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E eu não sou uma doutora?*

Advogadas são vítimas de violência racial e de gênero em grupo da OAB-PI; homem ofendeu e ameaçou mulheres e caso foi à polícia

25 de agosto de 2022
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Edição Luana Sena

A noite do último domingo (21) foi marcada por mais um crime de violência de gênero, envolvendo um advogado da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Piauí (OAB-PI). Francisco da Silva Filho compartilhou mensagens de áudio com ameaças e ofensas graves por meio do grupo “OAB-PI 2”, no WhatsApp, do qual mais de 200 advogados e advogadas fazem parte. As vítimas prestaram boletim de ocorrência na segunda-feira (22), um dia após o ocorrido.

O oestadodopiaiu.com teve acesso às mensagens enviadas pelo agressor e conversou com Ravena Mendes, mulher negra e principal vítima dos crimes de ameaça, injúria e difamação. Ela relata que as agressões iniciaram às 22h45 do domingo e foram até a madrugada de segunda-feira. “Ele proferiu graves ameaças contra mim, utilizando palavras com bastante cunho sexual e de apologia ao estupro, ofensas raciais e de gênero”, afirma Ravena.

 

Mulheres registram Boletim de Ocorrência (Foto: arquivo pessoal)

 

Não é a primeira vez que membros da OAB-PI se envolvem em escândalos e comentem atos de violência. Este ano, outro advogado da ordem se referiu de maneira pejorativa à governadora Regina Sousa ao chamá-la de “tia da macumba”.

Leia mais: Em grupo da OAB-PI, advogado se refere à governadora como “tia da macumba”

Em meio aos ataques contra Ravena, as advogadas Blenda Cunha, Júlia Maria Araújo e Francisca Patrícia de Alencar interviram, advertindo Francisco da Silva para que cessasse suas falas, o que não foi atendido. Blenda relata que, ao defender a colega de profissão, também virou alvo das agressões. 

Manifestação realizada ontem na OAB-Piauí (Foto: arquivo pessoal)

As vítimas sofreram ainda uma tentativa de silenciamento. Uma das administradoras do grupo, sobrinha do agressor, impediu que os demais integrantes compartilhassem mensagens, de acordo com Blenda Cunha. “Somos advogadas, lutamos em defesa dos direitos da sociedade”, disse. “Mas, ao lutarmos em nossa defesa, nos sentimos de mão atadas”.

Notas e posicionamentos

As denúncias foram encaminhadas ao Conselho Federal da OAB, na tentativa de que Francisco da Silva seja punido legalmente e de maneira eficaz. Uma das vítimas relatou que, pelo fato de o agressor fazer parte da OAB-PI e ser casado com a atual vice-presidente da entidade, Daniela Freitas, o grupo teve receio de que a situação não fosse solucionada por meio da seccional.

O advogado foi afastado do cargo na Comissão Nacional de Defesa das Prerrogativas e Valorização da Advocacia, que ocupava na Seccional Piauí.

A Associação Piauiense da Advocacia publicou uma nota repudiando os atos ofensivos e criminosos com cunho discriminatório de gênero. “O episódio […] revela as dificuldades que as mulheres enfrentam no desempenho das suas funções profissionais, no pleno direito de sua cidadania e da sua liberdade”. 

No último dia 22, a OAB-PI publicou uma nota de esclarecimento determinando a “apuração da utilização indevida de símbolos e nomenclaturas privativos” da ordem. “Os fatos não ocorreram em ambientes virtuais institucionais da OAB-PI e nem em razão dela”, afirma o texto. As advogadas ouvidas pela reportagem alegaram que o posicionamento da entidade culpabiliza as vítimas e isenta o agressor. “Foi nota de esclarecimento, e não de repúdio”, observou Blenda.

 

*E eu não sou uma mulher?  foi o primeiro livro publicado pela escritora negra e ativista bell hooks. Tornou-se um clássico da teoria feminista e trata de questões relacionadas a construção de um mundo sem opressão sexista e racial.

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