O Brasil, por exemplo, possui um ecossistema de inovação considerado um dos mais robusto da América Latina, e chegou a esse patamar em menos de 20 anos. Apesar da satisfatória presença de comunidades de empreendedorismo tecnológico no território brasileiro, a maior parte está no Sul e no Sudeste do país. No Nordeste, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), há pelo menos 1.700 startups, concentradas principalmente no Ceará, Pernambuco e Bahia. 

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Os avanços, em um curto período de tempo, tem impressionado não apenas a presença de criações de startups, mas pelo estímulo à pesquisa, hubs de fomento ao empreendedorismo, incubadoras, aceleradoras, espaços de coworking, instituições de capacitação, redes de investidores e fundos. Outro fator que impressiona é a qualidade e capacidade de impulsionar o desenvolvimento. O impacto já é sentido em outras áreas da sociedade, por meio das tecnologias escalonáveis, como saúde, educação, mobilidade urbana, saneamento básico e inteligência tributária. 

 

Investir para expandir

Danilo Picucci,  diretor da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) –  fundada em 2011 por empreendedores de diversas regiões do país para dar suporte e visibilidade a negócios com bases tecnológicas em regiões emergentes do país, listou que dificuldades como Integração do ecossistema empreendedor, união entre os empreendedores e investimentos privados podem fortalecer os ecossistemas no Piauí – como também no Nordeste. 

Em Teresina, além dos primeiros negócios no ramo, destaca-se o surgimento de lugares como o The Hub – um espaço de inovação, que congrega organizações, empreendedores, espaço de coworking, além de executar ações para melhorar e fazer crescer o ambiente empreendedor na área tecnológica. Nesses ambientes férteis os projetos têm maior facilidade para crescer, tanto pelo vasto networking, quanto pelo suporte para a aceleração dos projetos. “Quem hoje no Piauí está fazendo o ecossistema melhorar?”, pergunta o diretor. “Sebrae, Federação das Indústrias, governo do estado, prefeituras, universidades, espaços físicos privados. Esses players têm que estar todos integrados”, ensina.

A disposição para investimentos em startups também é um dos caminhos possíveis para fortalecer o ecossistema local.  O investimento pode “acelerar” o crescimento de pequenas empresas tecnológicas que já existem. “Há muitos investidores hoje e o Piauí pode atrair essas pessoas para captar investimento”, indica Danilo. Mas, para isso, é necessário formar empreendedores dispostos a ingressarem no ecossistema, fazendo a ponte entre pessoas que já fazem investimentos – na agropecuária, na agricultura, na bolsa de valores, etc – mas desconhecem a oportunidade de negócios em tecnologia. 

Um ecossistema para elas

Mais de 24 milhões de empreendedoras são mulheres no Brasil, aponta o Sebrae. Mas, quando falamos de startups, apenas 4,7% delas são lideradas por mulheres, segundo o Female Founders Report 2021. A busca por investimentos e a desvalorização sentidas no mundo corporativo acabam se repetindo quando o assunto são líderes femininas no universo de startups. 

 

No Brasil, as empresas fundadas só por mulheres receberam no ano passado 0,04% do total de U$3,5 bilhões de investimentos em empresas aqui no país. Durante o mesmo período, em 2021, o valor médio dos aportes em startups fundadas por homens subiu, mas caiu entre as fundadoras mulheres. A captação de recursos externos também é difícil, revelando um ecossistema majoritariamente masculino. 

Por outro lado, em relação ao faturamento, os negócios geridos por mulheres têm sido os que mais apresentaram resultados. Segundo a pesquisa da The Boston Consulting Group (BCG), para cada dólar de financiamento, as startups com mulheres fundadoras geraram 78 centavos, enquanto as fundadas por homens renderam menos da metade disso – 31 centavos.

Leia mais: Ecossistema de startups cresce no Piauí e tem primeira embaixadora mulher

No Piauí, Lívia Saraiva, a head de inovação do The Hub, foi escolhida a embaixadora do estado pela ABstartup. Anualmente, é realizada a Conferência de Startup e Empreendedorismo – o Case, que congrega empreendedores e entusiastas da área em todo o Brasil. Na ocasião, o Programa de Embaixadores, orquestrado pela área de comunidades que Danilo dirige, elege um líder de cada estado ou região para ser o representante. Em 2021, Lívia foi a primeira mulher a representar o estado.  “Muito orgulho em representar os atores do nosso ecossistema de inovação local”, disse na ocasião. “Sempre será um orgulho representar o empreendedorismo do Piauí”. 

 

Lívia Saraiva, embaixadora Piauí na ABstartups (Foto: reprodução do instagram)

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